São Beda
672-735
S. Beda, o Venerável, Doutor da Igreja, +735
Todas as informações que temos sobre o extraordinário Beda, foram escritas por ele mesmo no livro "História da Inglaterra", um dos raros e mais completos registos da formação do povo inglês antes do século VIII, narradas assim:
" Eu, Beda, servo de Cristo e sacerdote, e monge do mosteiro de São Pedro e São Paulo, da Inglaterra, nasci neste país. Aos sete anos fui levado ao mosteiro para ser educado pelos monges. Desde então passei toda a minha vida no mosteiro, e me dediquei sobretudo ao estudo da Sagrada Escritura. Além de cantar e rezar na Igreja, a minha maior alegria foi poder dedicar-me a aprender, a ensinar e a escrever. Aos dezenove anos fui ordenado diácono e aos trinta sacerdote. Todos os momentos livres dediquei-os à busca de explicações da Sagrada Escritura, especialmente extraídas dos escritos dos Santos Padres".
Além desses dados podemos acrescentar ainda, com segurança, que Beda nasceu no ano 672, tendo sido educado e orientado espiritualmente pelo próprio São Bento Biscop, abade do mosteiro, que impressionado com os seus dons e inteligência tratava-o como se fosse seu filho na cidade de Wearmouth.
Cedo, Beda percebeu que um sermão podia ser ouvido por apenas algumas pessoas, mas podia ser lido por milhares delas e por muitos séculos. Por isso ele desejou escrever, e escreveu muito, sem se cansar, com cuidado no seu conteúdo e estilo, resultando em livros agradáveis à leitura, verdadeiras obras literárias, sobre os mais variados temas desde o teológico ao intelectual.
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Sermão de Natal de São Beda o Venerável
E eis que os pastores se apressam, com grande alegria, para ver aquele de quem ouviram falar. E como buscaram com fervoroso amor, mereceram achar rapidamente o Salvador. Assim também os inteligentes pastores dos rebanhos, ou melhor, todos os fiéis que se propõem a procurar a Cristo com o trabalho do espírito, o demonstram por suas palavras e atos.
Vamos até Belém, disseram, para ver esta palavra que se realizou. Vamos, pois, nós também, caríssimos irmãos, pelo pensamento, até Belém, cidade de Davi, e lembremos, cheios de amor, que nela o Verbo se fez carne e celebremos com honras sua Encarnação. Deixemos para trás as baixas concupiscências da carne e, com todo o desejo da alma, vamos até a Belém do alto, ou seja, a casa do Pão vivo, não fabricada, mas eterna no céu, e relembremos amando que o Verbo se fez carne. Para lá Ele subiu na carne, onde senta à direita do Pai. Procuremo-Lo no alto, com perseverante virtude, com coração solícito, pela mortificação do corpo, para encontrarmos reinando no trono do Pai, Aquele que os pastores viram chorando no Presépio.
E vieram apressados e encontraram Maria e José, e a criança recostada no Presépio. Vieram os pastores apressados e encontraram Deus nascido como homem e os ministros deste nascimento. Corramos nós também, irmãos, não com os passos dos pés, mas com o progresso das boas obras, para ver esta mesma humanidade glorificada, com seus ministros tendo já recebido a digna recompensa por seus trabalhos. Corramos vê-Lo na resplandecente majestade do Pai, que é também sua. Corramos vê-Lo, digo, pois tanta felicidade não se procura com vagar e preguiça, mas deve-se seguir as pegadas de Cristo com vivacidade. Pois Ele próprio, desejoso de ajudar nosso caminho, estende a mão, querendo ouvir de nós: "Atraia-nos atrás de ti, corremos no aroma dos teus perfumes".
Continuemos, então, apertemos os passos da virtude, para O alcançarmos. Ninguém se atrase a se converter ao Senhor, que ninguém deixe ir passando os dias; peçamos por todos os meios e antes de tudo, que Ele dirija nossos passos segundo a sua palavra e que o mal não tenha domínio sobre nós.
Ao vê-Lo, reconheceram a palavra que lhes tinha sido dita sobre esta criança. E nós, irmãos amados, as coisas que nos foram ditas sobre o nosso Salvador, Deus e homem verdadeiro, recebamos logo com pia fé e abracemos depressa com grande amor, para que possamos ter delas, no futuro, um perfeito conhecimento de visão compreensiva. Elas são a vida única e verdadeira dos beatos, não só homens, mas também dos anjos, que contemplam perpetuamente a face do Criador, como ardentemente desejava o salmista, que dizia: "Minha alma tem sede do Deus vivo, quando virei e aparecerei diante da face de Deus". E ele mostra que seu desejo não pode ser contentado com nenhuma influência terrestre, mas somente da visão de Deus, quando diz: "Ficarei saciado quando se manifestar a Vossa glória". E como não são os preguiçosos e os moles que são dignos da divina contemplação, nos adverte solícito: "Mas eu aparecerei diante de Vós na santidade".
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Ao todo foram sessenta obras sobre: teologia, filosofia, cronologia, aritmética, gramática, astronomia, música e até medicina. Mas Beda gostava de aprender, por isso pesquisava e estudava; e gostava também de ensinar, por isso escrevia e dava aulas. Atraídos pela linguagem simples, encantadora e acessível, ajudou a formar várias gerações de monges que eram dirigidos nos ensinamentos de Deus, por meio dessas matérias.
O Papa Gregório II chamou-o a Roma, para tê-lo como seu auxiliar, mas Beda implorou permanecer na solidão do mosteiro, onde ficou até aos últimos momentos da sua vida. Só saiu por poucos dias para estabelecer as bases da Escola de York, na qual depois estudou e se formou o famoso mestre Alcuíno, fundador da primeira universidade de Paris.
Ainda em vida era chamado de "Venerável Beda", ou "Beda o Venerável". Morreu com sessenta e três anos, na paz do seu mosteiro, no dia 25 de maio de 735 em Jarrow, Inglaterra. Muitos séculos depois, pelo imensurável serviço prestado à Igreja, o Papa Leão XIII, em 1899, proclamou-o Santo e Doutor da Igreja. São Beda, único Santo inglês que possui o título de Doutor da Igreja, é celebrado no dia 25 de maio.
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COMEÇOU A ENVIÁ-LOS DOIS A DOIS
(Mc 6, 7-13)
“7 Chamou a si os Doze e começou a enviá-los dois a dois. E deu-lhes autoridade sobre os espíritos impuros. 8 Recomendou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser um cajado apenas; nem pão, nem alforje, nem dinheiro no cinto. 9 Mas que andassem calçados com sandálias e não levassem duas túnicas. 10 E dizia-lhes: ‘Onde quer que entreis numa casa, nela permanecei até vos retirardes do lugar. 11 E se algum lugar não vos receber nem vos quiser ouvir, ao partirdes de lá, sacudi o pó de debaixo dos vossos pés em testemunho contra eles’. 12 Partindo, eles pregavam que todos se arrependessem. 13 E expulsavam muitos demônios, e curavam muitos enfermos, ungindo-os com óleo”.
São Beda escreve:
“Bondoso e clemente, nosso Senhor e Mestre não regateia seu poder a seus servos e discípulos, posto que assim como Ele curava todo desfalecimento e toda enfermidade, deu também a seus apóstolos poder para curá-los: ‘E havendo convocado aos doze’, etc. Porém, há grande distância entre dar e receber. O Senhor realizava com o seu próprio poder tudo o que fazia; no entanto, quer que seus discípulos, ao realizarem algo, confessem sua debilidade e o poder do Senhor dizendo: ‘Em nome de Jesus, levanta e anda” (In Marcum 2, 24), e: “Manda de dois a dois aos apóstolos, para que estejam mais prontos; porque, como disse o Eclesiástico, melhor é que sejam dois juntos que um só. Se houvesse enviado mais de dois, não haveria sido suficiente o número deles para ir a tantos lugares” (Teofilacto), e também: “Manda de dois a dois a seus discípulos a pregar, porque são dois os preceitos da caridade: o amor de Deus e do próximo, e não pode existir esta se não se dá em ambos os termos. Deste modo nos insinua que o que não tem caridade para os demais, não deve de modo algum tomar o cargo e ofício de pregar. ‘E lhes ordenou que nada levassem” (São Gregório Magno, Homilia in Evangelis, 17), e ainda:“Aquele que prega deve confiar tanto em Deus, ao ponto de estar seguro de que não lhe faltará o necessário para a vida, mesmo que ele não possa procurá-lo; posto que não deva ocupar-se menos das coisas eternas, ocupando-se das temporais” (São Beda, in Marcum 2, 24), e: “O Senhor lhes impôs também este preceito, para que por sua parte manifestasse quão distante deles estava o desejo da riqueza” (Pseudo-Crisóstomo, vict. ant. e cat. in Marcum), e também:“Ensinava-lhes assim, que não devem desejar nenhum presente ou donativo, porque vendo que os apóstolos nada tinham, confiassem neles os que os ouviam pregar sobre a pobreza” (Teofilacto), e ainda: “Ou, porque acrescenta o Senhor, segundo São Mateus: ‘ Porque o que trabalha merece o seu sustento’ (Mt 10, 10), nos manifesta claramente, porque não queria que eles possuíssem nem levassem nada consigo; não porque a vida não tenha as suas necessidades, mas porque deste modo, os crentes a quem anunciassem o Evangelho haveriam de provê-los do necessário...” (Santo Agostinho, De Consensu Evangelistarum, 2, 30), e: “O não levar calçado nem báculo, segundo São Mateus e São Lucas, manifesta um estado de grande perfeição, e o levar uma e outra coisa, como disse São Marcos, é uma licença dada por causa da fragilidade humana”(Pseudo-Crisóstomo, vict. ant. e cat. in Marcum), e também: “Por alforje – em sentido alegórico – se há de entender os trabalhos da vida; pelo pão, os prazeres temporais; pelo dinheiro no cinto, a sabedoria que se oculta; porque o que recebeu a sabedoria não deve desejar ocupar-se com a carga dos negócios temporais, nem consumir-se em desejos carnais, nem ocultar o talento que lhe foi dado. ‘Advertia-lhes: Onde quer que entreis’. Nestas palavras lhes dá o preceito geral da constância, para que observem as leis da hospitalidade que receberem, fazendo-lhes ver que esta hospitalidade é alheia ao que anuncia o reino dos céus, o andar de casa em casa” (São Beda, in Marcum 2, 24), e ainda: “Significa a graça do Espírito Santo, pela qual descansamos dos trabalhos e recebemos a luz e a alegria espiritual” (Teofilacto), e: “Aqui se manifesta que este costume da Santa Igreja de ungir os endemoninhados e a qualquer enfermo com óleo consagrado pela bênção pontifical, foi introduzido pelos próprios apóstolos” (São Beda, in Marcum 2, 24).