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terça-feira, 1 de outubro de 2013

Santa Teresinha do Menino Jesus: "Estava tão protegida... impossível sentir medo"


De madrugada, às três horas, atravessei a cidade de Lisieux ainda adormecida. Na ocasião, várias impressões me passaram pelo espírito. Sentia que caminhava para o desconhecido, e que grandes coisas me aguardavam por lá... Papai estava alegre. Quando o trem de ferro se pôs em movimento, ele cantarolou o velho refrão: "Rode, minha diligência, rode! Já estamos na estrada real". Chegando a Paris na parte da manhã, começamos logo a visitá-la. O pobre Paizinho cansou-se muito, a fim de nos contentar, e assim dentro em pouco tínhamos visto todas as maravilhas da capital.

Por mim só encontrei uma única que me arrebatasse. A maravilha era "Nossa Senhora das Vitórias". Oh! o que senti aos seus pés, não o poderia dizer... As graças que me outorgou, comoveram-me tão profundamente, que só minhas lágrimas exprimiam minha felicidade, como no dia da minha primeira comunhão...

A Santíssima Virgem deu-me a perceber que foi ela realmente quem sorrira pra mim, e quem me curara. Compreendi que velava por mim, e que eu era sua filha, e por isso já não lhe podia dar outro nome a não ser o de "Mamãe", que me parecia mais afetuoso do que Mãe... Com que fervor não lhe supliquei me tomasse para sempre em sua guarda, e logo fizesse do meu sonho uma realidade, aconchegando-me à sombra de seu manto virginal!... Oh! nisso consistia um dos meus primeiro desejos de criança... Crescendo, compreendi que só no Carmelo me seria possível encontrar, realmente, o manto da Santíssima Virgem, e a essa fértil Montanha tendiam todos os meus desejos...

Pedi, ainda, a Nossa Senhora das Vitórias, desviasse de mim tudo o que poderia manchar minha pureza. Não ignorava que, numa viagem como esta para a Itália, aconteceriam muitas coisas susceptíveis de me conturbarem, mormente porque, ignorando o mal, receava dar com ele, pois não sabia ainda por experiência que "tudo é puro para os que são puros", e que a alma simples e reta não vê o mal em coisa alguma, uma vez que o mal não existe efetivamente senão nos corações impuros e não em objetos insensíveis... Pedi também a São José velasse por mim. Desde a meninice tinha por ele uma devoção que se fundia com meu amor à Santíssima Virgem. Recitava todos os dias a oração: "São José, pai e protetor das virgens". Por isso, empreendi sem receio minha longa viagem. Estava tão protegida, que me parecia impossível sentir medo.


Santa Teresinha do Menino Jesus, Histórias de Uma Alma