GRANDE PROPAGADOR DAS GLÓRIAS DE MARIA SANTÍSSIMA
E DE SEU FILHO NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
“Maria é o porto dos que naufragam, consolo do mundo, resgate dos cativos, alegria dos enfermos”.
(SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO)
"Quem reza se salva"
Santo Afonso Maria de Ligório
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MEDITAÇÕES DOS SANTOS DE DEUS - VOL.2 - (SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO- A FUGA DAS OCASIÕES DE PECADO)
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MEDITAÇÕES DOS SANTOS DE DEUS - VOL.3 - SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO- OS NOVÍSSIMOS DO HOMEM
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MEDITAÇÕES DOS SANTOS DE DEUS -VOL.6 -SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO- A NECESSIDADE DA ORAÇÃO
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Jacareí, 08 de Dezembro de 2006
Mensagens de Santa Catarina Labouré, de Santa Margarida Maria Alacoque, de Santo Afonso Maria de Lígório, de Santa Bernadete e de Nossa Senhora comunicadas ao vidente Marcos Tadeu Teixeira
Festa da Imaculada Conceição
Mensagem de Santa Catarina Labouré
(Vidente de Nossa Senhora - a quem foi revelada a
Medalha Milagrosa em Rue du Bac, Paris, no ano de 1830)
“ - Marcos, eu sou Catarina Labouré, sou Protetora deste lugar, tua protetora, protetora dessas Aparições, protetora dos teus companheiros de luta e de escravidão de amor à Mãe de Deus e protetora de todos os peregrinos que sinceramente tentam obedecer as Mensagens da Mãe de Deus e que aqui têm verdadeira fé. Eu, sofri muito também em minha vida como tu também sofreste. Como tu foste contraditado, eu também fui contraditada. Enfrentei o ceticismo e a incredulidade dos homens no tocante as Aparições que eu tive da Mãe de Deus. Compreendo seus sofrimentos. Sempre os compreendi, e sempre te amparei mesmo quando tu não sabias disso. Marcos, como meu Coração te ama e roga por ti sem cessar no Céu não deixando nunca de velar por ti, guardar-te, proteger-te e afastar de ti tantos e tantos males. Saiba Marcos, que eu Catarina, estou constantemente aqui neste local. E aqui, protejo todas as almas que sinceramente vêm a mim, que sinceramente confiam em mim e pedem a minha proteção. Todos aqueles que vierem aqui e invocarem a minha proteção e intercessão para que eu os conduza até os Sacratíssimos Corações Unidos, eu o farei juntamente com os Santos Anjos, eu prometo: Eu o farei! Eu, todos os dias, estendo sobre esse lugar um manto de luz, de paz e de proteção para guardá-lo de todos os seus inimigos e de todos os males. Bem aventuradas as almas que usarem a Medalha que chamam de Milagrosa e que foi revelada à mim por Maria Santíssima na Capela da Rue du Bac. Pois eu também estarei junto com ela, VIVA protegendo essas pessoas afastando delas os males e atraindo para elas copiosas bênçãos de Deus. Bem aventuradas as almas que celebrarem todos os anos no dia 27 de novembro, o dia da Medalha que a Mãe de Deus revelou à mim porque essas almas terão a graça de serem defendidas por essa Medalha na hora da morte e os demônios não poderão molestá-la e ela sairá vitoriosa. Essa alma que usar a Medalha e celebrar a festa, sairá vitoriosa do ultimo combate. Vinde a este local com fé, com devoção, com CONFIANÇA ABSOLUTA pois a confiança é o vaso com o qual se pode colher as Graças e Bênçãos da Mãe de Deus. Sem a Fé, sem a confiança, não se podem receber as bênçãos que a Mãe de Deus deseja aqui dar. Vinde aqui rezar o Rosário, cantando e rezando em procissão. Eu desejo que seja posta aqui uma imagem minha para que as almas se acostumem a pedir a minha intercessão e a minha proteção pois elas me têm esquecido muito e eu posso muito ajudá-los mas a condição é que me peçam a mim. Peço também a todos vós que rezeis o Terço da Imaculada Conceição se não puderdes todos os dias, ao menos aos sábados para honrar mais a Santíssima Virgem com este Terço rezando a Oração que Ela Mesma mostrou-me na Santa Medalha, para que assim, a Imaculada Conceição da Mãe de Deus seja vossa proteção, seja vossa guarda, seja o vosso escudo e seja a única Luz que alumia os vossos corações. Eu, a todos neste momento abençôo. Marcos meu amado, estou sempre contigo. Aquele que te amar será abençoado por Deus. Aquele que te odiar e te caluniar será rejeitado e riscado do livro da vida pelo Senhor. Aquele que amar e lutar pelo bem deste lugar será abençoado pelo Senhor. Aquele que prejudicar este lugar, terá o seu nome riscado do livro da vida. Será banido da Assembléia dos Santos e será alvo do desgosto e da ira do Altíssimo. O Senhor assim o decretou diante dos Seus Anjos. Santo é o Senhor. Santo é o Seu Decreto.”
Mensagem de Santa Margarida Maria Alacoque
(Vidente do Sagrado Coração de Jesus) “
– Marcos, Eu Sou Margarida Maria Alacoque, a vidente do Sagrado Coração de Jesus de Paray-le-Monial. Eu também amo e defendo este lugar com a Graça que me concedeu o Senhor Deus Todo Poderoso. Velo por este lugar e cada vez que algum mal se aproxima dele, de ti e dos teus companheiros, logo eu já levanto o Sacratíssimo Coração de Jesus, brado Seu Nome e debelo assim os males que contra este lugar se levantam. Da mesma forma defendo todo aquele que divulga as Mensagem dos Sacratíssimos Corações Unidos deste lugar e que lutam e que trabalha pelo bem deste lugar. Eu desejo que as primeiras sextas feiras do mês em desagravo ao Coração de Jesus e os primeiros sábados voltem a ser praticados com o fervor e a devoção do início. Desejo que essa devoção reparadora aos Corações de Nosso Senhor e da Mãe de Deus unida também a devoção ao Coração Amantíssimo de São José no Primeiro Domingo se espalhe e seja praticada por todos. Se o rei da França tivesse ouvido os apelos que Nosso Senhor lhe dirigia por meio de mim, se ele tivesse feito a devoção reparadora ao Coração Jesus e feito com que todo o reino de França também a praticasse não teria havido a revolução Francesa com seus males e suas perseguições contra a Santa Fé Católica e os servos de Deus. Da mesma forma, se vós não fizerdes esta devoção reparadora e não a espalhardes, virão graves sofrimentos para vós no Brasil e para o mundo. Tão graves e até piores do que aqueles que vieram sobre o reino da França por não terem obedecido as Mensagens de Nosso Senhor em Paray-le-Monial. Por isso eu lhes peço, a todos vós, que espalhes a devoção reparadora aos Corações Unidos; Que rezeis o Santo Rosário Meditado diariamente; Que coloqueis os Três Sagrados Corações Unidos entronizados em Vossos Lares e que diante deles nas primeiras Sextas, Sábados e Domingos consagreis vossas famílias, consagreis as vossas almas e façais assim ato de reverencia de desagravo e renovação das promessas do vosso batismo, da vossa fé e da vossa Consagração aos Sacratíssimos Corações Unidos por toda Eternidade. Se isto for feito atraireis a misericórdia de Deus. Se não for feito atraireis a justiça, a cólera e os castigos de Deus. Santos são os decretos do Senhor e justos os Seus desígnios. Marcos, eu te abençôo com todos aqueles que são caros aos teus corações , a todos os vossos corações. Abençôo-te e abençôo a todos aqueles que são caros ao seu coração também e hoje, mais uma vez repito: Que reine o Coração de Jesus em todas as Nações, em todos os povos agora e pelos séculos sem fim!”
Mensagem de Santo Afonso Maria de Ligório “
- Marcos, eu, Afonso Maria, venho te abençoar hoje, predileto da Mãe de Deus e do Altíssimo Senhor. Agradeço-te por divulgares nos Rosários Meditados as glórias de Maria Santíssima que eu escrevi. Oh sim, através destes Rosários Meditados aquelas glórias da Mãe de Deus que há 300 anos eu escrevi e deixei como testamento de amor a humanidade, finalmente estas glórias chegam ao conhecimento da multidão dos filhos da Mãe de Deus, e estas glórias finalmente realizam o seu trabalho e produzem o seu fruto, fruto de amor, de obediência, de reverencia, de suma estima e de total e plena Consagração das almas à Mãe de Deus. Eu te agradeço. Te agradeço por seres o meu eco. Continua a ser o meu eco no meio de um mundo que esmoreceu no seu amor para com a Mãe de Deus. Num mundo que perdeu o que tinha de mais belo e mais encantador que era a devoção filial, terna, submissa e cheia de temor para com a Mãe de Deus. Sê o meu eco! Continua sendo o meu eco para que esta humanidade possa ser curada das chagas que o maligno lhe abriu, para que a humanidade possa de novo reencontrar a devoção e o amor supremo a Maria Santíssima que perdeu por sua própria culpa e negligência. Cura as chagas da devoção a Mãe de Deus feitas pelo maligno e que muito a diminuíram e fizeram quase desaparecer. Em verdade te digo Marcos, todo aquele que te ouvir, ouvirá a Mãe de Deus e a Nosso Senhor, ouvirá os Sagrados Corações Unidos. Todo aquele que ouvir as glórias de Maria que tu gravas e divulgas, ouvirá a minha voz. Aquele que não te ouvir, desprezará a mim, desprezará os Sagrados Corações Unidos, desprezará o próprio Altíssimo. Sê fiel. Sê a continuação do meu ideal de tornar Maria amada, conhecida, venerada, admirada, exaltada, obedecida e amada por todos e por cada um dos seres humanos. Seja a minha continuação na terra e terás um grande tesouro no Céu. Tesouro que alias, já tens acumulado e que já se encontra em grande abundancia a tua espera. Eu abençôo a todos que estão aqui hoje, a todos os que amam as glórias de Maria que eu cantei, que eu escrevi, que eu deixei como testemunho de meu amor a Ela. Abençôo com as mais copiosas bênçãos da Imaculada Conceição da Mãe de Deus todos os que rezam os Rosários Meditados, as TREZENAS e as Orações que saem deste lugar. Eu protejo este lugar, de norte a sul e de leste a oeste eu o percorro todos os dias, o cubro de bênçãos, o guardo e o defendo, e defendo todos aqueles, que são parte deste Santuário, que são o Santuário vivo da Mãe de Deus, que obedecem e crêem nas suas Mensagens.
A paz.”
Mensagem de Santa Bernadete
(Vidente de Nossa Senhora em Lourdes-França)
“ -Marcos, todas as vezes que eu vim aqui disse-te que o amava, e eu repito agora: Amo-o muito, muito mesmo, e tudo aquilo que me pedires, eu tu darei. Marcos, onde está o teu tesouro, está teu coração. Aqui nestas Aparições está o teu tesouro, e é por isso que aqui deverá estar o teu coração que agora bate no teu peito depois da sua partida deste mundo. Sim, o seu corpo deverá ficar aqui, pois ele deverá continuar a glorificar a Deus e a Maria Santíssima mesmo depois da sua morte. Sim, continue sendo o eco da Mãe de Deus. Sê o eco da Mãe de Deus fazendo com que as Mensagens Dela cheguem o mais depressa possível aos quatro ventos, aos quatro cantos do mundo. Continua no teu trabalho de divulgação do Santo Rosário Meditado, pois este Rosário Meditado já fez com que muitas almas progredissem no caminho espiritual. Ah Marcos, não podes ver, não podes ver o bem que esses Rosários já fizeram a tanta gente. Quantos que já estavam a beira do precipício, bastando que apenas um leve sopro os atirasse, quantos que já estavam na boca da serpente, encantados como passarinhos, prestes a serem devorados pelo inimigo nas tentações, nos prazeres, nos divertimentos, nas glórias e nas honras deste mundo, e que graças a esses Rosários Meditados foram salvos e preservados. Ah não podes ver! Não podes ver quanto bem tem feito as almas estes Rosários e estas Orações que fazes e que divulgas aqui. Lá no Céu verás quantas almas, quantas milhares de almas foram ajudadas, foram curadas espiritualmente, avançaram no caminho da perfeição e da santidade, e hoje se tornaram causa de alegria, não mais de tristeza e lágrimas para os Sacratíssimos Corações Unidos. Oh sim, eu lhes digo que aqui Maria Santíssima revelou o seu amor tão intensamente e até mais intensamente que em Lourdes, e a glória da sua presença, da sua vinda aqui perdurará por todas as gerações, até o fim do mundo; e o nome da Mãe de Deus será glorificado aqui pelas obras que realizou e que realiza. Será glorificado pela santidade de todos os que Ela chamou ao seu serviço. Será glorificado por todos aqueles que obedeceram as Mensagens, que rezaram estas Orações que daqui saem, e será, sobretudo, extremamente glorificada por ti Marcos, que deu-se inteiramente a Ela, como eu. Que consagrou-se plenamente ao seu Coração Imaculado para servi-La, sem reservas, sem impor condições, com todas as tuas forças, e até mesmo quando tu não tinhas mais forças. Sim, a Mãe de Deus aqui será glorificada e o seu Nome resplandecerá e será visto por todas as nações da terra, e o Seu Coração Imaculado, que aqui derramou todo o seu amor e a sua bondade, resplandecerá e será visto por todos os homens de boa vontade que aqui virão para louvá-La, para dar-se a Ela, e para entregar-se a Ela por toda a eternidade. Marcos, eu te digo, todas as tribulações passam e passarão. Todas as cruzes passam e passarão. O calvário passa e vem a ressurreição, embora muitas vezes a cruz retorne e se faça presente. Os Sacratíssimos Corações Unidos triunfarão aqui, e tu com Eles também triunfará, e triunfarão todos aqueles que Os obedecem, e eu te digo que as graças que a Mãe de Deus realizou e realiza aqui perdurarão para sempre, e todos os seus inimigos serão postos em escabelo dos pés Dela. Marcos, eu estou aqui para guardar e abençoar este local dia e noite, e para guardar e abençoar também a ti. Pede-me hoje o que quiseres, e eu te o darei.` Marcos: `-Amada Santa Bernadete, peço a vós e a Maria Santíssima por meio de vós e em vosso nome que conceda a todas as pessoas que estão aqui hoje, com fé verdadeira, com sincero desejo de obedecerem as Mensagens, que tenham todas as suas penas devidas aos seus pecados apagadas e perdoadas, a todas as pessoas que rezam o Rosário Meditado e as Orações que saíram daqui diariamente, que elas tenham as suas penas perdoadas e apagadas, e que elas tenham também a graça de serem fieis a Maria Santíssima, a graça da perseverança final e a graça de no dia 8 de Dezembro de cada ano receberem um aumento substancial da graça santificante, da graça habitual que perdure o ano todo até o 8 de Dezembro seguinte.` ` -Marcos, o aumento da graça santificante, da graça habitual, esta graça será concedida agora pela Mãe Santíssima na hora da benção. A graça da remissão das penas devidas aos pecados deles também será concedida agora, pela Mãe de Deus, no instante da benção a todos aqueles que rezam o Rosário Meditado daqui diariamente com as Orações daqui. Mas a graça da perseverança final, esta graça Maria Santíssima só poderá conceder aqueles que a pedirem diariamente no Santo Rosário, pois esta graça é condicional a petição e ao desejo da alma. A alma que a pedir fielmente, por toda a vida e for ciosa de fazer e que merecê-la, esta alma, em nome da Mãe de Deus, eu te prometo, esta alma a terá. Eis que agora a Mãe de Deus vai falar.”
Mensagem de Nossa Senhora
“ -Eu sou a Imaculada Conceição, Eu sou a pureza, Eu sou a graça, Eu sou a santidade, Eu sou a justiça, Eu sou a beleza, Eu sou a paz, Eu sou a Misericórdia Divina. Hoje, meus filhos, no dia em que comemoram a minha Imaculada Conceição, Eu a todos Vos digo: Caminhai na graça, caminhai no amor, caminhai na santidade, caminhai na via dos Mandamentos de Deus, caminhai na obediência as minhas Mensagens, caminhai na serenidade, na paz, na fé, na confiança de que no final somente a Imaculada Conceição, a vossa Mãe Celeste triunfará. O grande dragão será derrotado por mim, e Eu, a Imaculada Conceição triunfarei sobre ele, libertando a humanidade do seu jugo e da sua escravidão maligna, e todos os meus filhos de boa vontade que agora gemem sob o peso da opressão do meu inimigo, finalmente serão libertados e gozarão de perpetua paz, felicidade, amor que não terminará. O meu Coração Imaculado triunfará e o sinal mais evidente desse meu triunfo são todas as minhas numerosíssimas Aparições na Terra, que apesar de o demônio tentar fazê-las desaparecer, destruí-las, sufocá-las, submergi-las com o rio de água que ele vomita de sua boca, não pode, e em cada lugar das minhas Aparições Eu elevei muitíssimas almas a um grau de santidade tão grande que somente no dia do meu triunfo será conhecido e será visto diante dos olhos de todos. O sinal evidente do triunfo do meu Coração Imaculado são as minhas numerosíssimas Lacrimações, inclusive de Sangue, que converteram tantos pecadores que já estavam com a sua sentença decretada, e graças às minhas Lágrimas converteram-se, regressaram-se ao Senhor e salvaram as suas almas. O sinal evidente do triunfo do Meu Coração Imaculado são os meus vidente que embora pobrezinhos e desconhecidos do mundo amaram-me e amam-me com todas as forças do seu coração e nada nem ninguém pode ou poderá separá-los de mim. O sinal mais evidente do triunfo do meu Coração Imaculado são todos os meus pequeninos filhinhos, pobres, desconhecidos do mundo que no silêncio e no escondimento obedecem as minhas Mensagens de todo o coração e com todas as suas forças, e que no silêncio e no anonimato faço crescer na santidade como rosas perfumadas e cultivadas pelas minhas próprias mãos para maior alegria e contentamento da Santíssima Trindade. O sinal evidente do triunfo do meu Coração Imaculado são as minhas Mensagens e Profecias que já se cumpriram e que vos garantem que está próxima a vossa libertação com o triunfo do meu Coração Imaculado. O sinal evidente do meu triunfo são as minhas Aparições aqui que já duram quase 16 anos, e que apesar do meu eterno inimigo ter tentado fazê-las desaparecer, ter barrado-as de todas as maneiras, ele não pôde fazê-lo, porque Eu, e só Eu sou a Rainha do Céu e da Terra, e ele, o demônio, não passa de uma mera criatura que terá a sua cabeça esmagada pelo meu pé glorioso no triunfo do meu Coração Imaculado.
Por isso meus filhos, convido-vos a seguirem em frente na confiança e na esperança, no amor e na alegria, na paz e na total certeza de que no final somente o Coração da Imaculada Conceição é que triunfará, trazendo para o mundo novos dias de alegria, de graça e de paz.”
(Marcos) “- Já que então vossa Majestade me permite, gostaria de pedir para mim e para os meus companheiros que trabalham aqui neste Santuário comigo, que dão a sua vida, que lutam e que sofrem comigo, a graça da perseverança final. Eu gostaria então, já que a Senhora me concede pedir, queria pedir a graça de no dia 2 de Fevereiro do ano que vem poder ver a vossa Mãe, Santa Ana, por quem eu tenho um grande amor e uma grande gratidão por ela ter-Vos trazido ao mundo, por ela ter-Vos dado a mim e a toda a humanidade. Vós que sóis todo o meu tesouro, todo meu amor, toda a minha vida e toda a minha alegria e a razão do meu viver. Quero agradecer a Santa Ana pessoalmente por ela ter trazido a Vós, grandíssima Mãe de Deus ao mundo e por vos ter dado a mim como Senhora, como Rainha e também Nosso Senhor Jesus Cristo, pois foi Dela que Vós nascestes e de Vós nasceu o Verbo, o Redentor.(pausa)
Muito obrigado, minha Senhora.”
(Nossa Senhora continua)
“-Meus filhos, levantai agora as rosas pois vou abençoá-las. Estas flores, vós as levareis para as vossas casas, vós as distribuireis aos doentes e aos sofridos. Vós colocareis estas pétalas de rosas sobre o leito dos agonizantes. Vós colocareis estas pétalas de rosas em vossas casas para que a minha graça e a minha benção preencham e envolvam o vosso lar, e o livrem das investidas de satanás. Vós conservareis o caule dessas rosas em vossas casas, mesmo depois de eles secarem, colocareis esses caules, meus filhos, junto das vossas santas imagens para que a minha benção permaneça por muito e muito tempo, envolvendo e cumulando o vosso lar das benevolências e das Misericórdias do Altíssimo. Erguei-as, vou abençoá-las.` `-Podem baixá-las meus filhos, já foram abençoadas, e comigo vos abençoaram todos os meus Santos que hoje vieram comigo do Paraíso para vos abençoar. Uma última coisa, caros filhos, desejo de todos vós mais fidelidade, mais obediência as minhas Mensagens, e que sobretudo, meus filhos, que rezeis com mais fervor e devoção o meu Santo Rosário. Desejo ver-vos aqui constantemente neste Santuário, a rezar o Santo Rosário, e que venhais aqui cantando e rezando em procissão. Desejo também, meus filhos, que sejais mais constantes e mais firmes na penitência e no sacrifício, conforme Eu vos pedi aqui e em Montiquiari. Desejo também que sejais mais ardorosos na divulgação das minhas Santas Medalhas, tanto a Milagrosa como a da Paz. E desejo, por fim, que todos vós, meus amados filhos, façais o máximo possível para tornar a existência deste local conhecido dos meus filhos para que o máximo possível venha aqui rezar, e Eu possa então convertê-los, e elevá-los até Deus. Por fim, meus filhos, peço-vos, que todo dia 8 de cada mês vos lembreis de minha Imaculada Conceição rezando 3 Ave-Marias em honra da minha Imaculada Conceição com a jaculatória: ‘Pela Imaculada Conceição da Mãe de Deus seja salva a minha alma. Amém.’ E Eu vos prometo, meus filhos, dar-vos todas as graças necessárias para que vos torneis santos e vos salveis, se fordes sempre ciosos em fazê-lo como Eu agora vos instrui. A todos, por fim, meus filhos, peço que no dia 8 de Março de cada ano celebrem a Festa das minhas Lágrimas e que venham aqui para essa Festa, para diante da minha imagem das Lágrimas consolarem o meu Coração e bendizerem o preço da vossa redenção que foram as minhas Lágrimas Benditas. A todos hoje abençôo, e por fim abençôo a ti Marcos, dentre todos os meus bilhões de filhos, o mais querido, o mais amado, o que mais aperto no meu Coração e o que mais envolvi nas dobras do meu Manto. E abençôo todos quantos me servem e trabalham por mim ao teu lado e junto contigo.”
1696-1787
Fundou a Congregação do
Santíssimo Redentor
"Padres Redentoristas"
Afonso de Ligório nasceu no dia 27 de setembro de 1696, no povoado de Marianela, em Nápoles, na Itália, filho de pais cristãos, ricos e nobres, que, ao se depararem com sua inteligência privilegiada, deram-lhe todas as condições e todo o suporte para tornar-se uma pessoa brilhante. Enquanto seu pai o preparava nos estudos acadêmicos e científicos, sua mãe preocupava-se em educá-lo nos caminhos da fé e do cristianismo. Ele cresceu um cristão fervoroso, músico, poeta, escritor e, com apenas dezesseis anos de idade, doutorou-se em direito civil e eclesiástico.
Afonso de Ligório nasceu no dia 27 de setembro de 1696, no povoado de Marianela, em Nápoles, na Itália, filho de pais cristãos, ricos e nobres, que, ao se depararem com sua inteligência privilegiada, deram-lhe todas as condições e todo o suporte para tornar-se uma pessoa brilhante. Enquanto seu pai o preparava nos estudos acadêmicos e científicos, sua mãe preocupava-se em educá-lo nos caminhos da fé e do cristianismo. Ele cresceu um cristão fervoroso, músico, poeta, escritor e, com apenas dezesseis anos de idade, doutorou-se em direito civil e eclesiástico.
Passou a advogar e atender no fórum de Nápoles, porém jamais abandonou sua vida espiritual, que era muito intensa. Sempre foi muito prudente, nunca advogou para a Corte, atendia a todos, ricos ou pobres, com igual empenho. Porém atendia, em primeiro lugar, os pobres, que não tinham como pagar um advogado, não por uma questão moral, mas porque era cristão.
Depois de dez anos, tornara-se um memorável e bem sucedido advogado, cuja fama chegara aos fóruns jurídicos de toda a Itália. Entretanto, por exclusiva interferência política, perdeu uma causa de grande repercussão social, ocasionando-lhe uma violenta desilusão moral. A experiência do mundo e a forte corrupção moral já eram objeto de suas reflexões, após esse acontecimento decidiu abandonar tudo e seguir a vida religiosa.
O pai, a princípio, não concordou, mas, vendo o filho renunciar à herança e aos títulos de nobreza, com alegria no coração, aceitou sua decisão. Afonso concluiu os estudos de teologia, sendo ordenado sacerdote aos trinta anos, em 1726. Escolheu o nome de Maria para homenagear o Nosso Redentor por meio da Santíssima Mãe, aos quais dedicava toda a sua devoção, e agora também a vida.
Desde então, colocou seus muitos talentos a serviço do Povo de Deus, evidenciando ainda mais os da bondade, da caridade, da fé em Cristo e do conforto espiritual que passava a seus semelhantes. Em suas pregações, Afonso Maria usava as qualidades da oratória e colocava sua ciência a serviço do Redentor. As suas palavras eram um bálsamo aos que procuravam reconciliação e orientação, por meio do confessionário, ministério ao qual se dedicou durante todo o seu apostolado. Aos que lhe perguntavam qual era o seu lema, dizia: "Deus me enviou para evangelizar os pobres".
Para viver plenamente o seu lema, em 1732, fundou a Congregação do Santíssimo Redentor, ou dos Padres Redentoristas, destinada, exclusivamente, à pregação aos pobres, às regiões de população abandonada, sob a forma de missões e retiros. Ele mesmo viajou por quase todo o sul da Itália pregando a Palavra de Deus e a devoção a Maria, entremeando sua atividade pastoral com a de escritor de livros ascéticos e teológicos. Com tudo isso, conseguiu a conversão de muitas pessoas.
Em 1762, obedecendo à indicação do papa, aceitou ser o bispo da diocese de Santa Águeda dos Godos, diante da qual permaneceu durante treze anos. Portador de artrite degenerativa deformante, já paralítico e quase cego, retirou-se ao seu convento, onde completou sua extensa e importantíssima obra literária, composta de cento e vinte livros e tratados. Entre os mais célebres estão: "Teologia moral"; "Glórias de Maria", "Visitas ao SS. Sacramento"; além do "Tratado sobre a oração".
Depois de doze anos de muito sofrimento físico, Afonso Maria de Ligório morreu aos noventa e um anos, no dia 1º de agosto de 1787, em Nocera dei Pagani, Salerno, Itália. Canonizado em 1839, foi declarado doutor da Igreja em 1871. O papa Pio XII proclamou santo Afonso Maria de Ligório Padroeiro dos Confessores e dos Teólogos de Teologia Moral em 1950.
Devemos aproveitar bem o tempo – Santo Afonso Maria de LigórioPosted on 31 de dezembro de 2009 by Arautos do Evangelho in Espiritualidade, tags: aproveitar tempo, carpe diem, fim do ano,meditaçao vida, novissimos, santo afonso maria ligorio, tempo
Fonte: Pe. Thiago Maria Cristini, Meditações para todos os dias do ano tiradas das obras de Santo Afonso Maria de Ligório, Bispo e Doutor da Igreja, Herder e Cia., tomo I, págs.101-104, Friburgo em Brisgau, Alemanha, 1921.
Sumário. Com razão o Espírito Santo nos exorta a que conservemos o tempo, porquanto o tempo é não somente precioso, mas ainda de mui curta duração. Lembra‑te de como se passaram depressa os doze meses desse ano que hoje termina. Dize‑me, irmão meu, como é que até hoje tens empregado o tempo? Esforças‑te, ao menos, em resgatar o tempo perdido, empregando‑o melhor para o futuro? Quem sabe? Talvez o ano que finda, seja o último da tua vida!
I. O tempo, sobre ser a coisa mais preciosa, porque é um tesouro que só neste mundo se acha, é ainda de mui curta duração. Ecce breves anni transeunt. Lembra‑te de como se passaram depressa os doze meses do ano que hoje finda! É, portanto, com razão que o Espírito Santo nos exorta a conservarmos o tempo, e não deixarmos perder‑se um só momento sem o aproveitarmos bem. Mas, ai de nós! Quão diversamente vão as coisas! Ó tempo desprezado, tu serás a coisa que os mundanos mais desejarão na hora da morte, quando ouvirem dizer que para eles não haverá mais tempo: Tempus non erit amplius.
E tu, irmão meu, em que empregas o teu tempo? Deus te concedeu a graça de teres chegado até ao dia de hoje, com preferência a tantos milhares e milhões de pessoas, talvez da tua idade, ou mesmo mais novas, talvez fortes como tu ou ainda mais robustos, com a mesma compleição que tu, ou talvez mais sadia. Elas morreram e tu estás vivo! Elas estão reduzidas à podridão e cinzas no túmulo e tu estás aqui meditando! Elas na eternidade – e muitas infelizmente no inferno – e tu ainda no tempo! Mas como é que passas o tempo? Em que coisas o empregaste até hoje?
Faze aqui, aos pés de Jesus Cristo, um exame geral da tua vida. Pondera, por um lado, as inúmeras graças com que Deus te tem cumulado especialmente no correr deste ano; por outro, recorda as faltas, as imperfeições, quiçá os pecados, com que continuamente, desde o primeiro dia do ano até este último, tens ofendido o Senhor, retribuindo‑lhe a Sua liberalidade infinita com ingratidão. Ah! Se não resgatares desde já o tempo inutilmente perdido, ou quiçá mal empregado, ele te causará remorsos amargosos, quando, no leito da morte, te achares próximo àquele grande momento do qual depende a eternidade!
II. Meu irmão, se, por desgraça, tiveres de reconhecer que passaste na tibieza o tempo do ano que terminou, procura passar no fervor ao menos este último dia. Agradece muitas vezes a Deus o ter‑te conservado em vida até ao dia de hoje e pede‑Lhe perdão das negligências passadas no Seu serviço. Visto que não sabes se viverás até ao dia de amanhã e se entrarás ainda no ano novo, põe hoje mesmo em ordem as coisas de tua consciência e purifica a tua alma por meio de uma confissão anual. Afinal, faze um propósito firme e eficaz de servires a Deus para o futuro com mais zelo, e de empregares melhor o ano vindouro. É assim que, no dizer do Apóstolo, andarás no caminho da Salvação com circunspeção, e recobrarás o tempo:
Videte quomodo caute ambuletis… redimentes tempus:
AVede como andais prudentemente… remindo o tempo.
Ó Senhor, cuja misericórdia não tem limites, cuja bondade é um tesouro inesgotável, dou graças à Vossa Majestade piedosíssima por todos os benefícios que me tendes feito, e em particular, pelo tempo que me concedeis para chorar as minhas culpas, e reparar as minhas desordens. Quem sabe se o ano que hoje finda, não será talvez o último inteiro da minha vida? Não, não quero mais resistir aos vossos convites tão amorosos. Pesa‑me, ó meu Bem supremo, de Vos ter ofendido e proponho fazer de hoje em diante contínuos atos de amor, a fim de compensar o tempo perdido.
Como, porém, as ocupações da vida não me permitem dirigir os meus pensamentos sem interrupção para Vós, faço hoje o seguinte ajuste, que será válido durante todo o ano vindouro e todo o tempo da minha vida. Cada vez que levantar os olhos para contemplar o céu, tenho intenção de glorificar as vossas perfeições infinitas. Quantas vezes respirar, quero oferecer‑Vos a Paixão e o Sangue de meu divino Redentor, bem como os merecimentos de todos os Santos, para a Salvação do mundo inteiro e em satisfação dos pecados que se cometerem. Toda a vez que bater no peito, quero amaldiçoar e detestar cada um dos pecados cometidos desde o princípio do mundo, e quisera poder repará-los com o meu sangue. Finalmente, a cada movimento das mãos, ou dos pés, ou de qualquer outra parte do corpo, tenciono submeter‑me à vossa santíssima vontade, desejando que de conformidade com esta, se façam todas as coisas. Para que este meu ajuste nunca mais seja violado, confirmo-o e selo-o com as cinco Chagas de Jesus Cristo, e deposito-o em Vossas mãos, ó Mãe da perseverança, Maria.
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ORAÇÃO DE SANTO AFONSO À SENHORA IMACULADA
Ó minha Senhora, minha Imaculada, alegro-me conVosco por ver-Vos enriquecida de tanta pureza. Agradeço e proponho agradecer sempre o nosso comum Criador por ter-Vos Ele preservado de toda mancha de culpa. Disso tenho plena convicção, e para defender este Vosso tão grande e singular privilégio da Imaculada Conceição, juro dar até a minha vida. Estou pronto a fazê-lo, se preciso for. Desejaria que o mundo universo Vos reconhecesse e confessasse como aquela formosa aurora, sempre adornada da divina luz; como aquela arca eleita de salvação, livre do comum naufrágio do pecado; como aquela perfeita e imaculada pomba, qual Vos declarou Vosso divino Esposo; como aquele jardim fechado, que foi as delícias de Deus; como aquela fonte selada, na qual o inimigo jamais pode entrar para turvá-la; como aquele cândido lírio, finalmente, que, brotando entre os espinhos dos filhos de Adão, enquanto todos nascem manchados da culpa e inimigos de Deus, Vós nascentes pura e imaculada, amiga de Vosso Criador.
Consenti, pois, que ainda Vos louve, como Vos louvou Vosso próprio Deus: Toda Sois formosa e em Vós não há mancha. Ó pomba puríssima, toda cândida, toda bela, sempre amiga de Deus! Dulcíssima, amabilíssima, imaculada Maria, Vós que sois tão bela aos olhos do Senhor, não recuseis olhar com Vossos piedosíssimos olhos as chagas tão asquerosas de minha alma.
Olhai-me, compadecei-Vos de mim, e curai-me. Ó belo ímã dos corações, atraí para Vós também este meu miserável coração. Tende piedade de mim, que não só nasci em pecado, mais ainda depois do batismo manchei minha alma com novas culpas, ó senhora, que desde o primeiro instante de Vossa vida aparecestes bela e pura aos olhos de Deus. Que graça Vos poderá negar o Deus que Vos escolheu para Sua Filha, Sua Mãe e Sua esposa, e por essa razão Vos preservou de toda mancha? Virgem Imaculada, a Vós compete salvar-me, dir-Vos-ei com S. Filipe Néri. Fazei que me lembre de Vós; e não Vos esqueçais de mim. Parece tardar mil anos o momento de ir contemplar Vossa beleza no Paraíso, para melhor louvar-Vos e amar-Vos, minha Mãe, minha Rainha, minha Amada, belíssima, dulcíssima, puríssima, imaculada Maria. Amém.
Nota do livro: Santo Afonso escreveu o presente livro em 1750, portanto 104 anos antes da promulgação do dogma da Imaculada Conceição. Com este seu trabalho, e com outros escritos ascéticos, contribuiu muitíssimo para mais este triunfo de nossa Senhora.
(Glórias de Maria, Santo Afonso Maria de Ligório, editora Santuário, 18ª edição)
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Santo Afonso Maria de Ligório
Livro de 1997 - 109 págs
"É certo que quem reza se salva, quem não reza se condena."
Partindo dessa afirmativa, Santo Afonso escreveu este livro e apresentou-o como:
"O grande meio da oração para conseguir a salvação eterna e todas as graças que queremos de Deus."
Nele aprendemos a necessidade, o valor e as condições da oração. Está entre os melhores que já foram publicados sobre a oração.
Agradeçemos a generosidade do leitor que digitalizou este livro para que ele fosse divulgado. Que Nossa Senhora lhe favoreça sempre!
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Santo Afonso de Ligório: Glórias de Maria - aqueduto de graças
02.06.2010 - Segundo São Bernardo, Deus encheu Maria com todas as graças para que por seu intermédio recebam os homens todos os bens que lhes são concedidos. Faz aqui o Santo uma profunda reflexão, acrescentando: Antes do nascimento da Santíssima Virgem, não existia para todos essa torrente de graças, porque não havia ainda esse desejado aqueduto: Maria foi dada ao mundo – continua ele – a fim de que por seu intermédio, como por um canal, até nós corresse sem cessar a torrente das graças divinas.
Que lhe arrebentassem os aquedutos, foi a ordem dada por Holofernes para tomar a cidade de Betúlia (Jt 7, 6). Assim o demônio também envida todos os esforços para acabar com a devoção à Mãe de Deus nas almas. Pois, cortado esse canal de graças, mui fácil se lhe torna a conquista. Consideremos, portanto, continua São Bernardo, com que afeto e devoção quer o Senhor que honremos esta nossa Rainha. Consideremos o quanto deseja que a ela sempre recorramos e em sua proteção confiemos. Pois em suas mãos depositou a plenitude de todos os bens, para nos tornar cientes de que toda esperança, toda graça, toda salvação, a nós chegam pelas mãos dela. A mesma coisa declara Santo Antônio. Todas as misericórdias dispensadas aos homens lhes têm vindo por meio de Maria.
É por isso Maria comparada à lua. Colocada entre o sol e a terra, a lua dá a esta o que recebe daquele, diz São Boaventura; do mesmo modo recebe Maria os influxos da graça para no-los transmitir aqui na terra.
Pelo mesmo motivo chama-lhe a Igreja “porta do Céu”. Como todo indulto do rei passa pela porta de seu palácio, observa São Bernardo, assim também graça nenhuma desce do céu à terra sem passar pelas mãos de Maria. Ajunta São Boaventura que Maria é chamada porta do céu porque ninguém pode entrar no céu, senão pela porta que é Maria.
Nesse sentimento confirma-nos São Jerônimo no sermão da Assunção, que vem inserido nas suas obras. Nele lemos que em Jesus Cristo reside a plenitude da graça, como na cabeça, de onde se transfunde para nós, que somos seus membros, o vivificador espírito dos auxílios divinos necessários à nossa salvação. Em Maria reside a mesma plenitude como no pescoço, pelo qual passa esse espírito para comunicar-se ao resto do corpo. Com cores mais vivas dá São Bernardo o mesmo pensamento: Por meio de Maria transmitem-se aos fiéis, que são o corpo místico de Jesus Cristo, todas as graças da vida espiritual emanadas de Jesus Cristo, que lhes é cabeça. E com as seguintes palavras procura confirmar isto: Tendo-se Deus dignado habitar no ventre desta Virgem Santíssima, adquiriu ela uma certa jurisdição sobre todas as graças: porque, saindo Jesus Cristo do seu ventre sacrossanto, dele saíram juntamente como de um oceano celeste todos os rios das divinas dádivas. Escrevendo com maior clareza ainda, diz o Santo: A partir do momento que esta Virgem Mãe concebeu em seu ventre o Divino Verbo, adquiriu, por assim dizer, um direito especial sobre os dons que nos provêm do Espírito Santo, de tal modo que criatura alguma recebe graças de Deus, senão por mãos de Maria.
(…)
Lê-se no profeta Isaías (11, 1) que da raiz de Jessé sairia uma haste, isto é, Maria, e dela, uma flor, isto é, o Verbo Encarnado. Sobre essa passagem tece Conrado de Saxônia este belo comentário: “Todo aquele que desejar obter a graça do Espírito Santo, busque a flor em sua haste, isto é, Jesus em Maria. Pois pela haste encontraremos a flor e pela flor chegaremos a Deus. – Se queres possuir a flor, procura com orações inclinar a teu favor a vara da flor e alcançá-la-ás. De outro lado, nota-te as palavras do seráfico São Boaventura, comentando o trecho “Eles encontraram a criança com Maria, sua Mãe”. Ninguém, diz ele, achará jamais a Jesus senão com Maria e por meio de Maria. E conclui que em vão procura Jesus quem não procura achá-lo com sua Mãe. Dizia por isso São Ildefonso: Quero ser servo do Filho; mas como ninguém pode servir ao Filho sem servir também a Mãe, esforço-me, por conseguinte, em servir a Maria.
[Santo Afonso de Ligório, Glórias de Maria, p. 1, cap. 5, I, Refutação e demonstração; pp. 135-139, Editora Santuário, 20ª edição, Aparecida, 1989]
O Rosário por Santo Afonso de Ligório
A AVE-MARIA
Muito agrada à Santíssima Virgem a saudação angélica
Por ela lhe renovamos a alegria que sentiu, quando S. Gabriel lhe anunciou que fora eleita para Mãe de Deus. Nessa intenção devemos saudá-la muitas vezes com a Ave-Maria. Saudai-a com a Ave-Maria, diz Tomás de Kempis, porque ela gosta muito dessa saudação. Que não lhe podemos dirigir saudação mais agradável, do que com a Ave-Maria, disse-o a Virgem a S. Matilde. Por ela será também saudado todo aquele que a saúda. S. Bernardo, certa ocasião, ouviu de uma estátua da Senhora as palavras: Eu te saúdo, Bernardo! Ora, a saudação de Maria consiste sempre em alguma nova graça, diz Conrado de Saxônia. Pergunta Ricardo: É possível que Maria recuse mais uma graça a quem dela se aproxima e lhe diz: Ave, Maria? A S. Gertrudes prometeu a Mãe de Deus tantos auxílios na hora da morte, quantas Ave-Marias lhe houvesse recitado em vida. Alano de Rupe afirma que, ao ouvir essa saudação angélica, alegra-se o céu, treme o inferno e foge o demônio. Com efeito, atesta-o Tomás de Kempis, pois com uma Ave-Maria pôs em fuga o demônio que lhe aparecera.
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Meditação do livro: A Prática do Amor a Jesus Cristo - Santo Afonso de Ligório
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“A Mortificação Externa” por Santo Afonso Maria de Ligório
Parte I
Necessidade da Mortificação Externa
A mortificação externa consiste em se fazer e sofrer o que contraria os sentidos exteriores e em se privar daquilo que os lisonjeia. Enquanto ela é necessária para evitar o pecado, é de obrigação absoluta para cada cristão. Se se trata de coisas que licitamente se podem desfrutar, a mortificação não é obrigatória, mas é muito útil e meritória. Contudo, deve-se notar aqui que, para aqueles que tendem à perfeição, a mortificação nas coisas lícitas é absolutamente necessária.
Como pobres filhos de Adão, devemos lutar até a nossa morte, pois “a carne deseja contra o espírito e o espírito contra a carne” (Gál 5, 17). É próprio dos animais seguir os seus sentidos, enquanto que aos anjos compete cumprir a Vontade de Deus; disso conclui um ilustre escritor que nos tornamos anjos, esforçando-nos por cumprir com a Vontade de Deus, e irracionais, se procuramos satisfazer os nossos sentidos. Ou a alma subjuga o corpo, ou o corpo escraviza a alma.
Em vista disso, devemos tratar o nosso corpo como um cavaleiro trata um cavalo bravio, puxando-lhe fortemente a rédea para que não o derrube, ou como o médico que, estando a tratar de um doente, prescreve remédios que lhe são desagradáveis e proíbe-lhe comidas e bebidas nocivas, que ele apetece. Sem dúvida alguma, seria cruel um médico que permitisse ao doente deixar os remédios prescritos por serem amargos e tomar outros, nocivos, por lhe agradarem. Quanto maior não é, pois, a crueldade de um homem sensual, que quer poupar a seu corpo todos os desgostos nesta vida, e expor, assim, sua alma e seu corpo, ao perigo de ter que sofrer por toda a eternidade penas imensamente maiores.
Esse falso amor, diz São Bernardo (Apol. ad Guil., c. 8), destrói o verdadeiro amor que devemos ter para com o nosso corpo; uma tal compaixão com o corpo é, antes, uma grande crueldade, porque, poupando-se o corpo, mata-se a alma. O mesmo Santo dirige aos mundanos, que zombam dos servos de Deus por mortificarem sua carne, as seguintes palavras: “Somos em verdade cruéis para com o nosso corpo, afligindo-o com penitências; porém, mais cruéis sois vós contra o vosso, satisfazendo a seus apetites nesta vida, pois assim o condenais juntamente com vossa alma a padecer infinitamente mais na eternidade“.
Se queremos, portanto, agradar a Deus e alcançar a salvação, devemos corrigir nosso falso gosto: devemos achar satisfação naquilo que a carne detesta e desprezar aquilo que ela apetece. Isso significou Nosso Senhor Nosso Senhor a São Francisco de Assis, dizendo-lhe: “Se me desejas ter junto de ti, deves ter como amargo o que é doce e como doce o que é amargo“. Não venhas com a objeção que alguns costumam fazer, dizendo que a perfeição não consiste na mortificação do corpo, mas na mortificação da vontade. A isso responde o padre Pinamonti: “Se uma videira não dá fruto [simplesmente] por estar protegida com uma cerca de espinhos, contudo a cerca protege os frutos’, pois ‘onde não há uma cerca, será roubada a feitoria“, diz o Sábio (Ecli 36, 27).
São Luís Gonzaga era de saúde muito melindrosa. Apesar disso, era tão assíduo em crucificar o corpo, que não buscava outra coisa senão mortificação e penitências; e como lhe dissessem uma vez que a santidade não consiste nessas coisas, mas na abnegação de sua vontade própria, respondeu mui sabiamente com as palavras do Evangelho: “Deveis fazer isso e não deixar aquilo” (Mt 23, 23). Com isso queria dizer que, ainda que seja necessário mortificar sua vontade, não se deve deixar de mortificar o corpo, para refreá-lo e submetê-lo à razão. Dizia o Apóstolo: “Castigo o meu corpo e o reduzo à servidão” (I Cor 9, 27). Sem a mortificação da carne, é difícil submetê-la à Lei de Deus.
O mundo e o demônio, são, em verdade, grandes inimigos da nossa salvação; contudo, o maior de todos é o nosso corpo, porque ele mora conosco. “O inimigo que mais nos prejudica é aquele que mora conosco em casa“, diz S. Bernardo (Med., c. 13). Os mais perigosos inimigos de uma fortaleza sitiada são aqueles que se acham no seu interior, pois é muito mais difícil se defender contra estes que contra os que estão fora.
Assim como os mundanos só cuidam em lisonjear seu corpo com prazeres sensuais, as almas que amam a Deus só procuram mortificar a sua carne tanto quanto possível. São Pedro de Alcântara assim fala a seu corpo: “Fica certo de que nesta vida não te deixarei descansar; só tribulações serão tua partilha; mas quando estivermos no Céu, desfrutarás de uma paz que não terá mais fim“. Nesse mesmo espírito procedia Santa Maria Madalena de Pazzi que, pouco antes de sua morte, podia afirmar que não se lembrava de ter jamais encontrado alegria fora de Deus.
Leiamos a biografia dos Santos, consideremos suas penitências e envergonhemo-nos de ser tão medrosos e comedidos na mortificação de nossa carne.
Mas eu tenho uma saúde muito fraca, me dirás, e meu confessor me proibiu todas as penitências. Pois bem; em tal caso deves obedecer; mas ao menos aceita resignadamente todos os incômodos que teu estado corporal te ocasionar; suporta alegremente todas as penas que a mudança de frio e calor traz consigo. Se não podes mortificar teu corpo com penitências, ao menos renuncia de vez em quando a um prazer lícito. Quando São Francisco de Borja se achava na caça, fechava os olhos no momento em que o falcão se apoderava de sua presa, para se privar do prazer que essa vista lhe causava. S. Luís Gonzaga também evitava olhar para as representações a que devia, às vezes assistir.
Por que não poderás também tu, alma cristã, praticar semelhantes mortificações? Se negares a teu corpo satisfações lícitas, não ousará reclamar ele outras ilícitas; se, porém, te entregares a todos os prazeres lícitos, te procurarás em breve deleitações ilícitas.
Um grande servo de Deus, o padre Vicente Carafa, da Companhia de Jesus, diz que Deus nos concedeu as alegrias deste mundo não só para que delas desfrutemos, mas também para que tenhamos ocasião de oferecer a Deus um sacrifício, privando-nos delas por Seu amor.
É verdade que algumas inocentes alegrias são mui próprias para auxiliar a nossa fraqueza humana e nos dispôr para os exercícios espirituais; contudo, deves estar persuadido de que os prazeres dos sentidos por si são venenos para a alma, porque eles a prendem às criaturas; por isso se deve gostar desses prazeres como se usa fazer quando se toma veneno. As plantas venenosas, quando devidamente misturadas e tomadas em pequena quantidade, são às vezes úteis à saúde do corpo; mas são sempre e permanecem veneno. É o que se dá com os prazeres mesmo lícitos.
Por essa razão, só com grande precaução e moderação é que se pode desfrutar deles sem apego, e só por necessidade, com a única intenção de se poder servir melhor a Deus.
Além disso, devemos tomar cuidado para que, com o esforço de preservarmos o nosso corpo de doenças, não deixemos desfalecer a nossa alma, que está sempre doente, não se mortificando a carne. “As doenças do corpo me causam compaixão, diz São Bernardo (Ep. 315), porém, maior compaixão me causam as doenças da alma, que são mais perigosas e mais para temer“.
Oh! Quantas vezes um mal estar do corpo não nos serve de pretexto para nos concedermos certas liberalidades de que não temos nenhuma necessidade! “Um dia deixamos a oração porque sentimos dor de cabeça, diz Santa Teresa d’Ávila (Cam. da perf. , c. 10), no outro dia porque a tivemos no anterior, e no terceiro dia para que não nos volte a dor de cabeça“.
Parte II
Efeitos Salutares da Mortificação Externa
A mortificação externa é de suma utilidade para o espírito:
1. Antes de tudo, ela nos desprende dos prazeres sensuais, que ferem e, até, muitas vezes, matam a alma. “As chagas do amor divino impedem que as chagas da carne nos atormentem“, diz Orígenes.
2. Pela mortificação expiamos os castigos temporais devidos a nossos pecados. Se depois de uma dolorosa confissão nos é tirada a culpa do pecado, não deixamos por isso de ficar sujeitos aos castigos temporais. Se não os expiarmos durante a vida presente, teremos de recuperar o que perdemos no Purgatório. Mas aí os castigos são imensamente maiores. “Os que não fizeram penitência por seus pecados se verão em grandíssima tribulação” (Apoc 2, 22).
Santo Antônio narra que o Anjo da Guarda deu a escolher a um doente entre o ficar três dias no Purgatório e o suportar ainda dois anos a sua doença. O doente escolheu os três dias de Purgatório; apenas, porém, se escoara uma hora, e já se queixava ao Anjo que, em vez de deixá-lo por alguns dias nessas penas, já as suportava durante tantos anos. Então respondeu-lhe o Anjo: Que dizes? Teu corpo se acha ainda quente em teu leito mortuário e já falas de anos?
Se, pois, tiveres de padecer alguma coisa, alma cristã, dize a ti mesma: Isso me deve servir de Purgatório. A alma, e não o corpo, deve sair vencedora!
3. A mortificação eleva a alma até Deus.
Segundo São Francisco de Sales, nunca a alma poderá chegar até Deus sem a mortificação e sujeição da carne. Sobre esse ponto Santa Teresa d’Ávila (Fund., c. 5) nos deixou várias e belas sentenças: “É um grande engano crer que Deus admite a Seu trato familiar homens efeminados“. ”Vida voluptuosa e oração não se harmonizam“. “Almas que verdadeiramente amam a Deus, não aspiram a descanso corporal“.
4. Pela mortificação alcançamos uma grande glória no Céu.
“Se os combatentes se privam de todas as coisas que minoram suas forças,diz o Apóstolo (I Cor 9, 25), e que poderiam impedi-los de alcançar uma coroa corruptível, quanto mais nos devemos nós mortificar para conseguirmos uma coroa inapreciável e eterna“. São João viu todos os Bem-Aventurados com “palmas nas mãos” (Apoc 7, 9). [E a palma é o símbolo tradicional do martírio.] Daí devemos concluir que todos nós, para nos salvar, devemos ser mártires, quer o sejamos pela espada dos tiranos ou pela mortificação.
Devemos, entretanto, considerar que “as penalidades da presente vida, não têm proporção alguma com a glória vindoura que se manifestará em nós“. O que aqui é para nós humana tribulação, momentânea e ligeira, produz em nós, de um modo maravilhoso no mais alto grau, um peso eterno de glória (2 Cor 4, 17).
Avivemos, portanto, nossa fé! Curta é a nossa peregrinação aqui na terra: nossa morada vindoura é além, onde aquele que na vida mais se mortificou receberá uma glória e alegria maior. São Pedro (I Ped 2, 5) diz que os Bem-Aventurados são as pedras vivas com as quais é edificada a Jerusalém Celeste. Mas, como canta a Igreja (In dedic. eccl.), essas pedras devem primeiramente ser trabalhadas com o cinzel da mortificação. Tenhamos sempre em vista esse pensamento e se nos tornará fácil todo o esforço e trabalho.
Se alguém soubesse que ele receberia todos os terrenos que ele percorresse num dia, quão fácil e agradável não lhe pareceria o trabalho dessa caminhada!
Conta-se que um monge planejava trocar sua cela com uma outra que se achava mais próxima da fonte d’água. Ao ir, porém, um dia, buscar água, ouviu que atrás de si contavam seus passos; virando-se para trás, viu um jovem que lhe disse: Sou um Anjo e conto teus passos, para que nenhum fique sem recompensa. Ouvindo isso, não pensou mais o monge em mudar de cela, pelo contrário, teria desejado até que estivesse ainda mais longe, para que pudesse adquirir mais merecimentos.
5. E não são só os bens da vida futura que os cristãos mortificados têm a esperar; eles já possuem nesta vida um bem sumamente precioso na paz e na felicidade que desfrutam na terra. Ou poderá talvez existir uma coisa mais agradável para uma alma que ama a Deus do que o pensamento de que com sua mortificação faz coisa agradável a Deus? Tais almas experimentam na privação de prazeres sensuais e até em seus padecimentos uma grande alegria, não sensual, mas espiritual.
O amor não pode ficar ocioso: quem ama a Deus não pode viver sem lhe dar contínuas provas de seu amor. Ora, não pode uma alma testemunhar melhor o seu amor para com Deus do que renunciando por Ele às alegrias deste mundo e sacrificando-Lhe seus sofrimentos.
Uma alma que ama a Jesus Cristo nem sequer sente quando se mortifica. “Se se ama não se sente nenhuma pena“, diz Santo Agostinho (In Jo trat. 48). Quem poderá, de fato, ver seu Redentor coberto de chagas, afligido e perseguido, sem abraçar, a Seu exemplo, os sofrimentos, e até desejá-los? pergunta Santa Teresa (Vida, c. 8). Por isso protestava São Paulo que não aspirava a outra glória e outra alegria que à da Cruz de Jesus Cristo: “Longe de mim o gloriar-me a não ser da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Gál 6, 14). Segundo o mesmo Apóstolo, a diferença que existe entre os que amam a Jesus Cristo e os que não O amam, é que estes lisonjeiam a carne, enquanto aqueles cuidam em mortificá-la e crucificá-la (Gál 5, 24).
6. Pensemos, finalmente, alma cristã, que nossa morte se aproxima depressa, e que muito pouco é o que fizemos para o Céu. Procuremos, portanto, no futuro, mortificar-nos tanto quanto possível; não deixemos passar ocasião alguma de mortificação, conforme o conselho do Espírito Santo: “Não deixes passar uma partezinha do bem que te é concedido” (Ecli 14, 14). Consideremos que cada ocasião de mortificação é um presente de Deus, pelo qual podemos adquirir grandes merecimentos para a vida eterna; ponderemos que não nos será possível amanhã o que hoje podemos, visto que o tempo passado não volta mais.
Parte III
Prática da Mortificação Externa
Aquelas penitências extraordinárias podem ser praticadas por poucos cristãos, chamados por Deus para um tal modo de vida. Mas todos nós devemos manter o nosso corpo em rigoroso regime, porque somos pecadores. E, para isso, cada um de nós tem os meios. Podemos praticar a mortificação externa no uso de todos os nossos sentidos, em todas as nossos ações, em todos os passos e condições de nossa vida.
Para isso, basta abraçar aquilo que é difícil à nossa natureza. Por exemplo, de manhã, levantar-se a uma hora fixa, entregando-se com pontualidade à oração;assistir o Santo Sacrifício da Missa; renunciar a um prazer proibido ou a uma leitura perigosa; obedecer prontamente às ordens dos pais ou superiores; cumprir principalmente com fidelidade os deveres e os trabalhos cotidianos; suportar com paciência tribulações e sofrimentos: são, essas coisas todas, mortificações que, praticadas com pura intenção, são muito agradáveis a Deus e mui meritórias para o Céu.
Falaremos aqui, alma cristã, de várias mortificações pequenas aque te podes sujeitar sem perigo para tua saúde e com sumo proveito para tua alma.
1. Mortificação da vista
As primeiras setas que ferem uma alma casta e, às vezes, a matam, entram pelos olhos. Por meio dos olhos entram no espírito os maus pensamentos. “Não se deseja o que não se vê“, diz São Francisco de Sales. Não leias, por isso, nunca, livros proibidos ou perigosos. Renuncia, de vez em quando, ao prazer de ver coisas extraordinárias, ainda que sejam inteiramente decorosas.
Segundo São Jerônimo (Ep. ad Fur.), é o rosto o espelho da alma e os olhos castos dão testemunho da castidade do coração.
2. Mortificação do ouvido
Evita ouvir conversas inconvenientes ou difamações, e mesmo conversas mundanas sem necessidade, pois estas enchem nossa cabeça com uma multidão de pensamentos e imaginações que nos distraem e perturbam mais tarde nas nossas orações e exercícios de piedade. Se assistires a conversas inúteis, procura quanto possível dar-lhes outra direção, propondo, por exemplo, uma importante questão. Se isso não der resultado, procura retirar-te ou, ao menos, cala-te e baixa os olhos para mostrar que não achas gosto em tais conversas.
3. Mortificação do olfato
Renuncia a todos os vãos perfumes, sejam quais forem; suporta, antes, de boa vontade, o mau cheiro que reina em geral nos quartos dos doentes. Imita o exemplo dos Santos que, animados pelo espírito de caridade e mortificação, sentiam tanto gosto no ar corrompido das enfermarias, como se estivessem em jardins de flores odoríferas.
4. Mortificação do tato
Quanto ao tato, esforça-te por evitar qualquer falta, pois cada falta neste sentido contêm um perigo de morte eterna para a alma. Emprega toda modéstia e cuidado não só a respeito dos outro, mas também de ti mesmo, para conservar a bela jóia da pureza. Procura, quanto possível, refrear pela mortificação esse sentido.
São João da Cruz dizia que, se alguém ensinasse que a mortificação do tato não é necessária, não se lhe deveria dar crédito, ainda que operasse milagres. Jesus Cristo mesmo disse uma vez à Madre Maria de Jesus, carmelita: “O mundo precipitou-se no abismo por causa do prazer, e não da mortificação“.
Se não temos coragem de crucificar a nossa carne com penitências, ao menos esforcemo-nos por suportar com paciência as pequenas contrariedades que Deus mesmo nos envia, como doenças, calor, frio, etc. Digamos com S. Bernardo (Medit., c. 15): “O desprezador de Deus deve ser esmagado; ele merece a morte: deve ser crucificado“. Sim, meu Deus, é justo que quem Vos desprezou seja castigado; eu mereço a morte eterna; seja eu, pois, crucificado neste mundo, para que não sofra eternamente no outro.
5. Mortificação do paladar
Quanto à mortificação do paladar, será bom desenvolver mais a fundo a necessidade e a maneira de nos mortificarmos nesse sentido.
§ 5.1 – Santo André Avelino diz que quem deseja alcançar a perfeição, deve começar com uma séria mortificação do paladar. Antes dele já o afirmara São Gregório Magno (Mor., 1. 30, c. 26): “Para se poder dispor para o combate espiritual, deve-se reprimir a gula“. O comer, porém, satisfaz necessariamente ao paladar: não nos será, pois, lícito, comer coisa alguma?
Certamente devemos comer: Deus mesmo quer que, por esse meio, conservemos a vida do corpo para O servirmos enquanto nos permite ficar no mundo. Devemos, porém, cuidar de nosso corpo do mesmo modo, diz o padre Vicente Carafa, como o faria um rei poderoso com um animal que ele, com as próprias mãos, tivesse de tratar várias vezes durante o dia; seguramente cumpriria o seu dever; mas, como? Contrariado e desgostoso e o mais depressa possível. ”Deve-se comer para viver, diz S. Francisco de Sales, e não viver para comer“.
Parece, contudo, que muitos vivem só para comer, como os irracionais. O homem assemelha-se ao animal, diz S. Bernardo, e deixa de ser espiritual e racional, se gosta da comida como o animal. Assim assemelhou-se aos animais o infeliz Adão, comendo do fruto proibido. Se os animais tivessem tido o uso da razão, acrescenta o mesmo Santo (In Cant., s. 35), ao verem Adão se esquecer de Deus e de sua salvação eterna por causa do miserável desejo de uma fruta, certamente haveriam de exclamar: “Vede, Adão se tornou um animal como nós!” Isso levou Santa Catarina de Sena a dizer: ”É impossível que aquele que se não mortifica no comer, conserve a inocência, visato que Adão a perdeu em razão de seu gosto de comer“. Como é triste ver homens “cujo Deus é o ventre“ (Filip 3, 19).
Tomemos cuidado para que não sejamos subjugados por esse vício animal. É verdade que nos devemos alimentar para a conservação da vida, diz Sto. Agostinho; mas devem-se tomar os alimentos como os remédios, isto é, só tanto quanto necessário, e nada mais. A intemperança no comer prejudica a alma e o corpo. Quanto ao corpo, é fora de dúvida que grande número de doenças provêm desse vício: apoplexia, dor de cabeça, dores de estômago e outros males. As doenças do corpo, porém, são o menor mal; um mal muito pior são as doenças da alma que disso se originam.
Primeiramente, obscurece esse vício o entendiemnto, como ensina S. Tomás, e o torna imprestável para os exercícios espirituais, particularmente para a oração. Assim como o jejum dispõe a alma para a meditação de Deus e dos bens eternos, assim a intemperança retrai disso. Segundo S. João Crisóstomo, aquele que enche o estômago com comidas é semelhante a um navio muito carregado, que apenas se pode mover do lugar: ele se acha em grande perigo de afundar, se uma tempestade de tentações lhe advêm.
Além disso, quem concede toda a liberdade a seu paladar, facilmente estenderá a mesma liberdade aos outros sentidos, pois, se o recolhimento de espírito desapareceu, facilmente se cometem ainda outras faltas por palavras e obras. O pior é que, pela intemperança no comer e beber, expõe-se a castidade a um grande perigo. “Excessiva saciedade produz lascívia“, diz S. Jerônimo (Adv. Jovin., 1. 2). E Cassiano afirma que é simplesmente impossível ficar livre de tentações impuras, enchendo-se o estômago de comidas.
Os Santos, justamente porque queriam conservar a castidade, eram tão rigorosos na mortificação do paladar. ”Se o demônio é vencido nas tentações de intemperança, diz o Doutor Angélico, não nos continua a nos tentar à impureza“.
Os que cuidam em mortificar o paladar fazem contínuos progressos na vida espiritual. Adquirem mais facilidade em mortificar os outros sentidos e em praticar as outras virtudes. Pelo jejum, assim se exprime a Santa Igreja em suas orações, concede o Senhor à nossa alma a força de superar os vícios, de se elevar acima das coisas terrenas, de praticar a virtude e adquirir merecimentos infinitos (Praef. Quadrag.).
Os homens sensuais objetam que Deus criou os alimentos para que nos utilizemos deles. Mas os cristãos fervorosos são da opinião do venerável padre Vicente Carafa, que diz, como notamos acima, que Deus nos deu as coisas deste mundo não só para nosso gozo, mas também para que tivéssemos ocasião de Lhe fazer um sacrifício. Quem é dado à gulodice e não se esforça por se mortificar nesse ponto, nunca fará um progresso notável na vida interior. Regularmente, se come várias vezes durante o dia; quem, pois, não procura mortificar o desejo de comer, cometerá quotidianamente muitas faltas.
§ 5.2 - Vejamos agora o modo como devemos mortificar o nosso paladar.
a) Quanto à qualidade das comidas, diz São Boaventura, que não se devem escolher comidas muito especiais, mas contentar-se com pratos simples.Segundo o mesmo Santo, é sinal de alguém estar muito atrasado na vida espiritual não ficar contente com as comidas que se lhes apresentem e desejar outras que agradem mais ao paladar, ou requerer que sejam preparadas de um modo particular. Mui diversamente procede quem é mortificado: contenta-se com o que se lhe dá e, se diferentes pratos são trazidos, certamente escolherá aqueles que menos satisfazem ao paladar, contanto que não lhe façam mal.
É muito recomendável privar-se, por mortificação, de temperos desnecessários, que só servem para lisonjear o paladar. O tempero de que usavam os Santos era a cinza e o absinto. Não exijo de ti, alma cristã, tais mortificações, nem tampouco muitos jejuns extraordinários. Não sou, de forma alguma, contrário a que jejues com todo o rigor em certos dias particulares, como na sexta-feira ou no sábado, ou nas vésperas das festas de Nosso Senhor ou em dias semelhantes, pois isso costumam fazer os cristãos verdadeiramente piedosos.Se, porém, não possuis tanta piedade ou se tuas enfermidades não te permitem guardar rigorosos jejuns, deves ao menos te contentar com o que te servirem e não te queixar das comidas.
b) Quanto à quantidade das comidas, diz São Boaventura: “Não deves comer mais, nem mais vezes, do que te é necessário para sustentar, e não para agravar, teu corpo“. Por isso, é uma regra, para todos os que querem levar uma vida devota, não comer nunca até à saciedade, como São Jerônimo aconselhava à virgem Santa Eustóquio, escrevendo-lhe: “Sê sóbria no comer e nunca enchas o estômago“. Alguns jejuam num dia e comem demais no dia seguinte; é melhor, segundo S. Jerônimo, tomar regularmente a alimentação necessária, do que comer demasiadamente depois do jejum. Com razão dizia um Padre do deserto: “Quem come mais vezes, tendo, apesar disso, sempre fome, receberá uma recompensa maior do que aquele que come raras vezes, mas até à saciedade“. “Uma temperança constante e regrada, diz S. Francisco de Sales, é melhor que um rigoroso jejum de vez em quando, ao qual se faz seguir uma falta de mortificação” (Filotéia, p. 3, c. 23).
Se alguém quer reduzir seu sustento à justa medida, convém que o faça pouco a pouco, até que conheça, pela experiência, até onde pode ir na mortificação sem se causar sensível dano.
Contudo, todos devem tomar como regra o comer pouco à noite, mesmo quando lhes parecer que necessitam de mais; a fome de noite é, muitas vezes, só aparente e, se se passa um pouco só da justa medida, sente-se muito incômodo na manhã seguinte: sente-se dor de cabeça, dores de estômago, está-se indisposto, e até incapaz de qualquer trabalho espiritual.
Quanto à medida que se deve guardar no beber, sem perigo algum para tua saúde, podes te impôr a mortificação de nada beberes fora da refeição, a não ser que devas ceder a um especial impulso da natureza, para não te causares algum dano, como pode acontecer no verão. São Lourenço Justiniano, porém, nunca bebia coisa alguma fora da refeição, mesmo nos dias de maior calor, e quando se lhe perguntava como podia suportar a sede, respondia: “Como poderei suportar as chamas do Purgatório, se não puder suportar agora esta privação?”
Referindo-se ao vinho, diz a Sagrada Escritura: “Não dês vinho aos reis” (Prov 31, 4). Sob essa expressão de reis, não se entendem os que reinam sobre nações, mas todos os homens que domam suas paixões e as submetem à razão. Infelizes daqueles que são dados ao vício da embriaguês, diz a Sagrada Escritura (Prov 23, 29). E por quê? Porque o vinho torna o homem luxurioso (Prov 20,1). Por isso escreveu S. Jerônimo à virgem Eustóquio: “Se quiseres permanecer pura, como deve ser uma esposa de Jesus Cristo, evita o vinho como veneno: vinho e mocidade são duas iscas” (Ep. 22 ad Eust.).
De tudo isso devemos deduzir que aqueles que não possuem virtude ou saúde suficiente para renunciar por completo ao vinho, devem ao menos servir-se dele com grande sobriedade, para não serem atormentados por mui fortes tentações impuras.
c) Sobre a questão de quando e como se deve comer, São Boaventura nos ensina o seguinte:
Primeiro, não se deve comer fora de hora, isto é, fora da hora da refeição comum. Um penitente de São Filipe Néri tinha esse defeito. O Santo o corrigiu com as palavras: “Meu filho, se não te emendares dessas falta, nunca chegarás a ter uma vida espiritual“.
Segundo: nunca se deve comer desregradamente, isto é, com avidez, por exemplo, enchendo a boca demais, com tal pressa que antes de se engolir um bocado já se leva outro à boca. “Não sejas glutão em banquete algum” (Ecli 37, 22), diz-nos o Espírito Santo. Além disso, deves tomar os alimentos com a boa intenção de conservar as forças do corpo, para podermos servir ao Senhor.
A justa medida no comer exclui também um jejum imoderado, pelo qual um se torna incapaz de cumprir com seus deveres de estado. Cometem muitas vezes essa falta os principiantes: levados por aquele zelo sensível que Deus costuma conceder-lhes no princípio para animá-los no caminho da perfeição, impõem-se privações e jejuns excessivos, que tem por resultado transtornar-lhes a saúde e fazê-los abandonar tudo. O patrão que entrega seu cavalo a um criado para que o trate, certamente não só o repreenderá não só se nada der ao cavalo, como se der demais.
Livro “Escola da Perfeição Cristã”, de Santo Afonso Maria de Ligório
************************************A devoção à Sagrada Paixão (Santo Afonso Maria de Ligório)
A DEVOÇÃO À SAGRADA PAIXÃO
(SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO)
§I. A meditação da Paixão de Cristo esclarece nosso entendimento
1. A Paixão de Cristo faz-nos conhecer
a Justiça e a Misericórdia de Deus
2. A Paixão de Cristo nos mostra o amor
do Eterno Pai para com os homens
3. Por Sua Paixão Jesus Cristo
dá a conhecer quanto Ele nos ama
§II. A meditação da Paixão de Cristo nos enche de consolação
1. Nas nossas angústias
2. Nas nossas tribulações
3. Nas nossas enfermidades
4. Na hora da nossa morte
§III. A meditação da Paixão de Cristo nos conduz à perfeição
1. A meditação da Paixão de Cristo constitui a ciência dos Santos
2. A meditação da Paixão de Cristo inflama-nos no fogo do amor divino
3. A meditação da Paixão de Cristo excita-nos à prática de todas as virtudes
§IV. Avisos práticos
§V. Ladainha da Paixão do Senhor
+ + +
§I. A meditação da Paixão de Cristo esclarece nosso entendimento
Sabendo os Santos quão agradável é a Jesus Cristo a recordação constante de Sua Paixão, estavam sempre ocupados em meditar continuamente nas dores e ultrajes que esse amável Salvador sofreu durante toda a Sua vida, mas, em especial, no fim da mesma. Oh! Quanta luz nos traz a meditação sobre um Deus a padecer por nós!
1. A Paixão de Cristo faz-nos conhecer a Justiça e a Misericórdia de Deus
Segundo São João Crisóstomo, não é tanto o inferno com o qual Deus castiga o pecador, mas sim a vista de Jesus Cristo na Cruz, que nos dá uma idéia do rigor da Justiça Divina, pois no inferno são as criaturas que são castigadas por seus pecados: na Cruz, porém, padece um Deus para expiar os pecados dos homens. Estava Jesus Cristo talvez obrigado a morrer por nós? De nenhuma forma, responde Isaías, mas “foi sacrificado porque Ele mesmo o quis” (Is 53, 7). Ele podia, com toda justiça, abandonar o homem à sua ruína livremente escolhida; Seu amor, porém, não Lhe permitiu entregar-nos à perdição eterna e, por isso, quis submeter-se a uma morte tão dolorosa para obter-nos a salvação. “Ele nos amou e se entregou a si mesmo por nós” (Ef 5, 2).
Deus amou o homem desde toda a eternidade. “Com amor eterno amei-te Eu” (Jer 31, 3). Vendo-se, porém, Sua Justiça obrigada a condenar o homem e a lançá-lo eternamente no inferno, sentiu-se levado por Sua Misericórdia a inventar um meio de o salvar. E que meio foi esse? Devia em pessoa satisfazer à Justiça Divina por meio de Sua Morte. O Senhor quis por isso que o decreto que condenava o homem à morte eterna fosse pregado na Cruz e apagado com Seu Sangue.
Por esse mesmo motivo Jesus Cristo, ao morrer na Cruz em satisfação de nossos pecados, só tinha palavras de compaixão para conosco. Ele pediu a Seu Pai que usasse de misericórdia não só com os judeus que desejavam a Sua Morte, como também com os verdugos que O executaram: “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). Em vez de castigar os dois ladrões que blasfemavam, o Divino Salvador prometeu a um deles, que Lhe pedia misericórdia, no excesso de Sua compaixão, que lhe daria o paraíso naquele mesmo dia: “Em verdade, Eu te digo que hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43). Do alto da Cruz Jesus Cristo nos deu a todos, na pessoa de São João, a Santíssima Virgem por Mãe: “Ele disse ao discípulo: Eis aí tua Mãe” (Jo 19, 27). Na Cruz deu-se Ele por feliz por ter feito tudo o que exigia a nossa salvação e terminou o Seu Sacrifício dando Sua Vida por nós.
Assim, pela Morte de Jesus Cristo, o homem foi libertado do pecado e do poder do demônio; foi reintegrado na Graça de Deus e, mesmo, em maior Graça do que a que perdera pela queda de Adão. “Quando abundou o pecado, superabundou a Graça” (Rom 5, 20).
2. A Paixão de Cristo nos mostra o amor do Eterno Pai para com os homens
“Assim amou Deus ao mundo, diz Nosso Senhor, que lhe deu Seu Filho Unigênito” (Jo 3, 16).
Devemos considerar, nessa dádiva, primeiramente, quem é que no-la faz; segundo, o que nos é dado e, terceiro, com que amor é ela feita.
1. Quanto mais nobre é aquele que nos presenteia, tanto mais valiosa é a dádiva. Se alguém recebe uma flor da mão de um rei, ele a preza mais do que um presente valioso recebido de outra pessoa. Em que consideração, pois, não devemos ter uma dádiva que nos vem das mãos do próprio Deus?!
2. E qual é o presente que Deus nos fez? É o Seu próprio Filho. Para o amor que Deus nos tinha parecia pouco todos os outros bens que Ele nos tinha dado; queria dar-nos a si mesmo na Pessoa de Seu Filho Humanado. “Ele não nos deu nenhum servo, nenhum anjo, mas Seu próprio Filho Unigênito”, diz São João Crisóstomo.
3. E por que fez Ele isso? Por nenhum outro motivo senão por amor. Pilatos entregou Jesus aos judeus por temor; o Padre Eterno, porém, deu-nos Seu Filho Unigênito por amor. Se alguém nos dá alguma coisa, o primeiro benefício que recebemos, segundo São Tomás de Aquino (I, q. 38, a. 2), consiste no amor que o doador patenteia pelo presente, pois que a causa única de um verdadeiro presente é o amor; o presente perde o caráter de um verdadeiro presente, quando é dado por um outro motivo fora do amor.
O presente, porém, que o Padre Eterno nos fez de Seu Divino Filho, foi um verdadeiro presente que Ele nos deu sem que tivéssemos o mínimo direito a ele. E por isso foi que a Encarnação, como nota o mesmo Santo Doutor, foi operada pelo Espírito Santo, isto é, pelo Amor (III, q. 32, a. 1).
Deus, porém, não só nos deu Seu único Filho por puro amor; Ele no-lo deu também com amor infinito. Foi justamente isso o que Nosso Senhor queria significar quando disse: “Tanto assim amou Deus ao mundo”. A palavra “Tanto assim”, diz São João Crisóstomo, significa a grandeza do amor com Deus nos fez esse inefável presente. Que maior amor poderia Deus nos mostrar do que condenar à morte Seu Filho inocente para nos remir a nós, miseráveis pecadores? “Não poupou a Seu próprio Filho, mas entregou-O por todos nós” (Rom 8, 32).
Que dor não deveria sentir o Padre Eterno, se Ele estivesse sujeito à dor, vendo-se obrigado, de certo modo, por Sua Justiça, a condenar a uma morte tão cruel e degradante esse Seu Filho, que Ele amava tanto como a si mesmo! O Senhor queria vê-lO consumido pelas dores (Is 53, 10).
À vista da grandeza desse amor de Deus para conosco, exclamava São Paulo: “Deus, que é rico em misericórdia, pela extremada caridade com que nos amou, ainda quando estávamos mortos pelo pecado, nos deu vida justamente em Cristo” (Ef 2, 4). O Apóstolo diz: Pelo excessivo amor com que nos amou. Mas como poderá existir em Deus um excesso? O Apóstolo assim se exprime para nos mostrar que Deus fez pelo homem coisas que não seriam acreditadas por ninguém, se a fé não nos convencesse delas. Por isso a Igreja exclama, fora de si de admiração: Ó admirável condescendência de Vosso amor para conosco! Ó infinito amor de nosso Deus que, para libertar o servo, entregou Seu próprio Filho!
3. Por Sua Paixão Jesus Cristo dá a conhecer quanto Ele nos ama
(Crucifixo pintado por Santo Afonso)
É um dogma que Jesus Cristo nos amou e que, por nosso amor, se entregou à morte. Quem poderia matar um Deus onipotente, se Ele mesmo, por livre vontade, não quisesse morrer por nós? “Eu dou a minha vida; e ninguém a tira de mim, mas Eu mesmo a entrego” (Jo 10, 17), diz o Salvador. É por isso, diz São João, que Jesus Cristo com Sua Morte, nos deu a prova mais evidente possível de Seu Amor. Com Sua Morte Jesus Cristo nos deu uma prova tão clara de Seu Amor, nota um piedoso escritor, que não Lhe ficou mais nada para nos convencer da grandeza de Seu Amor.
Na consideração da palavra: “Tenho sede”, pronunciada por Jesus agonizante na Cruz, diz São Lourenço Justiniano que essa sede não provinha da necessidade de beber, mas da ardente chama de Seu Amor para conosco. Com essas palavras o divino Salvador não queria tanto dar a conhecer Sua sede corporal, como Seu desejo de sofrer por nós, do mesmo modo como quis Ele mostrar por Suas dores todas o Seu Amor para conosco e o ardente desejo de ser amado por nós. São Basílio de Seleucia acrescenta que Jesus disse que tinha sede para nos dar a conhecer que Ele morria por amor de nós de tal modo que esse Seu desejo foi [ainda] maior que todos os sofrimentos que padeceu realmente.
Quem compreenderá jamais o amor que o Verbo Divino tem a cada um de nós? Pergunta São Lourenço Justiniano. Ele sobrepuja imensamente o amor de um filho para com sua mãe e o de uma mãe para com seu filho. Ele é tão grande que Nosso Senhor revelou a Santa Brígida (Ver. 1. 7, c. 14) que Ele estaria pronto a padecer tantas vezes quantas são as almas que se acham no inferno, se elas ainda fossem capazes de redenção. Segundo São Tomás (III, q. 47, a. 4), o divino Redentor, justamente para nos mostrar Seu Amor imenso, pediu a Deus perdão para Seus algozes (Lc 23, 34). Ele pediu o perdão e foi atendido, de forma que eles, depois de O verem morto, se arrependeram de seus pecados.
“E que Vos importava, ó bom Jesus, digo eu com São Bernardo, que Vos importava se nos perdêssemos e fossemos castigados como merecíamos? Por que quisestes sofrer em Vosso corpo inocente os castigos devidos a nossos pecados? Por que quisestes morrer, ó Divino Mestre, para nos livrar da morte? Oh! Maravilha que jamais se deu igual e nunca mais se repetirá! Oh! Graça que nunca poderíamos merecer! Oh! Amor que jamais poderemos compreender!
Oh! Meu amadíssimo Salvador! Exclama, suspirando, São Bernardo, que crime cometestes para que fosseis condenado à morte e à morte de cruz? Ah! Bem sei, continua o Santo, conheço a causa de Vossa morte; sei que pecados cometestes: Vosso crime é Vosso excessivo Amor pelos homens; foi ele e não Pilatos que Vos condenou à morte. Não, eu não vejo outra causa de Vossa morte do que Vosso excessivo Amor por nós, exclama São Boaventura. Em verdade, conclui São Bernardo, um tal excesso de Amor obriga-nos a consagrar-Vos, ó amável Redentor, todos os afetos de nosso coração” (Serm. 20, in Cant.).
Além disso, devemos pensar em que o Divino Salvador padeceu em especial por cada um de nós tudo o que Ele sofreu durante a Sua Paixão: “Vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim”, diz São Paulo (Gal 2, 20). O que diz o Apóstolo deve também dizer cada um de nós. Por isso escreve Santo Agostinho (De dilig. D., c. 6) que o homem foi resgatado por um tão grande preço que parece valer muito mais do que o próprio Deus. E o Santo ousa até acrescentar: Senhor, Vós não só me amastes como a Vós mesmo, mas até mais que a Vós, porque quisestes sofrer a morte para dela me livrardes.
§II. A meditação da Paixão de Cristo nos enche de consolação
1. Nas nossas angústias
Quem nos poderá consolar tão eficazmente neste vale de lágrimas como o nosso Salvador Crucificado? Quem nos poderá tranqüilizar quando nos sentirmos atormentados pelos remorsos de nossos pecados? O que mais, senão o pensamento de que Jesus Cristo se deu a si mesmo pelos nossos pecados? (Gal 1, 4). “Meus filhinhos, eu vos escrevo isto para que não pequeis, diz São João na sua primeira epístola (1 Jo 2, 1). Se alguém, porém, pecar, temos junto do Pai a Jesus Cristo por nosso Advogado, e este é a propiciação pelos nossos pecados”.
Jesus Cristo não cessa de pedir por nós ao Eterno Pai, apesar de Sua Morte; ainda agora é Ele nosso Intercessor e, segundo São Paulo, parece que Ele nada mais tem a fazer no Céu senão pedir ao Pai misericórdia para nós. O Apóstolo chega até a dizer que Jesus Cristo subiu ao Céu justamente “para interceder continuamente por nós diante do Pai” (Heb 9, 24). Assim como os rebeldes são expulsos da presença de seu rei, deveríamos também nós, como pecadores, ser repelidos da presença de Deus e nem sequer ser admitidos para pedir perdão; Jesus, porém, se colocou como nosso Salvador diante de Deus e alcançou-nos novamente a Graça que tínhamos perdido.
Muito mais fortemente clama por misericórdia em nosso favor o Sangue de nosso Divino Salvador do que o sangue de Abel por vingança contra Caim. “Depois que Eu me vinguei no corpo inocente de Jesus Cristo, disse um dia o Pai Eterno a Santa Maria Madalena de Pazzi, minha justiça transformou-se em benignidade. O Sangue de meu Filho não pede vingança, como o sangue de Abel, mas misericórdia e compaixão; e, a tal brado, minha justiça fica apaziguada”.
Esse Sangue prende, de certo modo, as mãos do Senhor, de forma que Ele não as pode mais levantar para castigar os pecadores. “Que tens a temer, ó pecador, pergunta São Tomás de Villanova, se pretendes deixar o pecado? Como poderá te condenar esse amante Salvador, que morreu para te não condenar? Como poderá repelir-te quando te voltas para Ele, se Ele, quando fugias de Sua presença, desceu do Céu em busca de ti?”
2. Nas nossas tribulações
Onde encontraremos força para suportar com paciência e resignação todas as perseguições, calúnias, humilhações, perda de bens e honras, senão na meditação de nosso Salvador pobre, desprezado e caluniado, que morre despido e abandonado por todos em uma Cruz? Quando vemos as grandes tribulações de nosso Salvador Crucificado, diz São Bernardo, devemos menosprezar as nossas. “Que coisa não te parecerá doce, pergunta o mesmo Santo, se pensares na amargura de teu Salvador?” Perguntado uma vez São Elzeário por sua esposa Delfina sobre como podia suportar tantas injúrias com tão grande calma, respondeu: Quando me injuriam, penso no que sofreu o Salvador Crucificado, e retenho esse pensamento até que volte por inteiro a calma.
Quando, pois, nos sentimos interiormente abandonados e privados da presença sensível de Deus, unamos o nosso desamparo ao que Jesus Cristo sofreu na Sua Morte. Às vezes o Salvador se esconde às Suas almas mais queridas; nunca, porém, se afasta de seus corações, e continua a auxiliá-las internamente com Sua Graça. Não se dá Ele por ofendido quando, em circunstâncias tais, Lhe dizemos o que Ele disse a Seu Eterno Pai, no Jardim das Oliveiras: “Meu Pai, se for possível, afastai de mim este cálice” (Mat 26, 39). Mas devemos também ajuntar imediatamente: “Não se faça como eu quero, mas como Vós quereis”. E se o desamparo continua, devemos também prosseguir na repetição desse ato de resignação, como o fez Jesus Cristo nas três horas de Sua agonia.
À Irmã Madalena Orsini, que por muito tempo se achava em grandes tribulações, apareceu uma vez o Salvador Crucificado e exortou-a a sofrer com paciência. A serva de Deus respondeu-Lhe: Mas, Senhor, Vós padecestes só três horas na Cruz, ao passo que eu já sofro este tormento há vários anos. Jesus repreendeu-a então, dizendo: Ó ignorante, que dizes? Desde o primeiro instante de minha existência no ventre de minha Mãe experimentei em meu Coração tudo o que sofri mais tarde na Cruz.
III. Nas nossas enfermidades
Que coisa nos poderá consolar mais em nossas doenças do que a vista de Jesus Crucificado? Quando estamos doentes, temos ao menos um leito: Jesus, porém, em Sua Morte dolorosíssima, em vez de um leito, tinha o duro madeiro da Cruz ao qual estava pregado com três cravos; em vez de um travesseiro, tinha, para repousar Sua dolorida cabeça, aquela coroa de espinhos que O atormentou até o Seu último suspiro.
Como quisessem atar com cordas ao santo capuchinho José de Leonissa, para sujeitá-lo a uma dolorosa operação, tomou ele o seu crucifixo e exclamou: Para que cordas? Eis aqui as minhas cordas; meu Senhor e Salvador, que foi pregado na Cruz por amor de mim, é Quem me ata; por Suas dores Ele me obriga a suportar pacientemente, por amor dEle, toda e qualquer dor. E, à vista de Jesus, que na Sua Paixão “não abriu a boca, como um cordeiro diante do que o tosquia”, sofreu ele a operação sem proferir uma só palavra de queixa.
Quando estamos doentes, amigos compassivos e parentes estão ao redor de nós, procurando minorar as nossas penas; Jesus, porém, morreu no meio de Seus inimigos, que não cessaram, mesmo na Sua agonia e até ao Seu último suspiro, de O injuriar e de tratá-lO como um criminoso e sedutor do povo. Certamente nada é tão próprio para consolar a um doente, especialmente se ele se vê abandonado pelos homens, do que a vista de Jesus Crucificado. Oh! Sim, a maior consolação que o doente pode então sentir consiste em poder ele unir seus sofrimentos com os de Jesus Cristo.
IV. Na hora da nossa morte
Quando começa o último combate de um moribundo e os ataques do inferno, a lembrança dos pecados cometidos e das contas que brevemente terá de prestar diante do tribunal de Deus, lhe ocasionam agonias mortais, a única consolação que lhe fica é abraçar a Cruz e dizer: Ó meu Jesus e meu Salvador, Vós sois o meu amor e a minha esperança.
Achando-se uma vez enfermo, São Bernardo foi transportado, em uma visão, diante do tribunal de Deus e, aí, acusado de seus pecados pelo demônio, que lhe afirmava que ele não merecia o Céu. Respondeu então o Santo: Sim, eu não mereço o Céu, mas Jesus tem um duplo direito a ele: primeiro, porque Ele é o verdadeiro Filho de Deus; segundo, porque adquiriu o Céu por Sua Morte. Ele contenta-se com o primeiro título e deixa-me o segundo; por isso peço o Céu e espero alcançá-lo.
Assim podemos também falar, pois São Paulo diz que Jesus Cristo quis morrer consumido pelas dores para abrir o Céu a todos os pecadores arrependidos, que estão decididos a não pecar mais. A vista do Salvador morrendo na Cruz dava aos Mártires a coragem e força de suportar com paciência os mais horrendos tormentos que a crueldade dos tiranos podia imaginar; e isso os fazia não só suportar com paciência, mas até com alegria e com o desejo de sofrer ainda mais por amor de Jesus Cristo.
Eis a célebre carta que Santo Inácio de Antioquia escreveu aos cristãos, quando ele foi condenado a ser lançado aos animais bravios: “Meus filhos, eu sou o trigo de Deus; deixai que eu seja moído pelos dentes dos animais bravios, para que eu me torne um pão delicioso a meu Salvador. Eu procuro somente Aquele que morreu por nós. Deixai-me imitar a Paixão de meu Salvador. Ele, que é o único objeto de meu amor, e o amor que Lhe tenho excita em mim o desejo se ser também crucificado por Ele”.
§III. A meditação da Paixão de Cristo nos conduz à perfeição
1. A meditação da Paixão de Cristo constitui a ciência dos Santos
O Apóstolo dizia que não queria saber outra coisa “senão Jesus Cristo, e este crucificado” (I Cor 2, 2). E, realmente, em que livros poderíamos aprender melhor a ciência dos Santos, que consiste em saber amar a Deus, do que em Jesus Crucificado? Os confrades do Beato Bernardo de Corleone, irmão capuchinho, queriam ensinar-lhe a ler, visto que não o sabia. Ele se aconselhou com seu Crucifixo e Jesus respondeu-lhe da Cruz: Para que livros? Para que aprender a ler? Eu sou o teu livro, no qual poderás constantemente ler o amor que te votei”. Oh! Que importante objeto de meditação para a vida inteira e para a eternidade não é este: um Deus morreu por amor de nós... um Deus morto por amor de nós...
Visitando um dia São Tomás de Aquino a São Boaventura, perguntou-lhe de que livro mais se servia para escrever tão belas coisas em suas obras. São Boaventura mostrou-lhe o seu Crucifixo, que já estava enegrecido pelos muitos ósculos, e disse-lhe: Este é o livro do qual tiro tudo o que escrevo; nele aprendi o pouco que sei.
2. A meditação da Paixão de Cristo inflama-nos no fogo do amor divino
Quem poderá amar outra coisa fora de Jesus, vendo como Ele morre com tantas dores e tão desprezado, para alcançar o nosso amor? Um devoto eremita pediu certa vez ao Senhor que lhe dissesse o que deveria fazer para amá-lO perfeitamente. O Senhor revelou-Lhe então que, para se chegar ao amor perfeito de Deus, nada há mais próprio do que a meditação freqüente de Sua Paixão. Oh! Se todos os homens meditassem na Paixão e Morte de Jesus Cristo, não existiria mais nem um só que não amasse esse Deus amoroso. “Cristo morreu por todos para que os que vivem não vivam mais para si, mas para Aquele que morreu por eles”, diz São Paulo (II Cor 5, 15).
A maior parte dos homens, porém, vive só para o pecado e para o demônio, e não para Jesus Cristo, apesar de um Deus ter morrido por eles. [entretanto, já] Platão dizia que o amor inspira amor, e Sêneca repetia amiúdo: “Se quiseres ser amado, ama”.
Ora, Jesus Cristo, morrendo por nós, nos amou quase que até à loucura, como nota São Gregório (Hom. 6 in evang.). Como é, pois, possível que, apesar de tantas provas de amor, não pôde ganhar os nossos corações? Como é possível que Ele não consiga ser correspondido por nós, depois de tanto nos ter amado? Todos os Santos aprenderam a arte de amar a Deus através da meditação do Crucificado.
Todas as vezes que São João do Alverne contemplava o Seu Salvador coberto de Chagas, não podia reprimir suas lágrimas. Jacopone de Todi, ao ouvir ler a Paixão de Cristo, não só derramava lágrimas, mas também rompia em altos soluços, subjugado pelo amor que lhe acendia a recordação de seu amado Salvador. Numa palavra, que cristão, meditando amiúdo a Paixão de Jesus Cristo, poderá viver sem amar a seu Salvador?
As Chagas de Jesus Cristo, diz São Boaventura, são outras tantas Chagas de Amor, são setas e chamas, que ferem os corações mais duros e as almas mais frias. O Beato Henrique Suso, para imprimir mais profundamente em seu coração o amor a seu Salvador Crucificado, tomou certa vez um ferro cortante e com ele feriu-se no peito, escrevendo ali o Santíssimo Nome de seu amado Senhor e, escorrendo sangue, dirigiu-se à igreja, prostrou-se aos pés do Crucifixo e disse-Lhe: Senhor, ó único amor de meu coração, eu quereria imprimir-Vos mais profundamente ainda em meu coração; mas isso me é impossível; Vós, porém, que tudo podeis, supri o que me falta em forças e imprimi Vosso adorável Nome tão profundamente em meu coração, que nem Vosso Nome, nem Vosso Amor possa jamais ser nele apagado.
Imitemos a esposa dos Cânticos, que diz: “Assentei-me à sombra daquele a quem eu desejava” (Cant 2, 3). Detenhamo-nos muitas vezes aos pés de nosso amável Redentor; imaginemo-lo morrendo na Cruz; meditemos Sua Paixão e o amor que nos mostrou lutando com a morte nesse leito de dores. Oh! Pudéssemos todos dizer de nós mesmos: Descansaremos sempre à sombra da Cruz.
Que doce paz não desfrutam as almas que amam a Deus no meio do reboliço do mundo, das tentações do demônio, do temor dos juízos de Deus, quando a sós, aos pés de seu amante Salvador, meditam em silêncio como Ele luta na Cruz com a morte e como Seu Sangue divino corre de todos os Seus membros rasgados pelos açoites, espinhos e cravos.
Em verdade, à vista de Jesus Crucificado, desaparecem de nossa alma todos os desejos de honras mundanas e bens terrenos. Então sopra da Cruz uma aragem suave e celestial, que nos desprende brandamente das coisas terrenas e acende em nós um santo desejo de padecer e morrer por amor dAquele que quis padecer, por amor de nós, tantos tormentos e a mesma morte.
3. A meditação da Paixão de Cristo excita-nos à prática de todas as virtudes
Isaías prometeu (Is 30, 20) aos homens que haviam de ver a seu divino Mestre com seus próprios olhos para poderem imitá-lO. A vida inteira de Jesus foi um exemplo permanente para nós e uma escola de perfeição; em nenhum outro lugar, porém, nos deu Ele uma lição mais perfeita e prática das virtudes do que na cátedra da Cruz. Com que perfeição não nos ensina daí a paciência, principalmente nas enfermidades, visto que suportou na Cruz, com a maior paciência, as dores de Sua dolorosa Paixão.
Do alto da Cruz nos ensina, com Seu exemplo, a mais perfeita obediência aos preceitos de Deus, a inteira submissão à Sua santa Vontade e, acima de tudo, a maneira de como devemos amar a Deus. O padre Paulo Ségneri, o Jovem, aconselhou a um penitente seu que escrevesse as seguintes palavras aos pés de seu Crucifixo: Vede aqui como se ama. Parece que o Salvador nos dirige as mesmas palavras do alto da Cruz, quando nós, para não termos de suportar um pequenos incômodo, deixamos a prática da virtude e até renunciamos à Sua Graça e ao Seu Amor. Ele nos amou até à morte, e não desceu da Cruz antes de dar Sua vida por nós.
Nessa escola do Salvador Crucificado aprenderam os Santos a praticar todas as virtudes. Fortificados pela vista de Jesus desprezado na Cruz, amam o desprezo mais do que os mundanos as honras do mundo. Eles vêem a Jesus morrer nu na Cruz e procuram privar-se de todos os bens da terra. Eles O vêem todo coberto de Chagas e derramando Sangue de todos os membros, e uma profunda aversão a todos os prazeres sensuais se apodera deles; só pensam então em martirizar, de todo modo possível, a sua carne, para se unirem, por meio de suas dores, a seu Salvador Crucificado.
Eles, vendo Jesus obediente em todos os passos e conformado à Vontade de Deus, e esforçam em subjugar todas as suas inclinações que não são conformes à Vontade de Deus. Eles vêem a paciência com que Jesus se submeteu, por amor de nós, a tantas penas e ultrajes, e suportam com resignação e até com alegria as injúrias, doenças, perseguições e maus tratos dos tiranos. Eles vêem, finalmente, o amor que Jesus Cristo nos mostra, sacrificando na Cruz Sua vida por nós, e oferecem a Deus em sacrifício tudo o que possuem: bens, satisfações, honras e a própria vida.
Donde, porém, provém que, apesar de tantos outros cristãos saberem e crerem que Jesus Cristo morreu por eles, em vez de se consagrarem inteiramente ao Seu serviço e Seu amor, parece que só cuidam em ofendê-lO e desprezá-lO por miseráveis e transitórias satisfações? Donde provém uma tal ingratidão? Do esquecimento da Paixão e Morte de Jesus Cristo. Horríveis, porém, serão, no dia do Juízo, o remorso e a vergonha dos pecadores, quando o Senhor lhes lançar em rosto tudo o que fez e padeceu por eles.
§IV. Avisos práticos
1. Não deixemos passar um só dia sem refletir na Paixão de Jesus Cristo, tomando-A por objeto de nossa meditação, ou então rezando a Via-Sacra. Segundo Santo Agostinho, nada existe que, com maior eficácia, nos possa auxiliar na aquisição da perfeição, do que a recordação cotidiana dos sofrimentos que Jesus Cristo suportou por nosso amor. Por issodizia o padre Baltazar Álvarez que a perdição de tantos cristãos provém da sua ignorância a respeito dos tesouros espirituais que encontramos em nosso Salvador Crucificado.
Costumava, por esse motivo, dizer a seus penitentes que não deviam crer ter feito algum progresso na vida espiritual, enquanto não tivessem conseguido trazer constantemente em seus corações a Jesus Crucificado. Já Orígenes dizia que o pecado não pode reinar em uma alma que reflete muitas vezes na morte de Jesus Cristo. Além disso, diz Santo Agostinho que uma única lágrima que se derrame por causa da Paixão de Cristo vale mais do que uma peregrinação a Jerusalém e um ano de jejum a pão e água.
O divino Salvador quis padecer tanto para que nos lembrássemos sempre de Sua Paixão, visto ser impossível refletir nela e não se abrasar em amor de Deus, pois “o amor de Cristo nos constrange”, diz São Paulo (2 Cor 5, 14). Jesus é amado por poucos, porque só poucos meditam nos sofrimentos a que Ele quis se sujeitar por nossa causa; quem os medita amiúdo, não pode viver sem O amar, porque se sentirá constrangido por Seu amor de tal forma, que se lhe tornará impossível não retribuir o amor de um Deus tão amoroso, que padeceu tanto para ser amado por nós.
2. Veneremos também devotamente a imagem de Jesus Crucificado. Santa Gertrudes viu, em uma visão, como escreve Blósio, que Jesus contempla amorosamente todo aquele que olha devotamente um Crucifixo. Muitos cristãos têm em casa um belo Crucifixo, mas infelizmente só como ornato. Admiram sua perfeição, assim como a expressão de dor que reproduz; seus corações, porém, não se comovem ou só muito pouco, como se não fosse a imagem do Filho de Deus Humanado, mas sim de um homem que lhes é inteiramente desconhecido.
3. Consideremo-nos como propriedade absoluta de Jesus Cristo, pois não nos pertencemos mais depois de termos sido comprados pelo Sangue de Jesus Cristo, como escreve o Apóstolo: “Ou vivamos ou morramos, somos do Senhor” (Rom 14, 8). São João Crisóstomo dá uma bela explicação destas palavras de São Paulo: “Deus se ocupa mais de nós, do que nós mesmos; Ele considera nossa vida como um bem Seu e nossa morte como um mal próprio; se, pois, morremos espiritualmente, nossa morte não é unicamente uma perda para nós, mas também para Deus. Que honra, que consolação para nós podermos dizer neste vale de lágrimas, no meio de tantos inimigos e perigos que nos cercam: nós somos do Senhor; pertencemos a Jesus Cristo; somos bem Seu, Ele cuidará em nos conservar aqui em Sua Graça e em unir-nos eternamente consigo na outra vida”.
4. Pensemos também na Paixão de Jesus Cristo quando visitamos o Santíssimo Sacramento ou recebemos a santa Comunhão, pois Jesus Cristo instituiu o Ss. Sacramento para que a recordação do amor que nos mostrou por Sua morte na Cruz, ficasse sempre viva no meio de nós. Sabemos que nos deu este Sacramento de Amor na noite anterior à Sua morte e que, depois de dar a Comunhão aos discípulos, disse-lhes e, por meio deles, a nós também, que ao receber a Sagrada Comunhão deveríamos nos lembrar de quanto Ele padeceu por nós [e isto significam aquelas palavras: “Fazei isto em memória de mim”]. “Para conservar sempre viva no meio de nós a lembrança do grande benefício da Redenção, diz São Tomás, deixou-nos Jesus Cristo Seu Corpo por comida”.
5. Mais: quando assistimos à Santa Missa, devemos também pensar na Paixão de Cristo, pois que ela nada mais é senão a renovação do Sacrifício da Cruz, pelo que diz Santo Agostinho que a Santa Missa não é menos eficaz, hoje em dia, diante de Deus, do que o Sangue e Água que saíram outrora de Seu lado aberto.
6. Finalmente, tenhamos um grande zelo pela salvação das almas, que custaram tanto ao divino Salvador. O bispo São Carpo teve um dia uma visão, na qual pareceu-lhe ver diante de si um certo homem que, por causa de um mal exemplo, seduzira um inocente ao pecado. O Santo deixou-se levar por seu zelo e queria precipitar aquele sedutor em um abismo, a cuja borda se achava. Mas, eis que Jesus Cristo lhe aparece e, segurando o pecador com Sua mão, lhe diz: “Dirigi a mim o vosso ataque, pois estou pronto a morrer novamente pelos pecadores”. Parecia querer, com isso, dizer: Alto lá: volta antes tua mão contra mim; já dei a minha vida uma vez por esse pecador, e estou novamente pronto a morrer segunda vez por ele, para que não se perca.
§V. Ladainha da Paixão do Senhor
No centro do Brasão da Congregação Redentorista,
Santo Afonso fez questão de gravar os instrumentos da Paixão
Dulcíssimo Jesus, no Horto das Oliveiras triste até a morte, profundamente angustiado, oprimido de agonia, coberto de suor de Sangue,
Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Dulcíssimo Jesus, pelo ósculo traidor entregue às mãos dos Vossos inimigos, maltratado, atado e preso com cordas, abandonado pelos discípulos,
Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Dulcíssimo Jesus, pelo injusto Conselho dos judeus julgado réu de morte, entregue a Pilatos, desprezado e escarnecido pelo ímpio Herodes,
Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Dulcíssimo Jesus, despido, preso a uma coluna e acoitado cruelmente,
Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Dulcíssimo Jesus, coroado de penetrantes espinhos, ferido na sagrada Cabeça com uma cana, vestido, por escárnio, de um manto de púrpura, saciado de opróbrios,
Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Dulcíssimo Jesus, mais odiado que um ladrão e assassino, reprovado pelos judeus, condenado à morte da Cruz,
Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Dulcíssimo Jesus, carregado com a pesada Cruz, caído em terra, levado ao Calvário como o Cordeiro ao matadouro,
Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Dulcíssimo Jesus, Homem das dores, despojado de Vossas pobres vestiduras, contado entre os criminosos, imolado em sacrifício pelos nossos pecados,
Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Dulcíssimo Jesus, cravado cruelmente na Cruz, ferido dolorosamente por causa das nossas iniqüidades, quebrantado por causa das nossas culpas,
Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Dulcíssimo Jesus, escarnecido ainda na Cruz, atormentado e oprimido de dores indizíveis, consumido de sede, abandonado na mais dolorosa agonia pelo próprio Pai Celestial,
Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Dulcíssimo Jesus, morto na Cruz, traspassado por uma lança à vista de Vossa dolorosa Mãe,
Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Dulcíssimo Jesus, descido da Cruz, depositado nos braços de Vossa Santíssima Mãe e banhado em Suas lágrimas,
Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Dulcíssimo Jesus, ungido e embalsamado pelos discípulos amantes com preciosos aromas, envolvido em lençóis limpos e depositado no santo sepulcro,
Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
V: Ele verdadeiramente tomou sobre Si as nossas iniqüidades.
R: E as nossas dores Ele as suportou.
Oração:
Ó Jesus, Filho Unigênito de Deus e da Virgem Imaculada, que pela salvação do mundo quisestes ser reprovado pelos judeus, atado com cordas, conduzido ao matadouro como um cordeiro, apresentado injustamente aos juízes Anás, Caifas, Pilatos e Herodes, acusado por falsas testemunhas, ferido com pancadas, saciado de opróbrios e injúrias, cuspido no Rosto, açoitado barbaramente, coroado de espinhos, condenado à morte, despojado dos vestidos, pregado com toda a crueldade na Cruz, suspenso entre dois ladrões, vexado com fel e vinagre, abandonado em tormentosa agonia e, finalmente, traspassado por uma lança: por estes tormentos, Senhor, dos quais nós, indignos filhos Vossos, agora com devoção, gratidão e amor nos lembramos, e pela Vossa Santíssima Morte na Cruz, livrai-nos das penas do inferno, e dignai-Vos conduzir-nos ao Paraíso, aonde levastes convosco o Bom Ladrão. Tende piedade de nós, ó Jesus, que com o Pai e o Espírito Santo viveis e reinais, por todos os séculos dos séculos. Amém.
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(Texto extraído da obra “ESCOLA DA PERFEIÇÃO CRISTÔ – compilação dos escritos de Santo Afonso Maria de Ligório, pelo Padre Saint-Omer, CSSR, tradução do Padre Paulo Leick, Editora Vozes, Petrópolis: 1955, 4ª edição. Imprimatur de vários bispos. Grifos nossos. A Ladainha da Paixão do Senhor acrescentamo-la, tendo-a extraído da obra “AS MAIS BELAS ORAÇÕES DE SANTO AFONSO”, uma compilação da CSSR, publicada pela editora Vozes em 1961)