31 de outubro Beata Irene Stefani
Mercede Stefani nasceu em Anfo (Brescia) no dia 22 agosto 1891, filha de Giovanni e Annunziata Massari. Quinta de doze filhos, dos quais sobreviveram só cinco filhas, foi batizada com o nome Aurelia Giacomina Mercede. Em família, todos a chamavam Mercede.
Frequentando a escola local, se distinguiu pela viva inteligência, em Paróquia seguia a catequese com entusiasmo, e já aos treze anos revelou aos pais o desejo de fazer-se irmã. Naturalmente a resposta foi de esperar, porque ainda era muito nova, e porque a mãe começava a ter sinais de uma doença; durante um tempo, até parou o estudo para ajudar a família: em 1907 mãe Annunziata faleceu por uma grave broncopneumonia, deixando 6 filhos, dos quais Ugo, de 4 anos e Antonietta de 5. Mercede começou a ocupar-se da casa e da educação das crianças, enquanto a irmã mais velha Emma ajudava em uma atividade comercial.
Em 1908 faleceu também Ugo, provocando muita dor no pai, que no ano seguinte se casou com Teresa Savoldi, mas deste casamento não nasceram filhos.
Na paróquia, Mercede era catequista e visitava muitos pobres. Sob a direção espiritual do Pároco, ela foi concretizando o desejo de fazer-se missionária e pediu para entrar nas Missionárias da Consolata.
Em junho 1911 deixa Anfo, onde não voltará jamais, acompanhada pelo pai, vai para Turim, onde foi recebida pelo Fundador do Instituto, o Bem Aventurado José Allamano, que em 1901 já tinha fundado o Instituto dos Padres e Irmãos da Consolata.
Vigésima-sétima jovem da família religiosa, Mercede vive com grande radicalidade, suma obediência e profunda humildade, os seus anos de formação em Turim.
Em janeiro 1912 Mercede faz a vestição religiosa e recebe o nome Irmã Irene. Dois anos depois, em 1914, emite a primeira Profissão Religiosa. Naquele ano escreve o seu programa de vida: ” Jesus só! Tudo com Jesus, nada de mim. Toda com Jesus, nada de mim. Tudo por Jesus, nada por mim”.
Em 1914 começa a Primeira Guerra Mundial; os dois Institutos da Consolata conseguem encontrar ainda 9 vagas no navio “Porto
Alessandretta”, antes que o conflito não permita mais as viagens. Irmã Irene faz parte do grupo dos nove missionários: parte no dia 28 de dezembro 1914 e não voltará mais na Itália.
O navio chegou em Mombasa no dia 30 de janeiro 1915. O grupo foi para a terra dos Kikuyu, onde se encontravam as missões italianas. Nos primeiros tempos, para aprender a língua, ajudou Irmã Costanza no humilde trabalho do campo, na missão de Nyeri. A guerra chegou na África, onde Alemanha e Inglaterra combateram na guerra colonial. Enquanto os colonos ingleses formavam a milícia, os homens africanos eram alistados pelos trabalhos mais extenuantes: os “carriers” eram carregadores que transportavam material, faziam caminhos e pontes em lugares pouco acessíveis. Este duro trabalho acabava logo as forças dos homens que, extenuados, eram internados em hospitais onde, muitas vezes, eram abandonados e maltratados.
Monsenhor Perlo, Superior dos Missionários da Consolata na África, conhecendo o drama dos carriers ofereceu ajuda nos hospitais militares, apresentando-se como voluntário da Cruz Vermelha. Também Irmá Irene foi para lá depois dum breve
curso de enfermagem: no dia 25 de agosto parte e chega o hospital de Voi, onde já estavam Irmã Cristina Moresco e Padre Benedetto.
A nível humano o hospital é um desastre: os doentes eram deixados sozinhos, no desespero. Os empregados do campo se preocupam apenas com a própria comodidade, e obrigam os doentes a fazerem a limpeza, quem não cumpria as regras sofria punições.
Irmã Irene e Irmã Cristina dão dignidade aos doentes, curam e limpam feridas e chagas, doam sorrisos e palavras de esperança para quem não as tem mais, e, depois de breves instruções, batizam os moribundos. As missionárias e missionários administraram mais do que 26 mil batismos; Irmã Irene sozinha batizou três mil pessoas. Missionários como Irmã Irene, apaixonados por Deus e pelos homens, não tinham outro desejo que salvar tantas almas. Significativa a história de Athiambo:
num período de grande pestilência no hospital de Kilwa Kiwinje, um dia Irmã Irene não encontrou mais Athiambo, ao qual tinha prometido batizar, embora no dia anterior ele não estivesse moribundo. Os corpos sem vida eram deixados à beira-mar, onde a maré levava embora o montão de carne humana. Irmã Irene correu à praia, sem acreditar que ele pudesse ter morrido sem Batismo. Procurou Athiambo no montão dos mortos, até quando o encontrou, ainda vivo. Levou-o de volta ao hospital, onde viveu ainda uns dias, e onde recebeu o Batismo. Depois do fim da guerra, Ir. Irene volta para o Kenya, onde por um ano é assistente das jovens africanas que se preparam à vida religiosa no Convento das Irmãs de Maria Imaculada em Nyeri.
Foi finalmente destinada à missão de Ghekondi, onde passará o resto da sua vida. A intensa atividade missionária dela consiste no ensinamento na escola local, na catequese, sobretudo sendo mulher de grande caridade, próxima aos doentes e moribundos, às mulheres grávidas, aos jovens e a quem, simplesmente, a procurava. Secretária dos pobres, passa as noites escrevendo cartas em nome dos pais analfabetos, que têm filhos na cidade, em busca de trabalho. Administra nestes anos mais de mil batismos, geralmente aos moribundos que vela até a morte. As Irmãs testemunham a sua grande hospitalidade naquela pobre e pequena casa, que ficava num ponto de passagem entre Nyeri, e as missões mais distantes. A partir de um tempo, Irmã Irene começa a beber o cálice amargo da ingratidão e da incompreensão: a escola torna uma cruz a ser carregada no meio das críticas dos jovens que não a querem como professora, e também a vida comunitária dá muitos sofrimentos, sobretudo a
partir do momento que é escolhida como superiora da casa.
Em 1930 nasce nela o desejo de oferecer a sua “pobre, inútil vida” ao Senhor pelas missões e pelo Instituto. Num primeiro momento a superiora Irmã Ferdinanda Gatti não lhe dá licença, mas em outubro aceita. Feliz por poder oferecer a sua vida, Irene continua trabalhando muito, de maneira especial perto dos doentes de peste, num período de pestilência. No dia 20 de Outubro, mesmo não se sentindo bem de saúde, correu para atender um doente de peste. Era o mesmo que a ofendera, denegrindo o seu ensino na escola, para poder tomar o seu lugar. Demorou-se com ele, abraçou-o, ficando provavelmente contaminada com a mesma doença. A partir dali, o seu estado de saúde foi piorando até levá-la às portas da morte. Terminou a sua existência terrena, aos 31 de Outubro de 1930. Tinha 39 anos. Faleceu e todo o mundo já pensava nela como uma santa. Os africanos a chamavam com carinho e respeito “Nyaatha”, a mãe muito misericordiosa, cheia de piedade e amor.
“Foi o amor que a matou” logo comentaram os africanos. Era o selo de uma existência toda marcada pela caridade heroica, que emanava da constante e profunda busca da santidade. Expressou este anseio nas suas últimas palavras: “sou toda de Jesus, de Maria, de São José, agora e sempre por toda a eternidade.”
O milagre atribuído à intercessão da Serva de Deus Irene Stefani: Trata-se da multiplicação da água da fonte batismal da Paróquia de Nipepe (Niassa-Moçambique), da qual se serviram os catequistas e seus familiares que se refugiaram na igreja quando do ataque da Renamo. Ficaram sitiados, nos dias 10-13 de Janeiro de 1989. As dezenas de pessoas fechadas na igreja não tinham reserva de água e era o período mais quente do ano. Invocaram a Irmã Irene Stefani. E a água foi suficiente para matar a sede de todos os refugiados que estavam na igreja. Os presentes repetiam o testemunho: “por intercessão da Irmã Irene, fomos salvos”. “Ela nos ouviu e atendeu”. “Foi mãe Irene quem fez o milagre”.
Foi beatificada em Nyeri – Quênia – em 23 de maio de 2015