FILME: SEDE SANTOS 4 - VIDA DE SANTA GEMMA E SANTA ZITA
Santa Gema Galgani e o seu Anjo da Guarda
Na última Carta Circular contamos algumas histórias sobre Anjos da Guarda que nos ajudaram a ficar mais conscientes do poder desses companheiros que recebemos de Deus e que sempre permanecem ao nosso lado. De fato, o Anjo da Guarda é um presente de Deus para nós, é um dom muito precioso!
Mas, ao considerar a ajuda do Anjo da Guarda não seria bom ficar somente com a parte onde ele nos ajuda de maneira extraordinária, em grandes necessidades, ou nos livra de situações nas quais, sem ele, estaríamos perdidos. Embora tais acontecimentos aumentem em nós a gratidão e a confiança no Anjo, não devemos restringir-nos só a tais histórias porque não precisamos esperar momentos perigosos ou crises para entrar em contato com o Anjo ou para experimentar a sua ajuda. Ao contrário, o Anjo está constantemente ao nosso lado, noite e dia, na alegria e na tristeza, na monotonia do dia-a-dia como também no júbilo das festas. Ele foi dado a nós a fim de nos ajudar a chegar ao céu, alcançar a felicidade eterna e, antes disso ainda, para que nos tornemos santos já aqui na terra.
Por isso, o auxílio que o Anjo nos oferece vai muito além da ajuda extraordinária, e abrange muito mais do que a ajuda material. Sua proteção diante de perigos que ameaçam o nosso corpo ou os nossos bens apenas é a menor parte de sua tarefa, porque muito mais do que o nosso corpo ele deve e quer proteger e guardar a nossa alma com as suas riquezas e preciosidades. Que são os nossos bens materiais e o que vale o nosso corpo em comparação com nossa alma?
É na alma que se encontra o nosso entendimento e a nossa vontade, e com esta vontade nós devemos muitas vezes durante a vida decidir-nos por Deus. É nessa vontade que encontramos a nossa felicidade eterna. A Mãe Gabriele disse uma vez: "A tua vontade livre é a tua maior bênção ou maldição". Assim, nossa alma pode ganhar ou perder a sua eterna felicidade conforme a decisão da vontade. Considerando esse aspecto da alma é bem provável que a maior parte dos milagres realizados pelos Anjos fique desconhecida para nós porque não enxergamos.
Nós devemos rezar muito pedindo a Deus que Ele nos abra os olhos para melhor reconhecermos o quanto e onde o Anjo atua em nossa vida. Somente assim vai brotar em nós a gratidão, e renderemos a devida ação de graças a ele e a Deus. E o que mais poderemos fazer para perceber melhor a disposição que o Anjo tem para nos ajudar? A resposta é simples: Nós devemos conviver mais conscientemente com o nosso Anjo. Quanto mais incluímos o Anjo em nossa vida cotidiana, tanto mais experimentaremos a sua ajuda e assistência.
Em santa Gema Galgani temos um bom exemplo de uma vida unida com o Anjo, de um verdadeiro amor ao seu companheiro celeste e, por isso, ela experimentou muitas vezes e de diversas maneiras a sua presença e auxílio.
O Anjo - "um segundo Jesus"
Segundo o diretor espiritual, Pe. Germano de Santo Estanislau, pode-se dizer que o Anjo da Guarda era para Gema "um segundo Jesus" (cf. Pe.Germano de Santo Estanislau, Santa Gema Galgani, a flor da paixão, Porto 1940, pág. 290). E ela mesma disse: "Há seis dias que não vejo a Jesus; Ele, porém, não me deixou completamente só. O Anjo da Guarda conserva-se sempre visível junto de mim" (Ibid. pág. 287). E no seu diário podemos ler: "Como Jesus é bom! Quando Se retira de mim, deixa o Anjo, que me assiste com incansável amor, vigilância e paciência" (Ludwig Beda, Tugendschule Gemma Galganis, Baden 1926, pág. 416).
Assim, santa Gema alcançou uma familiaridade e intimidade muito grande com o Anjo. Queremos transcrever aqui como ela falava com ele: "Dize-me, meu Anjo, o que tinha esta manhã o meu confessor para ser tão severo e recusar a ouvir-me? E o Padre que está em Roma responderá à carta urgente em que lhe peço uma regra de conduta sobre tal ponto? Dize-me, querido Anjo, quando é que Jesus converterá este pecador por quem me interesso? O que devo responder a tal pessoa que me pede conselho? E que pensais vós de mim? Jesus está contente? Como poderei agradar-Lhe?" (Cf. Pe. Germano, pág. 289). Costumava dizer-lhe: "Ó meu Anjo, amo-vos tanto!" Ao que o bom Anjo replicou: "Por que?" - "Porque me tornais boa e humilde, e fazeis com que eu ame a Jesus" (A.D.M., Os Santos Anjos, Lisboa 1945, pág. 14).
Numa outra ocasião disse-lhe: "Se eu alguma vez for má, Anjo querido, não te zangues. Quero mostrar-te minha gratidão". E o Anjo respondeu: "Sim, serei para ti um guia e teu companheiro inseparável. Não sabes Quem te confiou à minha guarda? Foi o Misericordioso Jesus" (Pe. Germano, 287).
Mas santa Gema não somente conversava com o Anjo. Muitas vezes rezaram juntos e cantaram os louvores de Deus. Quando rezaram os salmos, fizeram-nos alternadamente. Quando rezaram jaculatórias, começava uma santa competição, e eles clamavam num entusiasmo crescente: "Viva Jesus!" (Beda, pág. 417).
O Anjo como conselheiro e professor
Santa Gema mantinha também o hábito de contar ao seu companheiro celeste todas as suas aflições e as dos outros. E sempre que alguém lhe pedia um conselho ela perguntava ao Anjo o que deveria responder, e este, por sua vez, com inefável doçura, respondia a todas as perguntas. Mas não só isso, ele deu também muitos conselhos e instruções. Uma vez a fez escrever alguns dos ensinamentos que ele ia ditando. À sua ordem, Gema sentou-se à mesa, tomou a pena e o papel, enquanto ele, de pé a seu lado, como um professor junto do aluno, começou: "Lembra-te que quem ama verdadeiramente a Jesus, fala pouco e sofre tudo. Ordeno-te da parte de Jesus, que nunca digas a tua opinião, se não te for pedida, que insistas na tua opinião, mas que cedas depressa. Quando cometeres qualquer falta, acusa-te imediatamente sem ser preciso que os outros te avisem. Obediência pontual e sem réplica ao teu confessor, sinceridade com ele e com os outros. Não te esqueças de guardar a vista, lembrando-te que os olhos mortificados contemplarão as belezas do céu!" (Pe. Germano,pág. 293). São instruções que a santa cuidadosamente colocou em prática.
O Anjo como carteiro
Mas santa Gema não se contentava só em pedir conselhos ao seu Anjo. Ela também lhe deu tarefas. Inúmeras vezes encarregou-lhe de encomendá-la a Deus, a Nossa Senhora ou a seus santos patronos no céu, como também pediu-lhe para transmitir mensagens às pessoas distantes. E para ela era tão natural que ficava surpresa quando não recebia resposta. Então, neste caso, mandava cartas pelo correio escrevendo, por exemplo, a seu diretor espiritual: "E não obstante já há tantos dias que vo-lo mandei dizer pelo Anjo; como não fizestes caso? Ao menos podíeis mandar-me dizer por ele que não era vossa intenção ocupar-vos deste negócio. Em todo caso não vos zangueis se de novo insisto por meio desta carta" (Pe. Germano, pág.291). Outras vezes ela escreveu cartas e as entregou ao seu Anjo para que levasse aos destinatários. E ele o fez de verdade! Seu diretor examinou os fatos, como também as pessoas que conviveram com ela. Uma vez, por exemplo, sem que ela soubesse, colocaram uma de suas cartas entre duas imagens de santos. À tarde, de repente, a santa exclamou: "Acabou de sair o Anjo com a carta na mão". E logo, ao verificarem o lugar onde a tinham colocado, não acharam mais (cf. Beda, pág. 423).
O Anjo como educador severo e consolador bondoso
O Anjo, por sua vez, não se contentava em receber ordens e tarefas de santa Gema. Ele cuidava fervorosamente dela, guiando-a no caminho da perfeição. Não lhe deixou cometer nenhuma imperfeição e a repreendia, às vezes, até severamente. Escreve ela mesma: "Ontem durante a refeição levantei os olhos e vi o Anjo lançar-me olhares severos; não falava. Mais tarde, quando fui repousar, olhei outra vez para ele, mas depressa abaixei a vista; meu Deus, como estava irritado! 'Não tens vergonha', disse-me ele, 'de cometer faltas na minha presença?' Lançava-me alguns olhares tão severos … Eu não fazia nada senão chorar. Supliquei a Deus e a minha celeste Mãe que o tirasse diante de mim, pois não podia resistir mais. De quando em quando ele repetia: 'envergonho-me de ti'. Rezei para que ninguém o visse neste estado, pois quem o visse assim, de certo nunca mais se aproximaria de mim. Sofri o dia inteiro, não pude recolher-me nenhum momento; o seu aspecto permanecia tão severo, que eu não tinha coragem para lhe falar. De noite não consegui adormecer até que, finalmente, pelas duas horas da manhã, o vi aproximar-se; pôs-me a mão sobre a fronte, dizendo: 'dorme, criatura má'. E não o vi mais (Pe. Germano, pág. 293s).
Gema disse uma vez: "O meu Anjo é um pouco severo, mas sinto-me bem com isso. Nos últimos dias chegou a repreender-me três a quatro vezes por dia" (Ibid. pág. 293). Outras vezes, o Anjo a encorajava : "Estava no leito, muito atormentada, quando me senti subitamente possuída dum profundo recolhimento. Juntei as mãos e, com toda a força do meu fraco coração, fiz o ato de contrição com uma viva dor dos meus inúmeros pecados. E tendo eu o espírito absorvido pela lembrança das minhas culpas, vejo o Anjo junto do leito. Fiquei envergonhada ao ver-me em sua presença. Ele, pelo contrário, com uma amabilidade cheia de encanto, disse-me: "Jesus tem uma grande afeição por ti; ama-O muito" (Ibid. pág.296).
Outro dia aproximou-se dela enquanto fazia a oração da noite, bateu-lhe no ombro e disse: "Gema, como é que tu levas tanta apatia para a oração?" "Não é apatia", respondeu ela, "há dois dias que não me sinto bem". "Faze o teu dever com cuidado, e Jesus te amará mais", replicou-lhe o bom Anjo. E Gema continua contando: "Roguei-lhe que fosse pedir permissão a Jesus para passar a noite junto de mim. Desapareceu imediatamente e, obtida a permissão, voltou ao meu lado. Oh! como se mostrou bom! Quando estava para partir, pedi-lhe que não me deixasse ainda. 'Não posso', respondeu, 'é conveniente que eu vá'. 'Está bem, ide e saudai a Jesus por mim'" (Ibid. pág. 297).
O Anjo ajudou-lhe, principalmente, nos seus sofrimentos e dores, de tal maneira que por várias vezes, sem ele, não teria conseguido suportar todos os seus tormentos. Disse-lhe ele uma vez: "Pobre criatura, como és descuidada. Tenho que velar continuamente por ti" (Ibid. pág. 292). Por isso, ela sempre quis tê-lo ao seu lado quando sofria. Recebeu muitas luzes do Anjo também nas suas meditações sobre a Paixão de Jesus, acendendo desta maneira cada vez mais o fogo do amor no seu coração.
Santa Gema tinha vários "encontros" com o demônio que, às vezes, atacou-a fortemente. Uma vez aconteceu que o demônio espancou-a tão cruelmente na oração da noite, que a pobre ficou impossibilitada de se mover. O Anjo, então, ofereceu-lhe seu auxílio, ajudou-a para subir ao leito e ficou de guarda à cabeceira toda a noite.
O Anjo aceita tudo do nosso amor
O seu diretor espiritual achava exagerado este relacionamento íntimo com o Anjo e deu algumas diretrizes para ela observar. Ele tinha medo que a santa estivesse sendo enganada pelo demônio. Por isso, ao aparecer o Anjo, ela devia exclamar: "Viva Jesus!" e tentar afastá-lo seja com o sinal da Cruz, com água benta ou mesmo com o cuspir. Caso ele não se afastasse, ela devia convidá-lo a adorar com ela a Santíssima Trindade. Uma vez aconteceu que o Anjo lhe apareceu e ela tentava afastá-lo, mas inutilmente; o Anjo não desapareceu. Então Gema cuspiu no rosto dele, e viu no chão onde tinha caído o cuspe, brotar uma rosa branca, e nela estava escrito em letras de ouro: "Tudo se aceita do amor" (Ferdinand Holböck, Vereint Mit den Engeln und Heiligen, Stein am Rhein, 1984, pág. 394).
Viver com o Anjo
Da vida de santa Gema vale também que nem tudo podemos imitar como, por exemplo, o envio das cartas pelo Anjo ou as aparições dele. Mas, o que podemos aprender quando consideramos as experiências desta santa é uma relação com o Anjo como de uma criança. Não havia nada que Gema escondesse diante do Anjo ou que não lhe contasse. Por isso, ele sabia tudo dela, não só porque estava sempre ao seu lado, mas também porque ele ouviu tudo de sua própria boca. Assim o amor ao Anjo tornou-se fecundo para muitas pessoas que, desta forma, receberam grandes ajudas de santa Gema Galgani seja pelas suas fervorosas orações, seja por meio dos bons conselhos que ela deu, inspirada pelo Anjo. Será que a nossa união com o Anjo já é tão grande que não precisamos esforçar-nos por fazê-la mais íntima, ou não devemos reconhecer humildemente que estamos ainda bem no início do caminho? Uma coisa é clara: quanto mais nós cultivamos a intimidade com o Anjo, amando-o, invocando-o, falando-lhe de nossas preocupações e fracassos, tristezas e alegrias e as dos outros também , pedindo sua ajuda, seu conselho e agradecendo por tudo o que ele faz por nós, tanto mais ele entrará em ação a nosso favor, e a dos outros.