sexta-feira, 4 de outubro de 2024

4 de outubro - Dia de São Francisco de Assis


São Francisco de Assis-1182-1226

Fundou a Ordem dos Franciscanos
a Ordem dos Capuchinhos
e a Ordem dos Franciscanos Conventuais
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No dia 4 de outubro celebramos São Francisco de Assis, que nasceu na cidade de Assis, na Itália, em 1181 (ou 1182). Filho de um rico comerciante de tecidos, Francisco tirou todos os proveitos de sua condição social vivendo entre os amigos boêmios.

Tentou, como o pai, seguir a carreira de comerciante, mas a tentativa foi em vão.

Sonhou então, com as honras militares. Aos vinte anos alistou-se no exército de Gualtieri de Brienne que combatia pelo papa, mas em Spoleto teve um sonho revelador: Foi convidado a trabalhar para "o Patrão e não para o servo".

Suas revelações não parariam por aí. Em Assis, o santo dedicou-se ao serviço de doentes e pobres. Um dia do outono de 1205, enquanto rezava na igrejinha de São Damião, ouviu a imagem de Cristo lhe dizer: "Francisco, restaura minha casa decadente".


O chamado, ainda pouco claro para São Francisco, foi tomado no sentido literal e o santo vendeu as mercadorias da loja do pai para restaurar a igrejinha. Como resultado, o pai de São Francisco, indignado com o ocorrido, deserdou-o.

Com a renúncia definitiva aos bens materiais paternos, São Francisco deu início à sua vida religiosa, "unindo-se à Irmã Pobreza".


A Ordem dos Frades Menores teve início com a autorização do papa Inocêncio III e Francisco e onze companheiros tornaram-se pregadores itinerantes, levando Cristo ao povo com simplicidade e humildade.


O trabalho foi tão bem realizado que, por toda Itália, os irmãos chamavam o povo à fé e à penitência. A sede da Ordem, localizada na capela de Porciúncula de Santa Maria dos Anjos, próxima a Assis, estava superlotada de candidatos ao sacerdócio. Para suprir a necessidade do espaço, foi aberto outro convento em Bolonha.

Um fato interessante entre os pregadores itinerantes foi que poucos, dentre eles, tomaram as ordens sacras. São Francisco de Assis, por exemplo, nunca foi sacerdote.

Em 1212, São Francisco fundou com sua fiel amiga Santa Clara, a Ordem das Damas Pobres ou Clarissas. Já em 1217, o movimento franciscano começou a se desenvolver como uma ordem religiosa. E como já havia ocorrido anteriormente, o número de membros era tão grande que foi necessária a criação de províncias que se encaminharam por toda a Itália e para fora dela, chegando inclusive à Inglaterra.


Sua devoção a Deus não se resumiria em sacrifícios, mas também em dores e chagas. Enquanto pregava no Monte Alverne, nos Apeninos, em 1224, apareceram-lhe no corpo as cinco chagas de Cristo, no fenômeno denominado "estigmatização".

Os estigmas não só lhe apareceram no corpo, como foram sua grande fonte de fraqueza física e, dois anos após o fenômeno, São Francisco de Assis foi chamado ao Reino dos Céus.

Autor do Cântico do Irmão Sol, considerado um poeta e amante da natureza, São Francisco foi canonizado dois anos após sua morte.



Em 1939, o papa Pio XII tributou um reconhecimento oficial ao "mais italiano dos santos e mais santo dos italianos", proclamando-o padroeiro da Itália.

PORMENORES

Juventude e conversão

São Francisco era filho do comerciante italiano Pietro di Bernadone dei Moriconi e sua esposa Pica Bourlemont, cuja família tinha raízes francesas.

Os pais de Francisco faziam parte da burguesia da cidade de Assis, e graças a negócios bem sucedidos na Provença, França, conquistaram riqueza e bem estar. Na ausência do pai, em viagem à França, sua mãe o batizou com o nome de Giovanni (João, em português, a partir do profeta São João Batista) na igreja construída em homenagem ao padroeiro da cidade, o mártir Rufino.

A origem de seu nome Francesco (Francisco) é incerta. Para uns, depois de uma viagem à França, onde o menino teria ficado cativado pela vida francesa, sua música, sua poesia e seu povo, seu pai teria começado a chamá-lo de "francesco", que significa "francês" em italiano. 

Para outros seu pai teria feito, em vez, uma homenagem ao país natal de sua esposa, embora não haja provas de sua naturalidade francesa. 



Também foi sugerido que o nome foi dado por seu gosto pela língua francesa, que perdurou por toda a vida de Francisco e era em sua época a linguagem por excelência da literatura cavaleiresca e da expressão amorosa.

O menino cresceu e se tornou um jovem popular entre seus amigos, por sua indisciplina e extravagâncias, por sua paixão pelas aventuras, pelas roupas da moda e pela bebida, e por sua liberalidade com o dinheiro, mas mostrava uma índole bondosa.
Era nessa época fascinado pelas histórias de cavalaria, e desejava ganhar fama como um herói.
Assim, em 1202 alistou-se como soldado na guerra que Assis desenvolvia contra Peruggia, mas foi capturado e permaneceu preso, à espera de um resgate, por cerca de um ano.

Ao ser libertado caiu doente, com episódios de febre que duraram quase todo o ano de 1204. Ali se apresentaram as duas afecções que o acompanharam por toda a sua vida: problemas de visão e no aparelho digestivo.

 Depois de recuperado tentou novamente a carreira das armas, engajou-se em 1205 no exército papal que lutava contra Frederico II, incentivado por um sonho que tivera.
Nele apareceu-lhe alguém chamando-o pelo nome e levando-o a um rico palácio, onde vivia uma linda donzela, e que estava cheio de armas resplandecentes e outros apetrechos de guerra. Indagando de quem eram essas armas esplêndidas e o palácio magnífico, foi-lhe respondido que tudo aquilo era seu e de seus soldados.

 Animado com a perspectiva de glória, pôs-se a caminho, mas no trajeto teve outro sonho, ou uma visão, onde ouviu, segundo a versão da Legenda trium sociorum, uma voz a dizer:

Quem te pode ser de mais proveito? O senhor ou o servo?

Como Francisco respondesse:

 0 senhor, ouviu novamente a voz: Então por que deixas o senhor pelo servo e o príncipe pelo vassalo?

Confundido, Francisco disse:
 Que queres que eu faça?

 e a voz replicou: Volta para tua terra, e te será dito o que haverás de fazer. Pois deves entender de outro modo a visão que tiveste.

Poucos dias depois, já em Assis, durante uma algazarra com seus amigos, teria sido tocado pela presença divina, e desde então, segundo a Legenda, começou a perder o interesse por seus antigos hábitos de vida e mostrar preocupação pelos necessitados.

Eleito "rei da juventude" em um festejo folclórico tradicional, em vez de preparar-se para a entrada em uma vida de casado, como seria o costume, retirou-se, conforme relatou seu primeiro biógrafo Tomás de Celano, para uma caverna a fim de meditar, acompanhado de apenas um amigo fiel, para quem revelou suas preocupações e seu desejo de obter o tesouro da sabedoria e de desposar a vida religiosa.

Mas ainda era um período de hesitação.

Quando tinha arroubos de devoção e os expressava publicamente, era ridicularizado; tinha pesadelos com uma horrível mulher corcunda, e imaginava que esta era a imagem de sua futura vida de pobreza.

 Certo dia saiu em um passeio pelos campos nos arredores, e ao penetrar em uma clareira ouviu o som do sino que os leprosos, proscritos pela sociedade, deviam usar para indicar a sua aproximação, e logo se viu frente a frente com o homem doente.

Fazia frio e o leproso tinha apenas trapos sobre o corpo. Francisco sempre sentira repulsa dos leprosos, mas nesse momento desceu de seu cavalo e cobriu o homem com seu próprio manto.

 Espantado consigo mesmo, olhou nos olhos do outro, e viu sua gratidão, e enquanto ele mesmo chorava, beijou aquele rosto deformado pela moléstia.

Este parece ter sido o ponto de virada em sua vida, mas sua vocação não se declarou toda subitamente, e a cronologia desses e outros episódios preparatórios para sua conversão não é clara nas fontes antigas.

Também parece ter tentado seguir o ofício de seu pai, mas sem conseguir devotar-se a ele. Ao contrário, estava cada vez mais interessado em ajudar os pobres.


Jesus na Cruz de São Damião fala com Francisco



Mas certa feita entrou para orar na igreja de São Damião, fora das portas da cidade, e ali, diz a tradição, ele ouviu pela primeira vez a voz de Cristo, que lhe falou de um crucifixo.

A voz chamou a sua atenção para o estado de ruína de sua Igreja, e instou para que Francisco a reconstruísse.


Imediatamente voltou para sua casa, recolheu diversos tecidos caros da loja de seu pai e os vendeu a baixo preço no mercado da cidade, e voltou para a igreja onde tivera sua revelação doando o dinheiro para o padre, a fim de que ele restaurasse o prédio decadente.
Ao saber disso o pai se enfureceu e mandou que o buscassem. Atemorizado, Francisco se escondeu em um celeiro, onde seu amigo lhe levava um pouco de comida.

 Passado algum tempo, decidiu revelar-se, e diante do povo de Assis se acusou de preguiçoso e desocupado. A multidão o tomou por louco e divertiu-se apedrejando-o. O pai ouviu o tumulto e o recolheu para sua casa, mas o acorrentou no porão.

Alguns dias depois sua mãe, por compaixão, livrou-o das correntes, e Francisco foi buscar refúgio junto ao bispo.

O pai seguiu-o e o acusou de dissipador de sua fortuna, reclamando uma compensação pelo que ele havia tirado sem licença de sua loja. 

Então, para a surpresa de todos, Francisco despiu todas as suas belas roupas e as colocou aos pés do pai, renunciou à sua herança, pediu a bênção do bispo e partiu, completamente nu, para iniciar uma vida de pobreza junto do povo, da qual jamais retornou.

O bispo viu nesse gesto um sinal divino e se tornou seu protetor pelo resto da vida.

 A fundação da Ordem e primeiras obras

Francisco, tomando ao pé da letra o que o crucifixo de São Damião ordenara, iniciou sua nova vida como pedreiro, ajudando a reconstruir diversas igrejas nos arredores de Assis - esta de São Damião, a de São Pedro e a da Porciúncula, que segundo São Boaventura era a que ele mais amava.

Igreja de Santa Maria dos Anjos, A Porciúncula. 

Nela descobriu, em 1208 ou 1209, na leitura de uma passagem do Evangelho de Mateus, as linhas gerais que orientaram sua vocação:

"Ide, disse o Salvador, e proclamai em todas as partes que o Reino do Céu está aberto. Vós recebestes gratuitamente; dai sem receber pagamento. 

Não leveis nem ouro, nem prata nem cobre em vossos cintos, nem um alforje, nem uma segunda túnica, nem sandálias, nem o cajado de viajante, pois o trabalhador merece ser sustentado. 

Em qualquer vila em que entrardes procurai alguma pessoa digna, e hospedai-vos com ela até partirdes. 

E quando entrardes em uma casa, saudai-a; se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; mas, se não for digna, torne para vós a vossa paz."

Dessa forma, de devoto passou a ser missionário, e começou a pregação da palavra divina, fazendo seus primeiros conversos, entre eles Bernardo de Quintavalle, um rico burguês de Assis, que vendeu tudo o que tinha para dar aos pobres, Pietro Cattani, que foi mais tarde seu sucessor na Ordem, e o Irmão Giles.



 Nesse período inicial, segundo Celano, teve uma revelação do futuro brilhante de sua Ordem, e ao mesmo tempo das provações que estavam pela frente. Diz o cronista:
"No começo desta nossa vida vamos encontrar alguns frutos doces e deliciosos. Depois serão oferecidos outros de menor sabor e doçura. 

No fim, serão dados alguns cheios de amargor, de que não poderemos viver, porque sua acidez será intragável para todos, apesar da aparência de frutos belos e cheirosos. Entretanto, como vos disse, o Senhor fará de nós um grande povo"



São Francisco e os companheiros diante do Papa em Roma



Tendo reunido mais um grupo de seguidores, dirigiu-se para Roma a fim de obter do papa a autorização da primeira Regra para a fundação de sua Ordem, a chamada Regra primitiva, que prescrevia uma pobreza absoluta para os monges e para a Ordem, em imitação literal da vida de Jesus Cristo e seus apóstolos conforme narrada nos Evangelhos, que não possuíam nada pessoalmente nem em comum. 

Segundo o cronista inglês Matthew Paris, lá chegando, sujos e vestidos pobremente, foram ridicularizados pela corte de Inocêncio III, que mandou não aborrecê-lo com sua Regra, considerada excessivamente rigorosa e impraticável, e que fosse pregar entre os porcos. 



Tendo-o feito num chiqueiro próximo, coberto de lama voltou para o papa, que refletindo um momento, decidiu recebê-los em uma audiência formal depois que se lavassem. 



Francisco e seus amigos se prepararam então para esse outro encontro conseguindo o apoio de prelados eminentes para a sua causa. 



Segundo os relatos antigos, nesse ínterim Inocêncio teve um sonho, onde viu a Basílica de São João de Latrão prestes a desabar, apenas sustentada por um pobre religioso, que ele interpretou como sendo Francisco. 



Com a recomendação favorável de alguns conselheiros e com o aviso recebido em sonho, Inocêncio finalmente autorizou a Regra, mas não por escrito, nem outorgou o estatuto de Ordem maior ao grupo, apenas permitiu que pregassem e dessem socorro moral às pessoas, mas acrescentando que se eles conseguissem frutos de seu trabalho, voltassem a ele para que sua situação fosse completamente regularizada. 



Crises dos amigos de Francisco e sua pregação

Alguns relatos antigos, como o deixado por Roger de Wendover, sugerem que Francisco e seus companheiros não ficaram completamente satisfeitos com o resultado de seu encontro com o papa, e em seu caminho de volta, ao pararem em Spoleto, parece ter havido uma crise entre o grupo. 

Alguns teriam se inclinado a abandonar a pregação para viverem como monges eremitas, desiludidos com a ostentação de luxo da corte papal. 

Também nessa ocasião parece ter ocorrido o célebre Sermão aos pássaros, mas os cronistas divergem na sua descrição. Para Wendover ele foi a manifestação da revolta de Francisco, que teria mandado as aves devorarem os poderosos, mas os que seguem a versão de Celano o referem como um idílio cheio de poesia e doçura.

Chegando em Assis, instalaram-se em uma cabana no campo, onde se dedicaram ao cuidado dos leprosos, ao trabalho manual e à pregação, vivendo de esmolas. 



Logo a cabana se tornou pequena para o crescente número de irmãos, mas o abade do mosteiro beneditino do Monte Subásio lhes concedeu em fins de 1210 o uso da capela da Porciúncula e de uma terra adjacente. 



Entre os novos amigos de Francisco estavam o Irmão Leo, seu futuro confessor e amigo inseparável, o Irmão Ruffino, que segundo a lenda pregava até dormindo, o Irmão Juniper, o Irmão Masseo e o Irmão Illuminato. 



Nesse período sua pregação já alcançara toda a região entorno, mas não eram sempre bem recebidos. 



Santa Clara, seguidora de Francisco, fundadora das Clarissas



Em 1212 a Ordem foi enriquecida com a primeira mulher, Clara d'Offreducci, a futura Santa Clara, fundadora do ramo feminino dos Frades Menores, as Clarissas, que logo trouxe suas irmãs, a quem foi dado o uso da capela de São Damião.




Pregação e milagres


No mesmo ano fizeram sua primeira tentativa, frustrada, de evangelizar os sarracenos na Síria, mas não conseguiram chegar ao seu destino e acabaram voltando a Assis com grande dificuldade. 



Durante a viagem de navio, conta a tradição que o santo fez o milagre de pacificar uma tempestade e de multiplicar a comida dos marinheiros, que terminava.



 Nessa época seus milagres foram numerosos. Em Ascoli curou enfermos e fez muitas conversões, em Arezzo os arreios de um cavalo que ele havia tocado curaram uma mãe em perigoso trabalho de parto, em Narni curou um paralítico, em San Gimignano expulsou demônios, e em Gubbio pacificou um lobo que assolava a região, entre muitos outros prodígios. 



Sua fama como santo já se espalhava, e recebeu em doação o monte Alverne para que erguesse ali um refúgio para os irmãos. 



Em 1214 se dirigiu para o Marrocos para pregar entre os mouros, mas só pôde chegar à Espanha, onde caiu doente, mas outros irmãos prosseguiram.



 Em 1219, durante a Primeira Cruzada, foi ao Egito, encontrou-se com os cruzados que assediavam Damietta, profetizando sua derrota, em seguida manteve uma entrevista com o sultão Al-Kamil que, impressionado, ao fim da visita pediu que Francisco orasse para que Deus lhe mostrasse a forma de cultuá-lo que fosse de seu agrado e permitiu que pregasse entre seus súditos.

 Dali passou para a Palestina, peregrinando pelos lugares santos, onde recebeu a notícia de que os irmãos no Marrocos haviam sido martirizados, e que a comunidade em Assis, na sua longa ausência, estava em crise.

 Crise e Reforma da Ordem

Voltou à Itália e passou por Roma a fim de obter ajuda do papa. 



Quando chegou em Assis viu que seus ideais haviam sido abandonados e reinava grande confusão entre os irmãos. 



Alguns se haviam tornado vagabundos e se associavam com mulheres, outros queriam erguer igrejas suntuosas, abandonar o rigorismo da Regra inicial, dedicar-se aos estudos eruditos, e pediam favores e privilégios para o papa. 



Ao mesmo tempo, a liberdade de pensamento outorgada pela Regra primitiva, que permitia o questionamento de preceitos e ordens percebidos como contrários à consciência, havia degenerado em disputas constantes de opinião entre os irmãos e em desobediência. 



Pelo menos em um caso a reação de Francisco foi violenta. 

Em Bolonha, onde o Irmão João fundara um colégio, expulsou todos de lá, inclusive os doentes. 



Depois teve de aceitar, com a intervenção papal, várias mudanças importantes. 

Foi estabelecido o período probatório de um ano para novos candidatos, um representante do papa foi indicado governador e corregedor da Ordem, e Francisco passou a administração da comunidade para o Irmão Pietro Cattani, logo substituído pelo Irmão Elias, enquanto que Francisco permanecia apenas como guia espiritual.


Elaboração de nova Regra para a Ordem

 Foi criada a Ordem Terceira para os irmãos leigos, foi autorizado o estudo avançado de teologia, e  Francisco elaborou uma Segunda regra, em 1221, tentando torná-la o mais clara e inequívoca possível. 

Ainda assim a Segunda regra, também chamada Regra não bulada, se revelou ineficaz para a solução da crise, era em essência a mesma, e foi solicitada nova revisão para Francisco, auxiliado pelos irmãos Leo e Bonizzo.

 Segundo o relato do Speculum perfectionis, prevendo que Francisco não cederia em muito, o Irmão Elias, acompanhado de outros, foi ao encontro de Francisco e solicitou um abrandamento no texto, e nesse momento todos teriam ouvido a voz de Cristo dizendo que desejava preservar a pureza do conteúdo dos Evangelhos e que quem não se conformasse deixasse a Ordem.

Ficando pronto em 1223, aparentemente com poucas modificações novas, o novo texto foi enviado para Roma para aprovação papal, mas recebeu ainda muitos outros ajustes e cortes do cardeal Ugolino e finalmente foi confirmado pelo papa Honório III, na bula Solet annuere, de 29 de novembro de 1223, e por isso é chamada de a Regra bulada. 



O texto da Regra primitiva resultou ainda mais profundamente alterado; a maioria das citações do Evangelho e as passagens poéticas foram removidas e substituídas por fórmulas legais.



 O artigo que autorizava a desobediência de superiores indignos foi excluído, assim como os que prescreviam o cuidado dos leprosos, junto com todas as obrigações de pobreza absoluta. 



Já não se insistia no trabalho manual e se permitiu que os irmãos usassem quaisquer livros, que naquela época eram raros artigos de luxo.
Impostas pela hierarquia eclesiástica romana e pela pressão de parte de seus próprios companheiros, essas mudanças pouco refletiam o espírito original franciscano, mas foram inevitáveis diante da tensão entre um grupo que crescia, se diversificava e estava prestes a perder sua unidade, e a necessidade de mantê-lo funcional e organizado. 


Mas expressavam ainda o conflito aberto entre a hierarquia espiritual e a institucional. 


Francisco via a si mesmo como o mensageiro de um mandado divino, crendo que sua Regra não podia ser alterada sem traição a Cristo que o inspirava e que era a autoridade suprema a ser considerada, a quem o próprio papa devia subordinação, mas parece não ter compreendido que Cristo não falava ao papa nem aos monges, somente ele ouvia sua voz, e assim inevitavelmente sua credibilidade e a propriedade de sua intransigência eram postas em dúvida.



 Segundo os relatos a Regra bulada só foi aceita por Francisco por força da obediência que devia ao papa como líder da Igreja, da qual jamais quis afastar-se, mas submeteu-se, com grande pesar, e os seus primeiros biógrafos referem este período como o da sua "grande tentação", a de abandonar todo o trabalho. 



Por fim aceitou o fato consumado, e entregando os frutos para Deus, pacificou-se.

 Anos finais e morte

Seus anos finais foram passados em tranquilidade interior, quando segundo seus biógrafos primitivos seu amor e compaixão por todas as criaturas fluíam abundantes, ao mesmo tempo em que ele experimentava repetidas visões e êxtases místicos, fazia outros milagres, continuava a percorrer a região em pregações, e multidões acorriam para vê-lo e tocá-lo. 



No Natal de 1223 foi convidado pelo senhor de Greccio para celebrar a festa numa gruta com pastores e animais, desejando recriar o nascimento de Cristo em Belém, sendo a origem da tradição dos presépios. 



Na primavera seguinte viajou para a Porciúncula a fim de assistir a reunião do Capítulo Geral, e em seguida retirou-se para o santuário do Monte Alverne, acompanhado dos irmãos Leo, Ruffino, Angelo, Silvestre, Illuminato, Masseo e talvez também Bonizzo. Muitas vezes os deixava e se embrenhava nas matas, a fim de meditar solitário, levando consigo apenas os Evangelhos e comendo muito pouco.



 Às vezes o Irmão Leo, em segredo, o observava, e por mais de uma vez testemunhou seus êxtases e viu parte das visões que o santo via. 



Nos estados contemplativos eram-lhe reveladas por Deus não somente coisas do presente, mais também do futuro, assim como lhe fazia conhecer as dúvidas, os secretos desejos e os pensamentos dos irmãos. 



Numa dessas ocasiões, segundo relata a coletânea I Fioretti di San Francesco, o Irmão Leo o viu levar a mão ao peito e parecer tirar algo de lá e oferecer a uma língua de fogo que descera sobre ele. 



Perguntando depois o que sucedera, Francisco respondeu:

"Por que vieste aqui, irmão cordeirinho? Diz-me: viste ou ouviste alguma coisa?

"Leo respondeu:


 Pai, ouvi-te falar e repetir várias vezes: 

'Quem és Tu? 

Quem és Tu, oh dulcíssimo Deus? 

E eu quem sou, verme desprezível e teu inútil servo?'

"Ao que Francisco disse: 

Sabe, irmão cordeirinho de Jesus Cristo, que, enquanto eu dizia aquelas palavras que ouviste, eram nesse momento mostradas à minha alma duas luzes, uma a da revelação e do conhecimento do Criador, a outra a do conhecimento de mim mesmo. 



Quando eu dizia 'Quem és Tu, oh meu dulcíssimo Deus?', estava numa luz de contemplação na qual via o abismo de infinita bondade, sabedoria e poder de Deus; 



e quando dizia 'Que sou eu, etc.', estava numa luz de contemplação na qual via a profundidade lamentável da minha abjeção e miséria, e era por isso que indagava do Senhor da infinita bondade o mistério de Ele dignar-Se a visitar-me, a mim que não sou mais que um verme desprezível e inútil. 



E entre outras coisas que Ele me disse, pediu-me que Lhe fizesse três dádivas, e eu respondi-Lhe: 



'Meu Senhor, sou Teu, e bem sabes que nada tenho além da túnica, da corda e das bragas, e estas três coisas também são Tuas. 

Que posso pois oferecer ou dar à Tua majestade?' 



Então Deus disse-me: 
'Procura no teu íntimo e oferece-me o que lá encontrares.' 

Eu procurei e encontrei lá uma bola de ouro e ofereci-a a Deus; e fiz isso três vezes, pois três vezes Deus mo ordenou; 

depois ajoelhei três vezes e bendisse e agradeci a Deus que me dera alguma coisa para eu Lhe oferecer. 

E logo me foi dado compreender que essas três oferendas significavam a santa obediência, a extrema pobreza e a belíssima castidade que Deus, por Sua graça, me concedeu observar tão perfeitamente. 

E como Deus depositara no meu íntimo aquelas três bolas de ouro, assim também deu à minha alma essa virtude de sempre O louvar e enaltecer, com o coração e a boca, por todos os bens e por todas as graças que Ele me concedeu, por Sua santíssima bondade."


Estigmatização de Francisco

Durante uma dessas meditações, em 14 de setembro de 1224, no dia da festa da Exaltação da Cruz, Francisco viu a figura de um homem com seis asas, semelhante a um serafim, e pregado a uma cruz, e à medida que continuava na contemplação, que lhe dava imensa felicidade mas era sombreada de tristeza, sentiu se abrirem em seu corpo as feridas que o tornaram uma imitação do próprio Cristo crucificado. 



Foi, dessa forma, o primeiro cristão a ser estigmatizado, mas enquanto isso lhe trazia alegria, sendo um sinal do favor divino, foi-lhe motivo de muito embaraço e sofrimento físico. 





Sempre tentou ocultar os estigmas com faixas e seu hábito, e poucos irmãos os viram enquanto ele viveu. 



Mas eles lhe causavam muita dor e com isso dificultavam seus movimentos, além de sangrarem com frequência. 



Muitas vezes teve de ser carregado por não poder andar, ou teve de viajar sobre uma mula, o que não era permitido aos irmãos por ser um luxo. 



Também padeceu de outras enfermidades, ficou quase cego, e as suas dores de cabeça eram terríveis, mas apesar de receber ordem de procurar tratamento, os médicos nada puderam fazer para aliviá-lo. 



Passou algum tempo sob os cuidados de Clara, e ali deve ter composto, em 1225, seu Cântico ao irmão Sol, mas sua condição se deteriorava diariamente, e ditou seu Testamento. 


Melhorou então, e viajou para um eremitério perto de Cortona, mas ali piorou novamente, e foi levado para Assis, hospedando-se na casa do bispo em meados de 1226. 



Pouco depois, pediu para ser levado à Porciúncula, para que pudesse morrer entre os irmãos.



Sentindo a morte próxima, solicitou a uma amiga romana, a nobre Jacopa de' Settesoli, que trouxesse o necessário para seu sepultamento, e também alguma comida bem preparada, que ele havia provado em sua residência em Roma e que deveria aliviar seu sofrimento.



Foi despedir-se de Clara e das irmãs em São Damião e voltou à Porciúncula, deu instruções para ser sepultado nu, e no por do sol de 3 de outubro de 1226, depois de ler algumas passagens do Evangelho, faleceu rodeado de seus companheiros, nobres amigos e outras personalidades.





 As fontes antigas dizem que nesse momento um bando de aves veio pousar no telhado e cantou.



Logo em seguida o Irmão Elias notificou a todos de seu desaparecimento e divulgou sua estigmatização, até ali mantida em sigilo, seu corpo foi examinado por muitas testemunhas a fim de comprová-lo, e o povo de Assis e dos arredores acorreu para prestar-lhe sua última homenagem.



 Foi enterrado no dia seguinte na igreja de São Jorge. 

Menos de dois anos depois, o papa Gregório IX foi pessoalmente para Assis para canonizá-lo, o que aconteceu em 6 de julho de 1228 com grande pompa. 



Em 1230 foi inaugurada uma nova basílica em Assis, que recebeu seu nome e hoje guarda as suas relíquias e abriga o seu túmulo definitivo. 

tumba de são francisco em assis

A basílica foi decorada no fim do século XIII por Giotto di Bondone com uma grande série de afrescos que retratam a vida do santo.




 O legado de suas ideias e de seu exemplo de vida

A fama de santidade que granjeou em vida e perdura até os dias de hoje não decorreu de grandes manifestações de erudição religiosa, que jamais fez questão de possuir, e tampouco de seus milagres, que não obstante foram muitos e impressionantes, mas do seu exemplo de uma vida de completa dedicação ao próximo, dedicação que era animada por uma compreensão profunda, uma sinceridade espontânea, uma simplicidade autêntica em todas as coisas, qualidades banhadas de uma calorosa fraternidade, simpatia e caridade. 



Todos os seus primeiros biógrafos ressaltam esses aspectos de seu caráter, e por esses motivos sua figura é também admirada por muitos fora da esfera do Catolicismo.



 Na visão de seus contemporâneos ele era o mais perfeito seguidor de Jesus Cristo, e sua presença em qualquer cidade era sempre um acontecimento, enquanto que seus irmãos eram tidos na mais alta estima por muitos prelados importantes e autoridades civis. 



Para Jacques de Vitry, bispo de Acre, sua aparição foi o consolo de um século corrupto, e na bula Mira circa nos de sua canonização foi descrito como aquele que entrou no céu "precedendo muitos dotados de ciência, ele que deliberadamente era sem ciência e sabiamente ignorante".



A despeito das críticas a que ele é ocasionalmente submetido, que o acusam de obscurecer a figura do próprio Jesus, e das dúvidas que às vezes surgem sobre sua sanidade mental em vista de seu caráter emocional arrebatado, suas oscilações entre extremos de intensa euforia quando falava de Deus e de profunda tristeza quando observava suas supostas fraquezas, por sua imaginação exuberante e pelas constantes visões e revelações que alegava ter, para Kenneth Wolf sua enorme importância histórica e espiritual se confirma na abundante literatura devocional e erudita que é continuamente produzida sobre ele nos tempos recentes, e assinala que mesmo os acadêmicos laicos, por mais distanciados que procurem se manter de uma análise emocional e adulatória de sua vida e obras, acabam com frequência por reconduzí-lo ao pedestal de onde o baixaram para seus estudos científicos.

Sua aparência

Segundo a descrição deixada por Tomás de Celano a aparência física de Francisco era extremamente agradável, e sua face refletia a inocência de sua vida, a pureza de seu coração e o ardor do fogo divino que o consumia. Era de estatura um pouco abaixo da média, cabeça proporcionada e redonda, com a face alongada e nariz reto e fino, pescoço esguio, testa plana e curta, olhos negros e límpidos, cabelos castanhos, orelhas pequenas. 


Sua voz era forte, doce, clara e sonora; os dentes eram unidos, alinhados e brancos, os lábios pequenos e delgados, a barba era preta e um tanto rala; seus ombros eram direitos, os braços curtos, as mãos delicadas com dedos longos, as pernas delgadas, pés pequenos, pele fina e sempre muito magro.



 Sua visão de si mesmo era, porém, oposta: descrevia-se como um "franguinho preto", e o retrato pintado no Fioretti segue a mesma linha, mostrando-o como um homem miúdo de aspecto muito desprezível e vil e que por esse motivo nunca conseguia muitas esmolas entre gentes que não o conheciam.



Vulto Milagroso de São Francisco nas Aparições de Bay Side-USA

Vulto Milagroso de São Francisco nas Aparições de Bay Side-USA
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As virtudes, a disciplina e o relacionamento entre os irmãos

Sua  Pobreza, obediência e Castidade

Para Francisco a pobreza, a "Senhora Pobreza" que ele costumava dizer ter desposado, não era um objetivo, mas antes um instrumento pelo qual se podia obter a purificação necessária para a habitação de Deus no interior de cada um e para a perfeita comunhão com o semelhante, metas frente às quais todas as outras considerações eram subordinadas. 

O outro instrumento privilegiado para isso era a imitação do exemplo de vida dado por Cristo nos Evangelhos, e para tanto a obediência era fundamental. 



Cristo fora pobre, e assim os irmãos também o seriam, e ela devia ser entendida por todos os seus companheiros não só como uma disciplina de ascetismo em si, mas como fonte de verdadeira graça e alegria.




Túnica de Francisco
O hábito de São Francisco, preservado na Basílica de Assis

 Mas além da pobreza exterior, comandada expressamente na sua Regra primitiva, que proibia os monges até de andarem calçados e possuírem domicílio fixo, Francisco enfatizava a pobreza interior, entendida no despojamento de toda pretensão a aquisições intelectuais e mesmo morais e espirituais, consideradas como formas dissimuladas de obter domínio sobre os outros e como expressões de orgulho e individualismo.



Por outro lado, Wolf aponta para alguns paradoxos em suas posições sobre a pobreza, e para ele parece claro que Francisco assumiu a pobreza neste mundo para ser investido de riquezas no céu. 



Além disso, o autor sugere que seu exemplo pouco fez para mudar a mentalidade de seus contemporâneos sobre a pobreza da população em geral ou para chamar a atenção para as vantagens da pobreza como um modo de vida, e ele parece ter-se tornado involuntariamente o destinatário da maior parte das esmolas e doações na Úmbria, cujos doadores estavam possivelmente mais interessados nos ganhos secundários que deviam advir do apoio a um grande e famoso santo, deixando os outros pobres, que não haviam escolhido voluntariamente sua própria pobreza, ainda entregues à própria sorte.



 Entretanto, Voegelin considera que foi uma escolha sábia ele ter buscado imitar antes a pobreza e os sofrimentos de Cristo, ou seja, o seu lado eminentemente humano, uma vez que a tentativa de imitá-lo em sua glória teria sido impossível.



 Fez, desse modo, o que estava dentro do alcance de um homem fazer diante de um modelo ideal que em sua natureza mais íntima era excessivamente transcendental para ser transposto para o mundo da vida objetiva.



O Irmão Corpo e as mortificações


Dentro das suas práticas de austeridade era dada atenção especial ao corpo humano, a quem ele chamou de "Irmão Burrico", pois ao mesmo tempo em que ele era um inimigo e uma grande fonte de pecado, também era um instrumento para a salvação por ser o único veículo através do qual se podia levar a cabo todo o trabalho, e era ainda o campo de batalha onde se efetuava a luta espiritual, e por isso devia ser constantemente mantido sob estrita vigilância e disciplina férrea. 



Por outro lado, assim como Cristo suportara benignamente as grandes dores de sua Paixão, todas as aflições e doenças corporais deviam ser aceitas com paciência e alegria e encaradas como formas de purificação, o que incluía a resistência às urgências sexuais, preservando-se completa castidade, e aos apelos da gula e do desejo por confortos físicos.



 Mas também o corpo era visto como uma maravilha, uma das formas de expressão da bondade e da beleza de Deus, já que segundo as Escrituras o homem fora feito à imagem e semelhança da divindade, e seu corpo, depois de purificado, havia de ser o templo vivo do Deus vivo.

Como administrador da Ordem era benevolente, exuberante e caloroso no trato, almejava uma observância voluntária da Regra e quando necessário exigia a obediência, mas com doçura, persuasão e humor; era brando no apontar as faltas de seus companheiros e perspicaz ao encontrar sempre o corretivo mais proveitoso, estimulava a independência, a sinceridade e a criatividade dos irmãos, fomentava a harmonia entre todos e contraindicava grandes exercícios de ascese; 



era rigoroso sobretudo consigo mesmo, imaginando sempre novas formas de autonegação, impondo-se inúmeras mortificações e penitências por deslizes mínimos, e acusando-se repetidamente de fraqueza e indignidade e uma multidão de vícios que só ele percebia em si.



Dos leigos, que não haviam feito votos sagrados, não esperava tanta disciplina, e Francisco em vez de denunciar e condenar seus hábitos, como faziam outras Ordens, buscava que as atividades do mundo não fossem suprimidas, antes, que fossem realizadas num espírito de reverência para com o Criador de todas as coisas, o que se estendia para a atividade sexual, mas a ser realizada preferencialmente dentro do estado conjugal.





As mulheres e Santa Clara



 Apesar de prescrever aos irmãos que mantivessem distância das mulheres, não parece ter nutrido preconceitos contra elas;  a separação de sexos nas Ordens religiosas era uma praxe, assim como o celibato, dessa forma a distância era uma medida de precaução contra as tentações da carne; além disso foi um grande devoto da Virgem Maria, parece ter mantido uma relação afetiva especial para com Santa Clara, vendo nela ainda uma liderança natural e uma continuadora de sua obra, e em seus escritos, bem como nos dos seus biógrafos, abundam referências a ele e aos irmãos como mães uns dos outros, como esposas de Jesus e como gestantes do espírito de Deus, numa simbologia reversa que era comum no seu tempo e não causava surpresa.





A Hierarquia e a Fraternidade

 Entre os irmãos era proibida toda observação de hierarquia salvo para com os superiores indicados regularmente e para com o papa, mas eram obrigados a servir uns aos outros à primeira necessidade e sem questionamento, incluindo o dever de lavarem os pés uns dos outros como forma de praticar a humildade.

 Não deviam expressar críticas ou emitir julgamentos nem entre si nem dirigí-los para as outras pessoas, nem combater os heréticos, não podiam se envolver em querelas, nem devolver insultos ou agressões físicas. Ao contrário, deviam "ser meigos, pacíficos e despretensiosos, gentis e humildes, falando com todos educadamente".

 Francisco foi o primeiro na história do Cristianismo a chamar sua comunidade de fraternidade.
Depois de sua conversão alimentou sempre desconfiança contra os estudos eruditos, ele próprio recebeu em sua juventude uma educação medíocre e jamais foi ordenado sacerdote, não podendo celebrar a missa, permanecendo apenas como diácono por outorga especial de Inocêncio III, e alertou seus companheiros várias vezes para não se basearem em preceitos derivados de interpretações individuais de textos sagrados, mesmo aquelas emanadas do alto clero e dos doutores sacros. 


A Bíblia e a Regra



Considerava o texto da Bíblia impecável e inalterável, pois, de acordo com a tradição de sua época, fora ditado diretamente por Deus e não carecia assim que fosse corrigido ou parafraseado, e da mesma forma envidou esforços para que seus próprios escritos não fossem reinterpretados ou adulterados por terceiros - não obstante seus cuidados, sua Regra primitiva foi reformada várias vezes contra a sua vontade e seu Testamento, que havia sido dado como um complemento à Regra para ser lido sempre que a Regra o fosse, foi desautorizado pelo papa poucos anos depois de sua morte.



 Dessa forma, sem estudos profundos, atendo-se literalmente à palavra escrita na Bíblia e observando à risca o ritual elaborado pela Igreja constituída, sua religiosidade, segundo Raoul Manselli, se colocava absolutamente numa dimensão originária do nível popular, como se podia esperar do povo comum de seu tempo e no seu caso de um filho de mercador, ainda que ela tenha sido extraordinariamente enriquecida com sua própria e intensa experiência do fenômeno religioso e com sua intuição pessoal - ou com o auxílio das revelações que recebia - para dar-lhe sentido prático, e foi essa sua contribuição adicional a uma tradição já estabelecida que deu originalidade para o movimento que ele iniciou.
Sua insistência na pobreza total - não só individualmente, mas para a Ordem também - na simplicidade em tudo e no rigor da disciplina foi o maior foco de discórdia na consolidação interna de seu grupo, e foi vista pela comunidade laica de sua região como um elemento de subversão social; ainda em sua vida ela foi posta em xeque por seus irmãos e com ainda mais força pela alta hierarquia católica, que sentiu-se ameaçada na perspectiva de que a extrema pobreza franciscana fosse tomada como um sinal de pureza maior do que a da própria Igreja, e que isso fosse usado por aqueles que combatiam a corrupção do clero em detrimento da instituição.

 A exigência acabou por ser em muito atenuada, contra a sua vontade expressa, e menos de um século depois de seu falecimento a Ordem dos Franciscanos já era tão rica quanto as outras Ordens e muitos de seus membros haviam se tornado grandes doutores eruditos e ocupantes de importantes cargos na Igreja e nas universidades, com o resultado da perda de grande parte de seu carisma original e o surgimento de sentimentos de desilusão e cinismo em larga escala. 



Segundo a opinião de Kleinberg & Todd, a "domesticação" dos franciscanos e sua inserção definitiva no esquema monástico-clerical padrão foi um dos fatores que levaram a uma radical queda do prestígio da Igreja na Idade Média tardia, mas seu exemplo de fraternidade e de engajamento autêntico com a vida dos pobres tem presentemente um grande valor inspiracional para os teólogos da libertação em suas lutas políticas no Terceiro Mundo.

Sua pregação, exemplo e alegria

Os testemunhos de época relatam que seu estilo de pregação era direto e simples, usando o vernáculo, longe da eloquência sacra de seu tempo, mas afirmam que sua sinceridade e compreensão das dificuldades da vida popular, sua habilidade em evocar imagens ilustrativas vivazes em pequenas parábolas ou histórias retiradas de suas experiências do cotidiano entre o povo, e sua capacidade de apresentar a doutrina cristã de forma inteligível, faziam que seu discurso tivesse um efeito persuasivo profundo. 


Também fazia uso do humor e de uma atuação que tinha muito de teatral, a fim de que a mensagem se fizesse mais acessível e atraente, e usualmente solicitava permissão da autoridade religiosa local para iniciar sua fala ao povo. 



Às vezes acompanhava a pregação com o canto de hinos sacros, alguns compostos em letra e música por ele mesmo, e chamava a si e seus irmãos de "os menestréis de Deus".


Sua paciência e bondade para com todos fizeram com que fosse procurado constantemente por pessoas de todas as posições sociais que iam a ele em busca de conselho e orientação, e a todos instruía na melhor forma de alcançar a salvação na condição em que se encontravam, regozijando-se em ver que suas palavras amiúde davam frutos positivos e que os costumes se iam reformando gradualmente. 

No florido estilo de sua Vita prima Celano afirma que em virtude de sua presença e atuação em pouco tempo toda a Úmbria se havia transformado, e se tornara um lugar mais aprazível.



 Francisco desejava acima de tudo que os irmãos pregassem através do exemplo pessoal, conseguido na imitação do exemplo de Cristo, e o modelo monástico que ele implementou representa uma transição entre o monasticismo medieval enclausurado e as novas formas de vida apostólica que mais tarde se consolidaram, mais abertas para o mundo exterior e mais dedicadas ao serviço prático para com os necessitados, e fez essa reforma sem jamais ter pretendido ser um reformador.



Outra de suas contribuições foi a de enfatizar a paz, a tolerância, o respeito e a concórdia, e ele sempre teve a convicção de que os irmãos deviam ser pacificadores, o que deixou expresso em vários escritos e foi repetido por seus biógrafos. 



Mesmo nas missões que enviou para entre os muçulmanos fez recomendações para que os missionários mantivessem uma postura de respeito para com as manifestações da divindade em todos os credos e de sujeição às leis civis locais, e que evitassem se envolver em disputas teológicas. 



Ele pessoalmente conseguiu a paz em vários conflitos internos nas cidades italianas de Arezzo, Peruggia, Siena, Gubbio e Bolonha, e pouco antes de morrer, já gravemente enfermo, fez a paz entre o bispo e o poder civil em Assis, o que não deixa de ter conotações simbólicas, apontando para seu perene desejo de reconciliação entre a religião e o mundo profano.
Como Cristo recomendara a seus apóstolos que em cada casa em que entrassem dissessem "Que a paz do Senhor esteja nesta casa", usualmente Francisco costumava iniciar e terminar suas prédicas com a proclamação da paz.



A seus próprios seguidores, Francisco dissera: "Assim como anunciais a paz pela boca, estejais certos de que a paz esteja em vossos corações". 
A saudação Pax et bonum (Paz e bem), que usava frequentemente, se tornou mais tarde o lema da sua Ordem e também da cidade de Assis.



 Em 2002 o papa João Paulo II presidiu uma cerimônia em Assis que reuniu duzentos líderes de vinte e quatro religiões para que fosse celebrado um Dia Internacional de Preces para a Paz no Mundo. 


Foi elaborado o documento O Decálogo da Paz de Assis e enviado para todos os Chefes de Estado do mundo, e no encerramento da cerimônia todos trocaram o beijo da paz enquanto era cantado o Cântico ao irmão Sol.


O místico

Segundo Bernard McGinn o elemento místico no Cristianismo é aquela parte da crença e das práticas que preparam e conscientizam o indivíduo para aquilo que pode ser descrito como a presença imediata e direta de Deus, mas para Paul Lachance o misticismo pessoal de Francisco, parte tão proeminente de sua vida, até há pouco tempo vinha sendo estudado quase apenas a partir das biografias escritas sobre ele e das numerosas lendas criadas a seu respeito, com pouca atenção ao que ele mesmo expressara em seus escritos ou fora registrado a partir de suas próprias palavras - até onde é possível considerar a documentação a ele atribuída como autêntica. 



Mesmo na tradição cristã que o considera, obviamente, um santo, poucas vezes ele é descrito como um místico, e esse silêncio também se deve ao fato de que o estudo de sua experiência interior é extremamente difícil, pois ele poucas vezes falou diretamente no assunto e seus escritos dão apenas indicações indiretas. 



Nisso ele seguiu na contramão da tendência de seu tempo entre as outras Ordens religiosas, cuja literatura é muito mais abundante e explícita a esse respeito, e seu modo de ser estava muito mais relacionado com o dos cristãos primitivos, dos primeiros padres do deserto e dos patriarcas do oriente, para quem as revelações autobiográficas eram coisa estranha. 



Deus para Francisco


Um dos documentos que dão uma primeira ideia sobre sua visão sobre a divindade é a própria Regra Primitiva, o seu primeiro credo expresso em sua pureza, a qual, embora perdido seu original, crê-se que sobreviva em fragmentos dispersos entre vários manuscritos.



Nesses trechos Deus é mostrado como criador, redentor e salvador, fonte de todo o bem, e essência e objetivo último de todo o ser, sendo "uno, sem início e sem fim, imutável, invisível, indescritível, inefável, incompreensível, insondável, bendito, digno de louvor, glorioso, exaltado nas alturas, sublime, altíssimo, gentil, amável, deleitável e totalmente desejável acima de tudo para sempre". 


Sua atitude diante desse Deus "onipotente, santíssimo, altíssimo e supremo" era de completa sujeição e entrega, movidas por um desejo intenso de "amar, honrar, adorar, servir, louvar e bendizer, glorificar e exaltar, magnificar e agradecer", e essas cadeias de adjetivos entusiásticos são comuns em todos os seus escritos, e evidenciam que para Francisco Deus era essencialmente inapreensível e maravilhoso sob todos os aspectos, e não deixa de ser tocante o esforço que ele fazia para pelo menos em parte tentar descrever o que não podia ser descrito e menos ainda transmitido a outrem através de palavras.


Na Epistola ad Fideles (II) (Segunda carta aos fiéis) ele enalteceu o sacramento da Eucaristia, pelo qual tinha uma especial veneração em virtude de a hóstia consagrada ser, segundo o dogma católico, o próprio corpo de Cristo transubstanciado, dado aos homens como uma lembrança perpétua de si mesmo e como dádiva de seu amor, e enfatizou não tanto a simples imitação da vida e paixão de Cristo, mas sim a importância da habitação do Deus vivo no interior de cada um através da descrição dos benefícios recebidos por aquele que obtém esse prêmio:
"O Espírito do Senhor descansará sobre eles e fará neles habitação e morada. E serão filhos do Pai celeste, cujas obras fazem. E são esposas, irmãos e mães de nosso Senhor Jesus Cristo. Somos esposas quando a alma fiel se une a Jesus Cristo através do Espírito Santo. Somos certamente irmãos, quando fazemos a vontade de seu Pai, que está no céu. 



Somos mães quando o carregamos em nossos corações e corpos através do amor e de uma consciência pura e sincera; damo-lo à luz através de sua santa maneira de operar, a qual deve brilhar diante dos outros como exemplo.



 Oh, quão glorioso, quão santo e portentoso é ter um Pai no céu! Oh! como é santo ter um esposo consolador, belo e admirável! Oh, quão santo e quão adorável, prazeroso, humilde, tranquilo, doce, amável e desejável acima de todas as coisas ter tal Irmão e Filho, que deu sua vida por suas ovelhas e orou ao Pai por nós dizendo: 'Pai santo, guarda em teu nome os que me deste' !


Mesmo dando essas descrições indiretas de suas experiências místicas, em nenhum de seus escritos ele as descreve objetivamente, e coube aos seus biógrafos fazerem extrapolações e descrições mais vívidas, cuja veracidade fica sempre sujeita ao imponderável da interpretação alheia.

 Entretanto, em vários pontos desses documentos posteriores parece sobreviver, discernível através da ornamentação literária, um reflexo autêntico de como apareceram para ele suas visões e êxtases, ou como suportou os frequentes ataques de seres demoníacos, tais como se narra nos Fioretti, do qual um fragmento já foi exposto antes e que descreve o abismo que ele via entre a magnificência de Deus e sua pessoa miserável. 



De qualquer forma, suas contemplações frequentemente revolviam em torno de trechos da Paixão que lia nos Evangelhos, e nesse sentido ele deu nascimento a uma nova forma de misticismo, o "misticismo Cristomimético" ou de imitação de Cristo, que Ewert Cousins chamou de "misticismo do evento histórico", que consiste na lembrança de um evento significativo do passado, na entrada em seu conteúdo dramático e na extração a partir dele de uma energia espiritual que eventualmente transporta o contemplador além do evento para a união com Deus.





Sua própria estigmatização foi o corolário desse modo de meditar, e que depois dele foi muito explorada por outros místicos como São Boaventura e Santa Clara, e mais uma multidão de outros nos séculos seguintes.
A Natureza e Francisco
Por fim, o outro aspecto importante a ser analisado no seu misticismo é sua intensa e amorosa relação com a natureza, relação que o tornou modernamente em um patrono dos animais e do meio ambiente. 

Este aspecto é um dos que mais acusam a originalidade de sua concepção de mundo em relação ao contexto de seu tempo. Embora muitas características de seu misticismo não fossem novas, sendo encontradas nas vidas de vários espirituais anteriores, outras eram inéditas até ali - sua relação direta, pessoal e familiar com todos os elementos constituintes da Criação, sua ênfase no caráter beneficente e não neutro ou ambivalente de todas as coisas e seres do mundo natural, sua exortação literal, e não alegórica, a animais, plantas e objetos inanimados para que servissem e louvassem a Deus, sua proposta de que se criasse legislação para que o povo alimentasse as aves selvagens no inverno no mesmo espírito em que davam esmolas aos pobres, e a inclusão de animais na celebração da missa. 



Para Francisco toda a Criação estava intimamente interconectada, e para ele era fácil transitar de um nível espiritual para outro e apreciar os múltiplos significados que extraía de sua leitura do "livro da natureza".



 Eric Voegelin pensa que foi por descobrir e aceitar os mais baixos estratos da Criação como partes do mundo dotadas de significado e dignidade inerentes que ele se tornou uma das figuras mais importantes da história ocidental.

Essa forma de ver o mundo ficou expressa com clareza no seu Cântico ao irmão Sol, onde chamou os ventos, o sol, a lua, o fogo e outros elementos do mundo natural de irmãos e convidava a todos celebrarem juntos a maravilha do mundo e servirem com alegria o seu autor.

Neste poema, que além de possuir altas qualidades estéticas marcou o nascimento da literatura vernacular italiana, ele deu um testemunho ao mesmo tempo de sua visão integrada da realidade e do amor que sentia por ela, o que transparece ainda em diversos relatos posteriores de seus biógrafos e nas inúmeras histórias onde os animais estão presentes como co-protagonistas, sempre tratados como irmãos e não raro doutrinados como se fossem pessoas, aproximando-se dele espontaneamente mesmo quando selvagens e dando sinais de compreenderem suas palavras ao obedecerem suas instruções, e nas que contam como andava reverente sobre as rochas ou admirava as flores cheio de júbilo, ou quando defendeu as árvores recomendando aos lenhadores que não cortassem seus troncos muito embaixo, a fim de que elas pudessem renascer.

O Cântico também sintetiza o significado profundo e a função essencial da prece para Francisco, o de sempre glorificar a Deus e abençoar o mundo pela palavra e pelo trabalho.

A natureza para ele era digna de apreço e admiração porque era uma expressão da divindade onipresente.



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DEFESA DAS APARIÇÕES DE JACAREI

DEFESA ÀS APARIÇÕES DE JACAREÍ


(FEITA POR UM PEREGRINO, AO CONTEMPLAR UM VÍDEO FALANDO MAL DAS MESMAS CITADAS ACIMA, E SOBRE A CARTINHA DO BISPO DA ÉPOCA, ALEGANDO QUE AS APARIÇÕES NÃO ERAM VERDADEIRAS)


NÃO SEI QUEM FEZ MAS PRA MIM ESSA PESSOA MERECIA UMA MEDALHA DE HONRA DE NOSSA SENHORA POR ESTA BELA DEFESA

"Quando você diz que devemos dar ouvidos ao que os padres dizem a respeito das aparições de Jacareí, corre em um ledo engano, pois, a “opinião pessoal” deles é que não pode ser elevado ao nível de “dogma de fé”. As cartas de Dom Nelson são muito citadas pelos que latem que estas Sagradas Aparições são falsas. Portanto, mister se faz alguns esclarecimentos. Há duas cartas oficiais onde este indigitado bispo trata da matéria “aparições”. Uma primeira, publicada em 1996, enquanto o mesmo ainda era bispo de São José dos Campos (diocese a qual pertence Jacareí). Nesta, não há menção alguma ao nome do Profeta Marcos Tadeu Teixeira, muito menos, excomunhão, há somente algumas orientações pastorais. A segunda, publicada em 2007 e republicada em 2011, realmente traz explicitamente o nome do Profeta Marcos Tadeu Teixeira, porém, nesta, a palavra “excomunhão” é sequer mencionada.

Ainda há um probleminha com esta segunda carta. O dito bispo (certamente pela providência de Nossa Senhora) foi transferido para a diocese de Santo André/SP em 2003, e, observem, a segunda carta publicada por ele ocorreu no ano de 2007, quando já havia deixado de ter jurisdição eclesiástica sobre a cidade de Jacareí. Portanto, o mesmo, ao editar esta carta, violou a jurisdição eclesiástica conferida a ele pela Igreja, e, ainda, violentou gravemente a autoridade de Dom Moacir, então, bispo da Diocese de São José dos Campos, que, se quisesse, poderia ter criado o maior caso com isso, pois Dom Nelson desrespeitou frontalmente e atropelou sua autoridade eclesiástica, uma verdadeira afronta. Então eu lhes pergunto, vocês ainda vão dar credibilidade a um documento irregular e eivado de vícios como esse?

Vale lembrar, que não é obrigatório seguir estas cartas circulares dos bispos. Não há heresia nem cisma nisso. Um católico somente pode ser acusado de cismático ou herege se atentar contra os Dogmas de Fé. Que eu saiba, carta circular de bispo não é Dogma de Fé. Como a primeira carta de Dom Nelson não condena as Aparições de Jacareí, e a segunda está irregular, pode-se dizer que não pesa condenação oficial e regular da Igreja sobre estas Santas Aparições. Além do mais, até o presente momento, Dom José Valmor, que atualmente tem jurisdição eclesiástica sobre Jacareí, não fez pronunciamento oficial sobre as mesmas. Documento oficial onde o Profeta Marcos foi excomungado, também é inexistente, portanto, qualquer informação que diga o contrário é fruto de pura “fofoca”.

Ressalto que em Jacareí, realmente, não damos tanta importância aos documentos do Vaticano. O que nós realmente valorizamos é a doutrina que nos foi transmitida pelos santos, como Santo Afonso, São Luiz, Santa Teresa, São João da Cruz, etc... Outro adendo que gostaria de acrescentar, diz respeito ao fato da obrigatoriedade ou não das Sagradas Mensagens Celestiais. A orientação predominante entre os teólogos católicos, de que não é obrigatório seguir as Aparições de Nossa Senhora, se funda em meras opiniões pessoais de alguns clérigos a respeito do assunto. Esta orientação não tem o caráter da infalibilidade papal e muito menos é um Dogma de Fé. Realmente, o catecismo atual traz algo nesse sentido, mas vale lembrar que o mesmo não recebeu o caráter da infalibilidade pelo Concílio Vaticano II. Bem ao contrário do Santo Catecismo do Concílio de Trento. Este sim, recebeu o caráter de infalível. Ocorre que nossa amada Igreja há muito se transviou de uma tradição bíblica milenar, através da qual o “Deus dos Exércitos” sempre manifestou sua vontade ao povo de Israel por meio de suas aparições aos profetas (mesmo fenômeno que ocorre com o, também, profeta Marcos Tadeu, pois os fenômenos miraculosos e de aparições que ocorrem naquele Santuário, são da mesma espécie dos verificados na Sagrada Bíblia).

Ora, nos tempos bíblicos não era através dos fariseus, saduceus, príncipes e doutores da lei (a Igreja oficial da época) que Deus dava as suas diretrizes ao povo eleito, mas sim, através dos profetas, em outras palavras, dos videntes. Nos primórdios do cristianismo, também ocorria assim, pois, a própria origem da nossa amada Igreja se funda nas “aparições” de Jesus aos apóstolos e discípulos. Então, por que esta tradição bíblica foi quebra? Será que é porque as aparições aos profetas cessaram? Errado, pois nos últimos 100 anos ocorreram mais de 1000 aparições de Nossa Senhora, dos santos e anjos, e até de Deus.
A pergunta correta é, por que o clero tenta abafar isso, pois grande parte, senão todas, destas aparições também foram acompanhadas de sinais miraculosos, como, curas inexplicáveis pela ciência, sinais na natureza, etc... Se Deus usava deste expediente nos tempos bíblicos, certamente deveria continuar a usá-lo nos tempos do catolicismo, pois uma grande verdade que a Teologia professa é que Deus é imutável. Não citarei as passagens bíblicas onde Deus manifesta sua vontade através dos videntes/profetas, pois se assim fizesse, teria que citar a Bíblia inteira, pois a própria formação e ensinamentos nela transmitidos se dão por este meio. Gostaria apenas de citar um pequeno exemplo de qual atitude deveremos tomar frente às Aparições de Jacareí, tomando por base a Bíblia. Saulo, quando se dirigia à cidade de Damasco e Jesus lhe “aparece” exclama: “Senhor, que queres que eu faça?” (At 9, 6). Naquela ocasião, Jesus disse a ele para procurar os fariseus e saduceus (a Igreja oficial da época)? Não! O ordenou que entrasse na cidade de Damasco e ali lhe seria dito o que deveria fazer. Beleza. E quem Deus enviou para Saulo? Os fariseus e saduceus (a Igreja oficial da época)? Não! Mas Ananias, um vidente. Como eu sei que Ananias era um vidente? As Sagradas Escrituras nos contam que foi uma aparição de Jesus que disse para ele ir procurar Saulo. É só conferir At 9, 10-16ss.

Outro exemplo foi Judas Iscariotes; este preferiu errar com a Igreja oficial da época (lembra né, fariseus e saduceus) que acertar sem ela. Bom... Errou mesmo! E segundo alguns santos místicos, como Maria de Ágreda, sua alma se encontra no inferno. Assim, a posição teológica defendida pela maioria dos teólogos atuais, de que as aparições não são obrigatórias, falando em termos de estudo teológico da atualidade, é perfeitamente passível de questionamento, e, inclusive, daria uma boa tese de doutoramento. É um posicionamento que pode ser mudado. Não é Dogma de Fé. Gostaria de finalizar este ponto dizendo o seguinte. Jesus tolerou para sempre aquela Igreja oficial da época (o judaísmo) que rejeitou o projeto que suas aparições aos Apóstolos (que também eram videntes) propunha? Claro que não!!! Por causa disso, Deus se retirou do meio daquela Igreja e passou a habitar no meio dos seus videntes, os apóstolos e discípulos, e, assim, surgiu a nossa amada Igreja Católica (Mt 21, 39-45).

Não é objetivo do Profeta Marcos Tadeu, nem de sua Ordem e muito menos de nós, a Milícia da Paz (formada por todos os fiéis seguidores daquele Santuário) provocar um cisma na Igreja. Nós apenas denunciamos os erros (prerrogativa esta, conferida aos leigos pelo próprio Concílio Vaticano II), lutamos para que a devoção a Nossa Senhora, aos santos e anjos seja colocada em seu devido lugar, e que as suas mensagens, e as dos demais santos, e até as de Deus, seja acolhida como nos tempos Bíblicos, pois acreditamos que se isto não for feito, irá se abater gigantescos cataclismos sobre a Terra, de uma tal magnitude que nunca houve, nem jamais haverá. Acreditamos que esta “palavra de Deus” transmitida nas aparições é o caminho e a única forma de salvar o mundo, e qualquer obra, ou pessoa, que ensine ou faça diferente do que elas dizem, é desprezada por nós. O motivo para isto é muito simples. Desde tempos remotos, as Aparições de Nossa Senhora (inclusive as não aprovadas pela Igreja) vêm dizendo o que aconteceria ao mundo se esta “palavra de Deus” não fosse obedecida. Resultado, tudo o que elas disseram, em um passado remoto, está se cumprindo na atualidade. Então, não há outra conclusão a se fazer, a não ser admitir que elas eram verdadeiras, e que o clero errou. Aliás, o histórico de erro do clero é algo realmente interessante. Basta citar a condenação que pesou durante 20 anos sobre as Santas Aparições de Jesus Misericordioso à Santa Faustina, e não foi por um “bispozinho” qualquer. Foi pelo próprio papa da época. Se não fosse a atuação do então Cardeal Karol Józef Wojtyła, futuro Papa João Paulo II, estas aparições estariam condenadas até os tempos atuais, e, certamente, você seria um grande opositor delas, não é? Infelizmente, como atualmente o número de Cardeais, e clérigos em geral, com este nível de espiritualidade é praticamente nulo... tadinha das aparições... snif. Praticamente nenhum deles entende de Teologia Mística, o estudo apropriado para se avaliar as aparições e estudá-las.

Além do mais, as aparições de La Salette, Lourdes e Fátima, para quem conhece mais a fundo sua história, verá que elas na verdade não foram aceitas pelo clero. Muito pelo contrário, este as combateu com todas as suas forças. Na realidade, o que ocorreu, é que os fiéis praticamente as fizeram descer goela abaixo na garganta do clero, de tal modo, que eles não tiveram outra opção a não ser aprová-las. E, mesmo nestas que foram aprovadas, o estrago que o clero fez é algo incomensurável. Não as divulgou como deveria; se o corpo incorrupto de Santa Bernadete estivesse no Santuário de Lourdes iria converter milhões de fiéis, no entanto está praticamente escondido no convento de Nevers; o corpo incorrupto de Santa Jacinta foi escondido dos fiéis; a esmagadora maioria dos vaticanistas da Itália é de acordo que, até hoje, o terceiro segredo de Fátima não foi revelado em sua integralidade; a consagração da Rússia não foi feita como Nossa Senhora pediu até os dias atuais, etc... E isso, só para citar os danos que me vem à mente neste momento.

No Santuário das Aparições de Jacareí, o Profeta Marcos está resgatando tudo aquilo que a Igreja e a sociedade tanto se esforçaram para extinguir, os escapulários, medalhas, mensagens, enfim, a salvação do mundo que Nossa Senhora nos revelou e ofereceu com tanto amor ao longo de suas aparições na história. Sem dúvida, lá está se cumprido a passagem da Escritura na qual se diz: “Por isso, todo escriba instruído nas coisas do Reino dos céus é comparado a um pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e velhas...” Mt 13,52 É uma nova aparição que resgata todas, até as mais antigas. Portanto, se ainda quiserem seguir a doutrina da cabeça deste cara de que não precisamos de aparições, o problema é de vocês. Aliás, se formos pensar bem, porquê Deus, Nossa Senhora os anjos e os santos apareceriam, né? Afinal de contas, nosso mundo está uma verdadeira maravilha, não é? Não temos problemas de droga, prostituição, corrupção, degradação moral, depressão, decadência da Igreja, violência, roubos, assassinatos, guerras, miséria..., todos os sacerdotes são verdadeiros Serafins de santidade, enfim, o Vaticano está dando conta do recado... Só não está apresentando um desempenho melhor devido a um “pequeno” probleminha de tráfico de influência entre os altos clérigos, desvio de verbas do banco do Vaticano, looby gay entre os padres, pedofilia generalizada, um papa progressista e comunista..., mas, afinal de contas, são probleminhas fáceis de serem solucionados, né? É... Em um mundo maravilhoso e em ótimo funcionamento como esse, realmente não entendo o motivo de tantas aparições..."