No dia 16 de junho o Papa canonizou o Bem-aventurado Padre Pio colocando-o assim a nossa frente como um modelo a ser imitado. De um lado vemos em Padre Pio muitas coisas que não podemos imitar, mas somente admirar e agradecer a Deus. Por exemplo vemos nele muitos dons - como o da bilocação, da profecia, do conhecimento profundo das almas, dos perfumes espalhados, etc., que não podemos imitar, porque são dons extraordinários que Deus lhe deu para que ele pudesse ajudar mais eficazmente as almas. Mas de outro lado devemos dizer que tanto mais que admiramos o seu exemplo e sua santidade, tanto mais deveríamos levar a sério muitos de seus conselhos. E um dos conselhos que Padre Pio deu sempre aos seus filhos e suas filhas espirituais foi que invocassem sempre seus Anjos da Guarda: "Lembra-te do Anjo da Guarda, sempre tão perto de ti, quer estejas ou não na graça do Senhor; que maior amigo poderás ter do que o Anjo da Guarda? Pede-lhe que te ajude a te conservares na caridade, na humildade e na paciência" (Fr. Alessio Parente O.F.M. Cap, Send me your Guardian Angel. Padre Pio, San Giovanni Rotondo 1984). Ou na despedida muitas vezes ele dizia: "Que o Anjo de Deus seja tua luz, o teu auxílio, a tua força, o teu conforto, o teu guia" (Giovanni P. Siena, Esta é a Hora dos Anjos, Anápolis 2000, 125) ou: "Que o Anjo de Deus te acompanhe!" (Ibid., 124).
PE. PIO E O "COMPANHEIRO DE SUA INFÂNCIA"
Aquilo que Padre Pio falou, ele mesmo também o viveu e de fato vemos nele uma convivência muito íntima e admirável com seu Anjo da Guarda. Esta relação íntima já começou na sua infância. Padre Eusébio, que assistiu Padre Pio nos anos 1961-1965 disse que na infância de Padre Pio o seu Anjo assumiu a aparência de uma criança e estava visivelmente ao seu lado. Se diz que durante a infância o Anjo até brincou com ele. Por isso o Padre Pio, mesmo idoso, chamou o seu Anjo "o companheiro da minha infância" (Send me your Angel, 20). Esta palavra "companheiro" indica uma profunda amizade e convivência. Aqui começou o amor de Padre Pio a seu Anjo que continuará por toda a vida. Este Anjo nunca abandonará o Santo: ele ajudará a deixar o mundo e a entregar-se totalmente a Deus. Ajudará no ano de noviciado, nos anos de estudo e de preparação para o sacerdócio. Ele cuidará que Padre Pio se torne um digno ministro de Jesus Cristo. Ele estará ao seu lado quando seu protegido experimenta os ataques do diabo e em todas suas lutas. "Por isso", diz Padre Eusébio, "o Padre Pio tinha uma profunda amizade com seu Anjo, a mais terna e confidencial devoção que excluiu qualquer diferença entre os dois e fez de Padre Pio um Anjo ou fez de seu Anjo uma criatura humana. Padre Pio e seu Anjo da Guarda são tão intimamente ligados um com o outro que é impossível separá-los" (Ibid., 21 e 119).
"ENVIA-ME TEU ANJO"
Este relacionamento com seu Anjo da Guarda e com os outros Anjos influenciará muito a maneira como Padre Pio exercerá seu sacerdócio. Os Anjos tornaram-se quase como o seu braço prolongado. Aos seus filhos espirituais que lhe perguntaram muitas vezes: "Padre, o que devo fazer quando vou precisar de sua oração e não posso chegar para falar com o senhor?", ele deu a resposta: "Se não puderes vir, envia-me teu Anjo da Guarda. Ele irá trazer-me a mensagem e eu vou ajudar-te tanto quanto puder" (Ibid.,85).
E muitas pessoas em perigos e dificuldades enviaram-lhe seus Anjos da Guarda e receberam ajuda imediata. Um dia duas moças de San Giovanni Rotondo conversavam à noite e começaram a falar também sobre Padre Pio, que ele parecia ter uma relação especial com os Anjos da Guarda. Então decidiram enviar-lhe seus Anjos da Guarda. Uma falou: "Vou enviar-lhe meu Anjo da Guarda pedindo que ele cure meu tio Frederico" e a outra: "e eu vou enviar-lhe meu Anjo para pedir a cura de minha prima". No dia seguinte foram à Missa do Padre Pio e depois da Missa entraram na Sacristia para receber a bênção do Santo. Mas elas ficaram surpreendidas quando encontraram o Padre Pio zangado com elas. Perguntando pela razão, receberam a resposta: "Vocês me deixaram acordado toda noite". Então falou a uma: "Primeiro você me enviou seu Anjo da Guarda pedindo a cura de seu tio Frederico. E depois você me enviou o seu para pedir a cura de sua prima", falou ele à outra. "E fizeram assim toda a noite. Não consegui dormir nada!" (Ibid., 102).
Aconteceu também que alguém enviou o Anjo da Guarda para o Padre Pio mas depois desconfiou se este realmente foi ao Padre para levar-lhe os pedidos. Por isso perguntaram-lhe na próxima oportunidade se o Anjo havia trazido realmente a notícia. Então a resposta foi: "Você pensa que ele é tão desobediente como você? O Anjo é obediente e cheio de solicitude" (Esta é a hora dos Anjos, 126). Uma vez lhe foi perguntado: "Vossa reverendíssima ouve realmente o que lhe mando dizer pelo Anjo da Guarda?" e o Padre retrucou: "Mas então julgas que estou surdo?" (Ibid.).
"ELE DEVE VIAJAR"
Mas o Padre Pio também enviou seu próprio Anjo da Guarda às pessoas que precisavam de sua ajuda. Senhor Biavati pôde experimentar isso quando viajou com seu carro de Florença até San Giovanni Rotondo para assistir à Missa e confessar-se com Padre Pio. Mas como a viagem demorou muito mais do que ele havia pensado, ele ficou muito cansado e ainda lhe faltavam mais ou menos três horas de viagem. Por isso, parou num restaurante e tomou uns três copos de café, para depois continuar sua viagem. Só que depois desta parada ele não sabia mais nada, a não ser que havia ligado o carro e começado a andar. Quando seu carro passou diante do convento dos Capuchinhos em San Giovanni Rotondo, uma voz o acordou dizendo: "Vai, agora é você quem deve dirigir!". Podemos imaginar-nos como ele ficou admirado com aquele acontecimento. Quando no próximo dia, depois da Missa, contou o fato ao Padre Pio e perguntou o que tinha acontecido, pois ele não se lembrava de nada desta viagem, o Padre Pio lhe respondeu com um sorriso: "Você tem razão. Estava dormindo todo caminho e meu Anjo da Guarda dirigiu seu carro" (Ibid., 106).
O Padre que de manhã ajudava a Padre Pio a se levantar e, depois da Missa, a ir ao confessionário tinha um sono muito profundo e, por isso, muitas vezes não acordava com seu despertador. Então sempre alguém batia na sua porta e ele acordava. Mas ao verificar quem tinha batido, nunca via ninguém. Isso aconteceu muitas vezes: ele acordava não com o despertador, mas quando este desconhecido batia na sua porta. Uma vez, porém, ninguém bateu e ele se atrasou. Pediu depois perdão ao Padre Pio, e disse também que não sabia por que desta vez ninguém batera na sua porta. Então o Padre Pio disse: "Eu te entendo. Mas você pensa que eu vou enviar-te meu Anjo da Guarda cada dia para te acordar? Vai ser melhor para você comprar um novo despertador" (Ibid., 55).
Um dia, depois de ter atendido muitas confissões, o Padre Pio estava mais cansado do que nunca e parecia sofrer muito. Então o Padre Gabriel, um dos dois Padres que o acompanharam a cela, falou-lhe: "Com certeza o repouso da noite lhe fará bem e nós vamos pedir também ao seu Anjo da Guarda para o confortar". Mas o Padre Pio parou no caminho e gritou: "Mas o que você está dizendo? ... Ele deve viajar!" "Como, o seu Anjo da Guarda deve viajar?" "Claro!" respondeu o Santo. E ficou um silêncio de admiração. Mais tarde o Padre Gabriel perguntou: "Mas Padre, quando o seu Anjo está viajando para resgatar os pecadores e confortar os doentes, o senhor vai permitir que os nossos Anjos da Guarda ocupem o lugar do seu?" "Nunca", respondeu o Santo,"porque é correto quando cada Anjo fica com seu próprio fardo" (Ibid., 68s).
DEFESA CONTRA SATANÁS
Mas não foi somente a outras pessoas que o Anjo da Guarda ajudou. O próprio Padre Pio muitas vezes podia gozar da ajuda do seu "Companheiro de infância" principalmente nas suas lutas contra os ataques incessantes do diabo. Por isso, ele recomendou sempre aos seus filhos que se colocassem na presença de seu Anjo da Guarda. Numa carta a Rafaelina, uma de suas filhas espirituais que morreu entregando sua como vítima a Deus em favor do Padre Pio, ele escreveu: "Ó Rafaelina, que consolação é saber que estamos sempre sob os cuidados de um espírito celestial que nunca nos abandona, mesmo quando desagradamos a Deus! Como é doce esta verdade para o fiel! De quem pode ter medo a alma devota que se esforça por amar a Jesus, se tem sempre perto de si um guerreiro tão grande? Não foi ele um dos muitos que, junto com São Miguel, defenderam a glória de Deus contra Satanás e contra todos os espíritos rebeldes, e finalmente os arrastaram para a perdição e os prenderam no inferno? Bom, sabe que ele (o Anjo da Guarda) ainda está muito forte contra Satanás e seus sequazes. Seu amor não diminuiu e ele nunca falhará em nos defender. Desenvolva, pois, o belo costume de pensar sempre nele; que bem perto de nós está um espírito celestial que, do berço até o túmulo, não nos abandona nem um instante sequer; guia-nos, protege-nos como um amigo, um irmão. Ele sempre vai ser uma consolação para nós, especialmente nos momentos mais tristes" (Ibid., 115s). Atrás destas palavras está a experiência cotidiana de Padre Pio.
"ESTOU SEMPRE CONTIGO"
Mas às vezes parece que seu Anjo demorou um pouco em ajudá-lo. Até temos um acontecimento em que seu Anjo da Guarda aparentemente recusou-se a ajudar e que Padre Pio depois contou numa carta ao seu diretor espiritual, o Padre Agostinho:"Portanto eu não posso contar-lhe como me batem estes malvados. Às vezes, sinto que estou perto da morte. Sábado, pensei que eles realmente queriam acabar comigo. Não sabia mais a qual dos Santos deveria apelar; voltei-me para o meu Anjo e, depois de me fazer esperar por alguns momentos, ele, finalmente, apareceu, pairando ao meu redor, cantando hinos à Divina Majestade com sua voz angelical. Então seguiu-se uma destas cenas ordinárias: gritei para ele para ele severamente por me fazer esperar tanto tempo, já que eu nunca falhei em chamá-lo para socorrer-me. Para puni-lo, não quis olhar para seu rosto, quis manter distância, fugir e esconder-me dele. Mas ele, pobre companheiro, aproximou-se de mim, quase chorando. Segurou-me, para que, levantando meu rosto, eu pudesse olhar nos seus olhos e ver que estava completamente aflito..."
Então o Anjo, chorando, disse-lhe: "Eu estou sempre perto de ti, meu querido jovem. Pairo constantemente ao teu redor com aquela afeição que estimula a tua gratidão para com o Amado do teu coração. Meu afeto por ti nunca se extinguirá, nem com a tua morte. Sei que teu generoso coração sempre bate pelo nosso mútuo Amado. Cruzarias toda montanha e todo deserto para encontrá-l'O, para vê-l'O de novo, abraçá-l'O novamente nesses momentos extremos e pedir-lhe para quebrar de uma só vez essas cadeias que te mantêm preso ao corpo,... para não sofreres mais ficando longe d'Ele, e para que Ele te levasse conSigo. Gostarias de dizer-lhe que separado d'Ele juntas mais dor do que alegria. Gostarias desta grande graça, mas não fiques aborrecido,... pois deves esperar um pouco mais. Por agora Ele não pode dar-te nada mais do que o raio de uma estrela, o perfume de uma flor, o som de uma harpa, a carícia do vento. Mas não cesses de pedir-Lhe isso constantemente porque Seu supremo gozo é ter-te conSigo. E embora Ele não possa satisfazer teu desejo agora, pois a Providência quis que ficasses um pouco mais no exílio, Ele, finalmente, te satisfará, pelo menos, em parte".
E Padre Pio acrescentou na carta: "Pobre querido Anjo! Ele é tão bom! Será que vai conseguir fazer-me entender a grave obrigação da gratidão?" (Epistolario I, San Giovanni Rotondo 1987, Lett. 102, 311-312).
"OS ANJOS NOS INVEJAM DE UMA SÓ COISA: QUE ELES NÃO PODEM SOFRER"
Aqui vemos que o Anjo não nos livra da Cruz, mas sente e compadece conosco. Mas também se alegra com nossas dores, enquanto as aceitamos dignamente para a glória de DEUS. Outra vez quando o Padre Pio foi muito atacado pelos demônios , o Anjo lhe disse: "Agradece a Jesus por te estar tratando como a um escolhido para subir o caminho escarpado para o Calvário. Alma confiada por Jesus aos meus cuidados, eu guardo com alegria e profunda comoção este comportamento de Jesus contigo. Acaso pensas que estaria tão feliz se não te visse tão maltratado? Eu, que em santo amor desejo teu bem, começo a jubilar mais e mais ao ver-te neste estado. Jesus permite estes assaltos do diabo porque Sua compaixão te faz querido a Ele e Ele quer que te pareças com ELE no deserto, no Jardim (das Oliveiras) e na Cruz" (Ibid., 330-331).
Isso combina muito bem com o que o Padre Pio disse uma vez: "Os Anjos nos invejam de uma só coisa: que eles não podem sofrer por DEUS" (Send me your Angel, 65).
Queremos nos deixar inspirar por este grande Santo e pôr em prática os seus conselhos a respeito dos Anjos. E mesmo que ele não viva mais e, por isso, não possamos enviar mais os nossos Anjos da Guarda a San Giovanni Rotondo, não quer dizer que acabou a grande ajuda deste grandioso Santo. Muito mais podemos enviar agora os nossos Anjos da Guarda para o Padre Pio no céu, confiando que ele tem agora ainda mais poder para nos ajudar.